1975 – Operação Colombo

A 24 de Julho de 1975, o diário chi­leno La Se­gunda tinha como man­chete «Ex­ter­mi­nados Como Ratos». A no­tícia re­la­tava con­frontos in­ternos entre ale­gados mem­bros clan­des­tinos do Mo­vi­mento de Es­querda Re­vo­lu­ci­o­nária que se te­riam ma­tado uns aos ou­tros, al­gures na Ar­gen­tina. A peça ci­tava duas «fontes fi­de­dignas»: a re­vista ar­gen­tina Lea, que trazia uma lista de 60 nomes de mi­li­tantes as­sas­si­nados, e o diário bra­si­leiro Novo O Dia, que re­por­tava factos idên­ticos mas ocor­ridos noutro local e di­vul­gava uma lista com 59 nomes, di­fe­rentes dos da Lea. Só 15 anos de­pois se des­co­briu que os 119 chi­lenos nunca sairam do Chile, que foram as­sas­si­nados, sim, mas pela di­ta­dura de Pi­no­chet du­rante a Ope­ração Co­lombo, e que a «no­tícia» que fez a man­chete do La Se­gunda – per­ten­cente ao Grupo El Mer­curio, apoi­ante do golpe e a di­ta­dura até ao fim – fazia parte de uma cam­panha para mas­carar os mas­sa­cres que desde 11 Se­tembro de 1973 di­zi­mavam co­mu­nistas, so­ci­a­listas e ou­tros de­mo­cratas. Quer a Lea quer o Novo O Dia só ti­veram uma edição para fazer mon­tagem. A ex­pressão fake news (no­tí­cias falsas) é nova, mas não a prá­tica. A Ope­ração Co­lombo foi da res­pon­sa­bi­li­dade da Di­reção de In­te­li­gência Na­ci­onal, co­man­dada pelo ge­neral Con­treras, que afir­mava ter como missão «ex­tirpar e eli­minar o ex­tre­mismo mar­xista».