- Nº 2303 (2018/01/18)

Produzir mais para o País avançar

Em Foco

MOIMENTA DA BEIRA Portugal tem condições para criar mais emprego e riqueza, com reflexos no combate a défices e na promoção da coesão económica e social do território, concluiu-se da visita de Jerónimo de Sousa a Moimenta da Beira, sábado, 13.

Na terra onde a maçã é rainha, a visita do Secretário-geral do Partido permitiu «descascar» potencialidades de desenvolvimento do interior cujo aproveitamento é, mais do que uma possibilidade real, uma exigência para o País. Em Moimenta da Beira situa-se a Cooperativa Agrícola do Távora. Foi lá que começou a jornada.

À espera do dirigente comunista para a visita estavam dezenas de produtores locais, a esmagadora maioria (senão todos) associados daquela organização. Esse foi, aliás, um aspecto sublinhado por Jerónimo de Sousa em declarações no final do périplo: a força e capacitação criadas quando homens e mulheres da lavoura se unem com objectivos comuns, ganhando escala e construindo condições e instrumentos de transformação e venda dos respectivos produtos.

O cicerone da visita foi João Silva. Enérgico, este ex-professor de educação física e actual presidente da Cooperativa evidenciou a objectividade, o dinamismo e a paixão responsáveis pelo crescimento daquela estrutura e pela manutenção da vitalidade do mundo rural adjacente.

Entre instalações e equipamentos mais antigos e outros requalificados ou mesmo novos, João Silva mostrou os ciclos da produção de vinho e de diversos tipos de maçã. A bravo-de-esmolfe, autóctone, é a pérola de polpa e casca.

O Douro Sul, com destaque para Moimenta da Beira, assegura metade da produção de maçã em território nacional. Ainda assim, a satisfação das necessidades impõe a importação de 50 por cento da maçã que se consome em Portugal.

Podia ser de outro modo, concordaram João Silva e Jerónimo de Sousa, com o assentimento dos presentes. O forte investimento que tem vindo a ser feito pela Cooperativa Agrícola do Távora – sobressaindo as câmaras de conservação a frio ou em atmosfera dinâmica, estas últimas permitindo uma conservação mais prolongada e com menos custos, incluindo os ambientais – merecia mais e melhores frutos, particularmente para os produtores.

Persistem porém entraves à expansão do negócio, os quais se podem sintetizar na ausência de políticas centrais que, em vários domínios, promovam preços justos, o aumento da produção e a fixação de população pela criação de emprego, como, aliás, referiu o Secretário-geral do PCP. Lembrou ainda a necessidade de avançar com as barragens nas serras da Nave e da Lapa, essenciais para os pomares e vinhas que conservam a raiz para que o desenvolvimento da região frutifique.

Terras do Demo

Os pecados originais apontados à falta de apoios na produção de maçã repetem-se no que toca à fileira do vinho, lamentou o presidente da Cooperativa que garante mais de 70 postos de trabalho directos e que, «em tantos anos, nunca faltou ao pagamento a ninguém». Além do mais, a Cooperativa Agrícola do Távora «já conseguiu recuperar 600 hectares de vinha», explicou João Silva.

Entre os rios Douro e Dão, a Região Demarcada do Távora-Varosa caracteriza-se por condições edafoclimáticas singulares. A Cooperativa Agrícola é uma das produtoras de vinho local. «Malhadinhas» e «Terras do Demo», títulos de obras literárias de Aquilino Ribeiro, natural de Moimenta da Beira, são também marcas que têm granjeado sucesso e acumulado prestígio, designadamente na gama dos espumantes, existindo oferta de qualidade para palatos mais apreciadores da suavidade como para os que preferem notas mais graníticas.

Contudo, o que tem sobejado em determinação e inovação aos produtores e à sua associação para avançar e crescer, falta em investimentos e estímulos públicos. Bem podiam governos e governantes aprender com o povo serrano e ajudá-lo «na sua labuta para se libertar de todos os grilhões», contribuindo para que estas não continuem a ser as «”Terras do Demo” de que nos falava o nosso ilustre escritor», aludiu Jerónimo de Sousa já no almoço que se seguiu à visita à Cooperativa.

Questão central

Perante cerca de duas centenas de pessoas que encheram o refeitório da Escola Secundária de Moimenta da Beira, o Secretário-geral do PCP interveio reclamando para o Partido um papel central na concretização de medidas de recuperação de direitos e rendimentos nesta nova fase da vida nacional. «Avanços e medidas que só não vão mais longe porque o Governo do PS se mantém amarrado a opções e compromissos que limitam e impedem uma resposta mais substantiva aos problemas estruturais do País», salientou.

Estando no entanto numa zona que é «o espelho de um interior a que hoje podíamos chamar terras do abandono», Jerónimo de Sousa cerrou críticas «à política de direita de sucessivos governos» sobre a matéria.

«É caso para perguntar, aos que hoje estão no Governo e se multiplicam em anúncios de milhões e mais milhões, numa trapalhada monumental em que ninguém se entende ou sabe o que vai acontecer, e aos que, no PSD e CDS, apostados em limpar a sua acção desastrosa, designadamente ao nível da floresta, e em satisfazer os interesses económicos de que são representantes, apresentam propostas atrás de propostas, onde estiveram estes anos todos em que a situação se degradou até ao ponto que hoje ninguém desmente?», disse o Secretário-geral do PCP, antes de reafirmar que «uma política de desenvolvimento do interior, exigindo a ruptura com os constrangimentos da política de direita, reclama, mais do que medidas avulso ou boas palavras, uma política patriótica e de esquerda que assuma a defesa da produção nacional e o apoio à pequena e média agricultura, defenda os serviços públicos e as funções sociais do Estado, garanta os investimentos públicos em infra-estruturas essenciais, mobilize as potencialidades e a gestão adequada dos recursos naturais».

 

A estrada da Beira
e a beira da estrada

Jerónimo de Sousa alertou em Moimenta da Beira para a «campanha das forças do grande capital e dos sectores políticos mais conservadores e reaccionários visando paralisar qualquer acção de valorização das condições de vida do povo e do País». Um dos vectores desenrola-se a respeito do financiamento dos partidos, parte de uma linha mais ampla que visa medir todos os partidos e políticos «pela mesma bitola».

A realidade porém é teimosa e no que toca a financiamento o PCP diferencia-se por defender e ter proposto, ao contrário doutros, que «os partidos não podem ser uma dependência do Estado», sendo, aliás, um exemplo porquanto subsiste graças às contribuições dos seus militantes e amigos, referiu o dirigente comunista.

Mas a forma diferenciada de estar na política e os propósitos de tal postura ressaltam, igualmente, quando os trabalhadores de uma unidade produtiva fazem questão de ficar à espera depois do turno para cumprimentar o Secretário-geral dos comunistas portugueses «porque é aquele que nos defende». Ou quando produtores, presidente da Cooperativa Agrícola do Távora e presidente da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, José Ferreira, eleito pelo PS, reconhecem nos comunistas os que «estão nas horas boas como nas más», que «nunca desistem de lutar» e «encontram-se sempre disponíveis para ajudar» a resolver problemas, conforme foi dito, mais do que uma vez, especialmente referenciando o ex-deputado na República Agostinho Lopes (que até era eleito pelo distrito de Braga).

Como diz o povo, não confundam a estrada da Beira com a beira da estrada. 


Factos e dados



Hugo Janeiro (Texto) Jorge Caria (Fotos)