Em greve por CTT públicos com futuro

LUTA Com a uni­dade e a de­ter­mi­nação dos tra­ba­lha­dores e com a in­ter­venção con­se­quente e per­sis­tente do PCP, ganha força a exi­gência de re­versão da pri­va­ti­zação dos CTT, ob­jec­tivo prin­cipal da greve.

A luta tem evi­tado maior de­gra­dação

É nesta al­tura que a ad­mi­nis­tração e os CTT «sentem mais os efeitos da greve» e «não querem lutas nem greves», e é também agora que se vai «falar mais na greve, na si­tu­ação da de­gra­dação do ser­viço e nos postos de tra­balho em pe­rigo».

Foi assim que o Sin­di­cato Na­ci­onal dos Tra­ba­lha­dores dos Cor­reios e Te­le­co­mu­ni­ca­ções ex­plicou, num co­mu­ni­cado de dia 15, o facto de ter con­vo­cado greve para as vés­peras do Natal (21 e 22 de De­zembro).

Ao Avante!, o Se­cre­tário-geral do SNTCT disse an­te­ontem que, nas idas aos lo­cais de tra­balho du­rante a pre­pa­ração da greve, os di­ri­gentes sin­di­cais ve­ri­fi­caram que os tra­ba­lha­dores estão dis­postos a fazer greve e notou que a exi­gência de re­versão da pri­va­ti­zação tem agora muito maior acei­tação do que há três anos. Victor Nar­ciso disse que este apoio se ex­pressou também no au­mento do nú­mero de as­si­na­turas para a pe­tição que o sin­di­cato está a pro­mover e que pre­tende en­tregar em Ja­neiro no Par­la­mento.

Os mo­tivos da greve foram ex­pla­nados em inú­meras reu­niões e con­tactos menos for­mais, que nestas três se­manas ti­veram lugar em es­ta­ções de Cor­reios, cen­tros de trans­porte, de tra­ta­mento e de dis­tri­buição de cor­res­pon­dência e de en­co­mendas, por todo o País. Foram apre­sen­tados logo que o sin­di­cato da Fec­trans/​CGTP-IN anun­ciou a pa­ra­li­sação, em co­mu­ni­cado, no dia 5 (como na al­tura no­ti­ciámos).

 

Er­ra­dicar a pri­va­ti­zação

So­bressai, de entre as ra­zões para a greve, o des­con­ten­ta­mento e a in­qui­e­tação dos tra­ba­lha­dores, a exi­gência de re­versão da pri­va­ti­zação. O SNTCT con­si­dera ser a ali­e­nação da em­presa pú­blica a prin­cipal causa dos pro­blemas cada vez mais graves que afectam os tra­ba­lha­dores e os utentes dos CTT.

A causa mais pró­xima do pro­testo é a «re­or­ga­ni­zação» que a ad­mi­nis­tração de­cidiu en­cetar, em re­acção aos re­sul­tados fi­nan­ceiros da em­presa nos pri­meiros nove meses de 2017. O lucro foi su­pe­rior a 19 mi­lhões de euros, mas re­pre­senta menos 58 por cento do que os 46 mi­lhões re­gis­tados um ano antes. Para «so­lução», a ad­mi­nis­tração pre­tendia li­quidar mais de 300 postos de tra­balho e en­cerrar mais es­ta­ções de Cor­reios e en­tregar a ter­ceiros a ex­plo­ração de ou­tras. An­te­ontem foi anun­ciada a in­tenção de des­pedir mais de 800.

Mas foi por este ca­minho que os CTT che­garam à ameaça de des­truição que hoje so­frem. Lembra o sin­di­cato que «desde a pré-pri­va­ti­zação dos CTT foram en­cer­radas cen­tenas de es­ta­ções de Cor­reio e foram eli­mi­nadas muitas cen­tenas de postos de tra­balho», mo­tivos por que «os atrasos na dis­tri­buição que podem ir até mais 15 dias», «o cor­reio é dis­tri­buído muitas vezes apenas uma vez por se­mana, as filas de es­pera nas es­ta­ções atingem muitas vezes mais de uma hora e no tra­ta­mento de cor­reio há muitos postos de tra­balho por ocupar», en­quanto «nos trans­portes al­te­raram as es­calas e os cir­cuitos, pro­vo­cando atrasos nas che­gadas aos cen­tros de Dis­tri­buição Postal e pre­ju­di­cando os tra­ba­lha­dores no seu des­canso diário e na sua vida fa­mi­liar». A falta de pes­soal no tra­ta­mento é com­pro­vado pelo nú­mero de horas extra efec­tu­adas.

