Prémios

Filipe Diniz


Quando An­tonio Ta­jani, pre­si­dente do PE, anun­ciou que o prémio Sakharov de 2017 fora atri­buído à «opo­sição de­mo­crá­tica» ve­ne­zu­e­lana ou­viram-se gar­ga­lhadas na sala. Gar­ga­lhadas que, se eram mi­no­ri­tá­rias aí, são cer­ta­mente mai­o­ri­tá­rias entre os que de­fendem a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana.

Pré­mios desta na­tu­reza têm a sina de ter fre­quen­te­mente os cor­de­li­nhos de­ma­siado à vista. Se acon­tece com o Nobel da Paz, como não havia de su­ceder com este, tendo o PE a na­tu­reza que tem? Mas há que ser justo: na lista dos Nobel da Paz há muitos nomes e en­ti­dades in­tei­ra­mente me­re­ce­doras de res­peito. É certo que o am­bi­ente da guerra-fria de­se­qui­li­brou sig­ni­fi­ca­ti­va­mente a ba­lança. É certo que houve, em vá­rias oca­siões, a sa­lo­mó­nica atri­buição a agre­didos e agres­sores (Kis­singer/​Le Duc Thô; Arafat/​Rabin/​Shimon Peres). É in­só­lito que já tenha sido atri­buído a quatro pre­si­dentes e a um vice-pre­si­dente dos EUA e a três di­ri­gentes is­ra­e­litas. É es­can­da­losa a atri­buição à UE em 2012, numa al­tura em que o seu di­rec­tório (e não só) tinha no cur­rí­culo re­cente a des­truição da Ju­gos­lávia, do Iraque, da Líbia. É cho­cante que nunca tenha sido atri­buído ao Con­selho Mun­dial da Paz e à sua fi­gura mais des­ta­cada du­rante mais de meio sé­culo, Ro­mesh Chandra. Mas ou­tros nomes de pre­mi­ados pres­ti­gi­aram o prémio Nobel da Paz.

Quanto ao prémio Sakharov, a coisa é sig­ni­fi­ca­ti­va­mente mais de­se­qui­li­brada. E até ar­ris­cada. Com uma ma­ni­festa ob­sessão de pre­miar «dis­si­dentes» re­centes (só Cuba já foi brin­dada por três vezes), ar­risca-se a pre­miar al­guma gente a contas com a Jus­tiça por ra­zões que nada têm a ver com «de­mo­cracia» ou «di­reitos hu­manos». Ou trastes po­lí­ticos cujo valor de­mo­crá­tico a vida se en­car­rega de es­cla­recer, como su­cede com Ro­bert Mé­nard, ca­beça da pre­miada ONG Re­pór­teres Sem Fron­teiras, maire pelo Front Na­ti­onal, fas­cista e ra­cista. An­tónio Ta­jani não gostou de ouvir risos no PE. Apesar da vida dura a que a cons­pi­ração im­pe­ri­a­lista o su­jeita, o úl­timo a rir será o povo ve­ne­zu­e­lano.




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