«Folies Bergères»

Henrique Custódio

Acen­tu­a­da­mente, a ge­ne­ra­li­dade cam­pa­nhas elei­to­rais au­tár­quicas afu­nilam numa es­pécie de A Cam­panha Alegre. A co­lheita di­vide-se em dois grupos, a que po­demos chamar as «Fo­lies» e as «Bergè­rers» – sem des­prezo pelas «lou­curas» nem pelas «pas­toras» nem pelo fa­moso ca­baré pa­ri­si­ense Fo­lies Bergères, que é também uma pa­lha­çada, mas onde se paga bi­lhete a troco de um bom es­pec­tá­culo.

Co­me­çando pelas «Fo­lies», estão nelas uma chusma de co­me­di­antes de pa­ró­quia que fazem rimas nos car­tazes elei­to­rais, uti­lizam can­to­rias a di­vulgar o pró­prio nome, fazem pro­messas de la­deira acima como se fossem bre­jei­rices e uti­lizam quais­quer es­tul­tí­cias que lhes pa­reçam ge­ra­doras de votos.

São os «to­nhos» desta re­frega elei­toral, que ale­gre­mente a trans­formam em feira e a apre­sentam em circo, vindo ge­ral­mente daí in­sig­ni­fi­cantes mo­bi­li­za­ções elec­tivas.

As «bergères» fiam mais fino, por assim dizer, pois pro­curam pas­to­rear as massas como re­ba­nhos a quem passam a mão pelo pêlo, muito pró­ximos e sim­pá­ticos, em­pe­nhados e com sor­risos de betão, sempre pro­mi­tentes e nunca zan­gados, pro­li­fe­rando por cada ter­reola dis­cursos ao País e ra­ra­mente sobre os lo­cais de onde os de­bitam, apon­tando uma con­cen­tração de mal­fei­to­rias aos ad­ver­sá­rios, que des­crevem como um vácuo su­fo­cante onde nada mexe ou, se­quer, res­pira.

As­sunção Cristas, que de­cidiu jogar nestas elei­ções, com a can­di­da­tura por Lisboa, a sua po­sição no CDS, na di­reita, na re­lação de mu­leta com o PSD e, por fim, na au­tar­quia de Lisboa – com que tem pouco a ver –, anda muito di­nâ­mica a dar pa­péis a au­to­mo­bi­listas e a andar de bi­ci­cleta para «com­bater» o «Go­verno das es­querdas unidas» (o slogan é capaz de ainda lhe sair pela cu­latra), en­quanto vai exi­gindo di­a­ri­a­mente a de­missão de mi­nis­tros e ba­jula a ci­dade de Lisboa, sobre a qual de­bita contra o trân­sito e diz coisas sobre a ha­bi­tação, sem re­ferir o que fez contra ela en­quanto go­ver­nante. Anote-se-lhe a vi­va­ci­dade de va­rina uni­ver­si­tária, fi­gura que, não exis­tindo, só pode tornar-se mí­tica, o que lhe fica wag­ne­ri­a­mente a matar, evi­den­te­mente.

Quem de­fi­ni­ti­va­mente não acerta o passo é o «berger» Passos Co­elho, pro­blema que ar­rasta desde que foi apeado do poder.

Em voz de cantor lí­rico e sempre apar­tando o dis­curso às ta­lhadas, o homem in­veste fu­ri­o­sa­mente contra «a ge­rin­gonça», epí­teto onde con­gelou a ac­tual so­lução go­ver­na­tiva e que brande com de­ses­pe­rado acinte. Quanto ao car­dápio de in­sultos, é em função dos as­suntos do dia.

E vai re­gu­lar­mente me­tendo ar­go­ladas, como no pas­sado fim-se-se­mana de novo o fez, ci­tando um co­mu­ni­cado saído no Ex­presso sobre Tancos e que mais nin­guém co­nhece, à se­me­lhança dos sui­cí­dios de Pe­drógão.

Dis­cur­sando sempre em pa­lan­ques au­tár­quicos, o homem nem re­para que nunca fala dos as­suntos de uma au­tar­quia que seja...

 



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