Se o assunto não fosse intensamente dramático com alguma tendência para poder tornar-se trágico, a informação que entre muitas outras a televisão nos trouxe podia ter o sabor de uma piada pelo absurdo: o presidente da Colômbia fez saber que não reconheceria o resultado das eleições venezuelanas para uma assembleia constituinte. É mais que óbvio que o presidente colombiano não tem nada a ver com as eleições realizadas no país vizinho e também que a expressão pública da sua opinião pessoal constitui uma ingerência reles nas questões internas da Venezuela, mas a ofensiva geral, mediática mas não só (pois já há muito que é também económica e não se dispensa de ir até ao ponto de ameaças militares) desencadeada contra o país de Hugo Chavez, parece já permitir todas as desvergonhas. E no larguíssimo consenso de hostilizações, manipulação informativa, falsificação de dados, espectacular apoio mediático às perturbações internas que não é difícil adivinhar terem dólares por carburante, bem se pode dizer que a televisão portuguesa tem vindo a ter o seu lugar no quadro dos «media» euroatlânticos. O que, naturalmente indigna quem não esquece o que a chamada revolução bolivariana representa como passo em frente para a libertação de toda a América Latina da exploração e da opressão por parte do gigantesco e inescrupuloso aparelho capitalista dos Estados Unidos.
Ao lado
Não é preciso estar especialmente atento nem ser dotado de uma invulgar lucidez para perceber que o grande receio norte-americano foi, e continua a ser, o de que a Venezuela de Hugo Chavez, e agora de Nicolás Maduro e seus camaradas, surjam no quadro sul-americano como um vitorioso contágio de Cuba, a grande resistente, e por essa via contaminem outros países da região, quase todos já dando aliás claros sinais inquietantes. Contra esse risco decretaram os «States» uma espécie de mobilização geral que já deu óbvios resultados políticos em lugares como o Brasil e a Argentina, mas não só, e esse é um fenómeno normal, digamos assim. O que já poderá surpreender um pouco, ou talvez não, é que toda a grande comunicação social «atlântica» tenha desencadeado uma ofensiva propagandística que só encontra precedentes na permanente difamação de Cuba: é como uma matilha de cães ferozes que tenham sido instigados contra uma presa que teima em sobreviver. Que diariamente, quase a qualquer hora, encontremos nos nossos televisores exemplos dessa perseguição infame contra um regime que apenas quer prosseguir um caminho de justiça social, de honra e patriotismo, de cujo acerto já aliás deu em passado recente abundantes provas públicas (é ir ler os dados estatísticos aceites por organismos internacionais de isenção acima de qualquer suspeita), é uma vergonha que recai um pouco sobre todos nós, telespectadores e cidadãos portugueses. Mas bem sabemos que a prestação de serviços destes a quem pode encomendá-los e coordená-los tem um preço que é pago. E, ao lado, um caixote de lixo onde são lançadas as regras do pluralismo informativo que apenas servem para decoração em momentos de solenidade formal.