Comentário

Da violenta exploração

João Pimenta Lopes

LUSA

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No final de Outubro, no âmbito de uma delegação da Comissão das Mulheres e da Igualdade de Género do Parlamento Europeu a Portugal, reunimo-nos com representantes do SINTEVECSUL, a propósito da situação na TEXTIL GRAMAX INTERNATIONAL (TGI), em Sacavém. A unidade industrial, a maior do País, foi até ao Verão do ano passado detida pela TRIUMPH, conhecida marca de lingerie. Um ano antes, aquela multinacional, que operou em Sacavém durante décadas, anunciava a venda da unidade ou mesmo o seu encerramento e deslocalização da produção para fora da Europa, buscando mão-de-obra barata. As maravilhas da dita globalização. Entra em cena, adquirindo a fábrica, a GRAMAX Capital AG, um fundo de capital sedeado na Suíça.

Manteve o número de trabalhadores, cerca de 530 (chegaram a ser mais de mil, hoje 463), e o elevado nível de exploração que, infelizmente, é prática comum neste sector. A esmagadora maioria dos trabalhadores são mulheres e praticam-se baixos salários, sendo expressiva a discrepância salarial entre homens e mulheres. Os ritmos de produção são brutais, mercê das fracas condições salariais e da possibilidade de compor rendimentos com recurso a prémios de produção. Na ausência de um salário digno, aquelas mulheres estafam-se a trabalhar para procurar garantir aqueles prémios, pagos ao minuto! Sendo que as trabalhadoras têm ritmos de produção considerados «normais» com 480 minutos por dia (8h de trabalho ininterrupto), algumas conseguem quase duplicar os seus salários duplicando a produção no mesmo período. A violência de tal prática resulta no envelhecimento precoce, em problemas de saúde, entre os quais algumas graves doenças musculosqueléticas.

Hoje, além da violência laboral que lhes é imposta, aquelas mulheres (e homens) deparam-se com outro tipo de violência. A da ameaça de despedimento ou mesmo de encerramento da empresa. A produção reduziu e um número significativo das trabalhadoras está em casa, com reduções substanciais de rendimentos, já que deixaram de receber os prémios de produção.

Há poucos dias, noticiava-se que a GRAMAX, através da TGI adquiria a HUIT, uma marca de lingerie francesa, com produção, anunciada, em Portugal, o que não estará desligado do anúncio de uma reestruturação que vise o aumento da produção e alteração do modelo de negócio. Este filme é já conhecido de outros casos. Neste traduz-se no anúncio do despedimento de 150 trabalhadores, o que motivou já uma firme reacção do PCP nos órgãos autárquicos de Loures, com a aprovação de uma moção a rejeitar tal caminho. Estará na mão das trabalhadoras, como há um ano, a luta pela manutenção dos postos de trabalho e pela dignidade no trabalho.

Esta realidade é a demonstração, como recentemente o PCP afirmou a propósito do dia internacional para a eliminação da violência sobre as mulheres, que o combate à violência é inseparável do combate às injustiças e desigualdades e pela efectivação dos direitos das mulheres na lei e na vida, garantindo o direito ao trabalho com direitos como garante da sua autonomia económica. Tal só é possível no quadro de uma ruptura com as políticas de direita e pela adopção da política patriótica e de esquerda que o PCP propõe ao povo português.




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