Jaime Cedano, representante em Espanha do Partido Comunista Colombiano

«Promover a mais ampla unidade por uma paz justa»

De­pois do acordo de paz na Colômbia, quais são os grandes de­sa­fios que iden­ti­fica o Par­tido Co­mu­nista Co­lom­biano?

A guer­rilha já não existe en­quanto tal, é agora um par­tido po­lí­tico. O acordo está no papel, falta agora im­ple­mentá-lo, levá-lo à prá­tica.

O go­verno e a di­reita co­lom­biana tentam mudar os termos do acordo. Como? Quando chega o mo­mento de aprovar as leis que tra­duzem par­celas do acordo, que as ma­te­ri­a­lizam e exe­cutam, pro­curam re­ne­go­ciar os seus termos com o ob­jec­tivo de fazer re­cuar os avanços de­mo­crá­ticos nele ins­critos.

A di­reita co­lom­biana re­siste à mu­dança, so­bre­tudo a uma re­forma po­lí­tica efec­tiva, ampla, de­mo­crá­tica. Re­siste também à con­so­li­dação de um novo ce­nário no que toca à posse e uso da terra. Pre­tendem, no fundo, manter os ve­lhos pri­vi­lé­gios do re­gime até agora em vigor.

A grande ba­talha que temos pela frente, por­tanto, prende-se com a con­cre­ti­zação do acordo de paz. Sa­bemos que vai ser uma luta muito dura e não menos pro­lon­gada, en­vol­vendo o Par­tido Co­mu­nista, o novo par­tido po­lí­tico em que se trans­for­maram as Forças Ar­madas re­vo­lu­ci­o­ná­rias da Colômbia – Exér­cito do Povo (FARC-EP) e os mo­vi­mentos so­ciais com in­ter­venção em vá­rios do­mí­nios.

E que papel pre­tende de­sem­pe­nhar neste novo con­texto po­lí­tico e so­cial o Par­tido Co­mu­nista da Colômbia?

O nosso papel, nesta etapa, con­forme foi de­fi­nido pelo con­gresso do PC Co­lom­biano que re­cen­te­mente re­a­li­zámos, é pro­mover a mais ampla uni­dade pos­sível em torno de uma paz justa e du­ra­doura. É essa a nossa pri­o­ri­dade: unir e dar ex­pressão de rua, de massas às rei­vin­di­ca­ções e ob­jec­tivos co­muns con­cretos.

Os co­mu­nistas têm de ser os po­ten­ci­a­dores, os pólos agre­ga­dores da uni­dade po­ruqe con­si­de­ramos que esta é fun­da­mental para que a paz acor­dada não sig­ni­fique so­mente o si­len­ci­a­mento das armas, mas o início da de­mo­cra­ti­zação do país e das ne­ces­sá­rias trans­for­ma­ções eco­nó­mico-so­ciais que o povo re­clama.

De que forma o pro­cesso de pa­ci­fi­cação da Colômbia ajuda as forças pro­gres­sistas e re­vo­lu­ci­o­ná­rias la­tino-ame­ri­canas?

O acordo de paz na Colômbia re­pre­senta a der­rota da po­lí­tica de in­ge­rência e guerra do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano. Que­remos tra­ba­lhar para que este ca­minho não sig­ni­fique apenas a der­rota da es­tra­tégia be­li­cista dos EUA, mas, igual­mente, um im­pulso de­mo­crá­tico e um alento para todos os povos do sub­con­ti­nente que afirmam o di­reito a es­co­lher li­vre­mente o seu des­tino, sem pres­sões ex­ternas e sem ter em conta ou­tros in­te­resses que não os seus e os da res­pec­tiva pá­tria.

Apesar do calar das armas, na Colômbia a re­pressão con­tinua a fazer parte do dia-a-dia...

As coisas não mudam da noite para o dia. A oli­gar­quia, o la­ti­fúndio e os seus mer­ce­ná­rios mantêm muitas das suas prá­ticas e es­tra­tégia. Não têm, porém, a mesma margem de ma­nobra para ac­tuar e jus­ti­ficar ou le­gi­timar a sua acção. As armas ca­laram-se, mas o con­flito não acabou.

De­pois da as­si­na­tura do acordo de paz, da en­trega das armas por parte da guer­rilha, e, agora, da trans­for­mação desta em par­tido po­lí­tico, a po­pu­lação vê mais ni­ti­da­mente que a pa­ci­fi­cação do país é pos­sível e con­creta. A mai­oria re­cusa re­gressar a um pas­sado de vi­o­lência e crimes, o que re­tira es­paço aos sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios da di­reita.

 



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