Batem à porta
À entrada de um túnel em Coval, Santa Comba Dão, o Intercidades da Beira Alta descarrilou no passado domingo, atingido por um deslizamento de terras. Não houve feridos, os 75 passageiros foram socorridos com presteza e conduzidos à A. C. R. de Coval e, os que quiseram, seguiram viagem para Lisboa em autocarros.
Trata-se de uma não-história, nos critérios jornalísticos actuais, pois conta um acidente que não causou feridos e os transtornos registados limitaram-se ao atraso.
Mas trata-se mais do que um simples transtorno dos passageiros.
Em primeiro lugar, a derrocada ocorreu em zona fustigada pelos terríveis incêndios do Verão passado, estando devastados o mato e plantas rasteiras que consolidavam os taludes onde o comboio descarrilou, e que precisamente desabaram com estrondo sobre a linha, à entrada do túnel que é, aliás, um dos vários que pontilham a Linha da Beira Alta.
Poder-se-á dizer que, no quadro da imensa tragédia dos incêndios, não se poderia ter acorrido (também) aos taludes desguarnecidos da Linha da Beira Alta, pelo menos na gigantesca empreitada de auxiliar e reconstruir numa imensidão territorial também gigantesca, nos meses que já decorreram entre as tragédias e os dias de hoje.
Mas o que ninguém nada diz nem responde – a começar pela CP e continuando pelo Governo – é sobre o anúncio e o planeamento apresentado em 2016 e designado «Reconstrução das Ferrovias», como também se informava na reportagem televisiva da SIC que, apesar de tudo, deu conta da ocorrência.
Ou seja: se o compromisso assumido pelo Governo do PS em 2016 de reconstução de ferrovias tivesse sido cumprido, no momento deste acidente em Santa Comba Dão já estariam há muito, no terreno (ou na via) trabalhos profundos que, eventualmente, até teriam evitado este acidente.
Paralelamente, estruturas sindicais e profissionais dos médicos anunciam uma greve de três dias para o mês que vem, acusando o Governo e a tutela do Ministério da Saúde de andarem a prosseguir uma «agenda escondida» que pretende privilegiar cada vez mais os interesses privados na Saúde, em detrimento do Serviço Nacional de Saúde, enquanto protelam e incumprem consecutivamente as decisões prometidas em carreiras, estatutos, horários, reequipamentos técnicos e humanos aos diversos profissionais que trabalham no SNS. Anote-se a grave acusação da «agenda escondida».
Começam a ser promessas, garantias e adiamentos a mais por parte do Governo do PS.
Para um Executivo tão implacável a «cumprir as regras de Bruxelas» e a concretizar tão fielmente os ditames financeiros do Eurogrupo, começa a ser demais o que promete aos trabalhadores portugueses mas incumpre indefinidamente.
A luta dos trabalhadores continua, justificadamente, a bater-lhes à porta.