Esta evo­lução, acusa o SNTCT no co­mu­ni­cado, de­corre do papel atri­buído pelos ac­ci­o­nistas ao ser­viço uni­versal de cor­reios, a cargo dos CTT e que, com a pri­va­ti­zação, passou a ser «um mal menor» para quem sempre teve sob mira a li­cença pú­blica que per­mitiu abrir ra­pi­da­mente o Banco CTT pri­vado.

Fazer greve vale a pena, porque «estão em causa os nossos postos de tra­balho», «estão em causa os au­mentos sa­la­riais», «está em causa o ser­viço pú­blico cor­reios» e, «se os CTT con­ti­nu­arem a pro­mover a de­gra­dação do ser­viço uni­versal, pode in­clu­si­va­mente estar em risco o fu­turo dos CTT e dos seus tra­ba­lha­dores». Tal como «as ini­ci­a­tivas que foram já to­madas e o anúncio da luta» con­tri­buíram para que na As­sem­bleia da Re­pú­blica fosse dis­cu­tida a si­tu­ação na em­presa e a pres­tação do ser­viço postal uni­versal, a greve «cer­ta­mente que vai obrigar quem gere os CTT a pensar pelo menos duas vezes antes de con­ti­nuar com este mo­delo de gestão».

 «A  de­ter­mi­nação dos tra­ba­lha­dores será de­ci­siva», con­clui o SNTCT.

 

PCP saúda a luta

Só a or­ga­ni­zação, a uni­dade e a luta dos tra­ba­lha­dores con­se­guirão travar esta nova ofen­siva, sa­li­enta-se num co­mu­ni­cado do PCP aos tra­ba­lha­dores das vá­rias em­presas dos CTT. O Par­tido as­si­nala que os ac­ci­o­nistas e os ad­mi­nis­tra­dores não vão parar de sugar a em­presa, de es­premer os utentes e os tra­ba­lha­dores, mesmo que isso im­plique a des­truição dos CTT.

A pro­pó­sito da greve de 21 e 22 de De­zembro, o PCP saudou aqueles que con­ti­nuam a acre­ditar nos CTT, na pos­si­bi­li­dade e ne­ces­si­dade de travar a de­gra­dação da em­presa, das con­di­ções de tra­balho e do ser­viço pú­blico postal. No co­mu­ni­cado, re­corda-se que têm sido os tra­ba­lha­dores dos CTT quem tem evi­tado uma ainda maior de­gra­dação.

 

AR pro­cura al­ter­na­tivas ao crime

«As al­ter­na­tivas de outra na­tu­reza que se co­locam, de uma forma in­con­tor­nável, são as me­didas que têm de ser to­madas para re­verter esse ne­gócio cri­mi­noso da pri­va­ti­zação dos CTT», disse Bruno Dias, de­pu­tado do PCP, no dia 15, sexta-feira, quando foram dis­cu­tidos no ple­nário da As­sem­bleia da Re­pú­blica os pro­jectos de re­so­lução do PCP, do PS, do PEV e do BE sobre a si­tu­ação na em­presa e me­didas a re­co­mendar ao Go­verno.

«A gestão pri­vada dos CTT está a des­ca­pi­ta­lizar a em­presa, a ali­enar pa­tri­mónio, a de­gradar o ser­viço a ní­veis es­can­da­losos», acusou o de­pu­tado co­mu­nista, ci­tando factos sig­ni­fi­ca­tivos: «A ta­rifa do cor­reio normal au­mentou 47 por cento desde a pri­va­ti­zação», «entre 2009 e 2016 en­cer­raram 564 es­ta­ções e postos de cor­reios», «largas cen­tenas de postos de tra­balho foram des­truídos», «o cor­reio de­mora hoje mais tempo a chegar ao des­tino do que de­mo­rava há trinta anos».

«Não po­demos con­cordar que o ca­minho nesta ma­téria seja re­tirar aos CTT o ser­viço pú­blico de cor­reios», pois «o pro­blema cen­tral não é o con­trato de con­cessão», «é a pri­va­ti­zação». Por este mo­tivo, o PCP votou contra a ini­ci­a­tiva do BE. Mas, no pró­prio dia 15, o PS al­terou a sua pro­posta, para ad­mitir «as al­ter­na­tivas, de outra na­tu­reza, que se co­locam», para além das op­ções quanto ao con­trato de con­cessão do ser­viço postal uni­versal. Vo­tando fa­vo­ra­vel­mente este texto, o Par­tido de­clarou que «é pre­ciso trazer os CTT à gestão pú­blica, para re­tomar o in­ves­ti­mento e o re­forço da ca­pa­ci­dade de res­posta dos seus ser­viços». Bruno Dias ex­plicou que esta é a pro­posta do PCP, «não de forma sú­bita, não como um acto, mas sim como um pro­cesso, que tem de ser pre­pa­rado e or­ga­ni­zado, mas que não pode con­ti­nuar a ser adiado e muito menos ig­no­rado».




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