Resultados da luta na quinzena da hotelaria

REI­VIN­DICAÇÃO Por au­mentos sa­la­riais, para des­blo­quear a con­tra­tação co­lec­tiva e pela re­vo­gação das normas gra­vosas do Có­digo do Tra­balho, ocor­reram ac­ções nos sec­tores da ho­te­laria e da ali­men­tação.

A «quin­zena de luta», pro­mo­vida pela Fe­de­ração dos Sin­di­catos de Agri­cul­tura, Ali­men­tação, Be­bidas, Ho­te­laria e Tu­rismo (Fe­saht/​CGTP-IN), co­meçou a 19 de Março, com a greve nas can­tinas e re­fei­tó­rios, e iria ter­minar ontem, à tarde (de­pois do fecho da nossa edição), com uma con­cen­tração na Praça Luís de Ca­mões, junto ao Mi­nis­tério da Eco­nomia. Foram mar­cadas também con­cen­tra­ções junto a sedes de as­so­ci­a­ções pa­tro­nais (Ah­resp e APIC) e da Au­to­ri­dade para as Con­di­ções do Tra­balho.

No dia 23, o Sin­di­cato da Ho­te­laria do Norte anun­ciou que fora al­can­çado um acordo de prin­cípio com a as­so­ci­ação pa­tronal Aphort, na re­visão do con­trato co­lec­tivo de tra­balho (CCT) da ho­te­laria, res­tau­ração e be­bidas, «de­pois de in­tensas ne­go­ci­a­ções nos úl­timos cinco meses e, em par­ti­cular, nos úl­timos dias».
O con­trato abrange cerca de 70 mil tra­ba­lha­dores, as­se­gu­rando a di­recção do sin­di­cato que «este novo CCT ga­rante, no es­sen­cial, os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e é glo­bal­mente mais fa­vo­rável que o an­te­rior, pre­vendo au­mentos sig­ni­fi­ca­tivos para os di­versos ní­veis da ta­bela sa­la­rial».
Após este acordo, o sin­di­cato de­cidiu sus­pender a acção que con­vo­cara para dia 29, à porta de ho­téis, res­tau­rantes e cafés do Porto.

No dia 28, o Sin­di­cato da Ho­te­laria do Al­garve in­formou que os tra­ba­lha­dores do Hotel Al­tura (con­celho de Castro Marim), de­ci­diram, em ple­nário, sus­pender a greve con­vo­cada para o dia se­guinte, porque a em­presa se mos­trou, «fi­nal­mente, dis­po­nível para re­solver os pro­blemas apon­tados» e co­meçou «a tomar me­didas para cor­rigir al­guns desses pro­blemas».
O sin­di­cato re­feriu al­gumas destas me­didas: com­pro­misso de não atri­buir mais de 17 quartos por cada em­pre­gada de an­dares; re­clas­si­fi­cação de uma tra­ba­lha­dora que «há mais de 10 anos» es­tava clas­si­fi­cada como aprendiz; re­gu­la­ri­zação dos ho­rá­rios no res­tau­rante (onde es­tava a ser im­posta uma in­ter­rupção que sig­ni­fi­cava en­trada às 7h30 e saída às 23h30).
«As coisas estão di­fe­rentes desde que se marcou a greve» e os tra­ba­lha­dores vão «dar algum tempo à ad­mi­nis­tração para re­solver os pro­blemas», mas es­tarão «atentos e, se for ne­ces­sário, irão de­cidir novas formas de luta», adi­antou o sin­di­cato, no­tando que este é mais um caso a provar que, «quando os tra­ba­lha­dores se mo­bi­lizam para re­solver os seus pro­blemas, os re­sul­tados apa­recem».
Mantêm-se ou­tros ob­jec­tivos, que le­varam à con­fir­mação da greve numa reu­nião à porta do hotel, no dia 8 de Março, com des­taque para a me­lhoria dos sa­lá­rios, o valor do tra­balho su­ple­mentar, os pe­nosos ritmos de tra­balho e os ho­rá­rios des­re­gu­lados. O sin­di­cato as­se­gura que vai acom­pa­nhar a si­tu­ação e «apela aos tra­ba­lha­dores para se sin­di­ca­li­zarem e re­for­çarem a sua or­ga­ni­zação».

No dia 31 de Março, foi sus­pensa a greve mar­cada para esse sá­bado no Bingo do Bo­a­vista Fu­tebol Clube, no Porto. O Sin­di­cato da Ho­te­laria do Norte, ao anun­ciar a de­cisão, ex­plicou que a Pe­faco (con­ces­si­o­nária da sala de jogo) «com­pro­meteu-se a pagar pon­tu­al­mente o sa­lário, a pagar o fe­riado de Car­naval em dí­vida, a dar au­mentos sa­la­riais a ne­go­ciar pos­te­ri­or­mente e a voltar à mesa das ne­go­ci­a­ções» para re­visão do acordo de em­presa. Pe­rante estes com­pro­missos, os tra­ba­lha­dores acei­taram sus­pender a greve, «com a con­dição de ne­go­ci­arem os au­mentos sa­la­riais num prazo má­ximo de 30 dias».

Greves e con­cen­tra­ções

Nos bares dos com­boios Alfa Pen­dular, In­ter­ci­dades e in­ter­na­ci­o­nais, con­ces­si­o­nados à Ser­vi­rail (Grupo Ne­wrest), teve muito forte adesão a greve de 29 de Março, por au­mentos sa­la­riais sem perda de di­reitos. Foi sus­pensa a pa­ra­li­sação de 2 de Abril, de­vido ao es­pe­rado im­pacto da greve na Infra-es­tru­turas de Por­tugal.

No dia 22 de Março, com ele­vada adesão, os tra­ba­lha­dores da Re­si­dên­cias Mon­tepio, no Porto, fi­zeram greve e con­cen­traram-se à en­trada da Re­si­dência Breiner, no centro da ci­dade, para exi­girem au­mentos sa­la­riais e cum­pri­mento da con­tra­tação co­lec­tiva, em es­pe­cial no que res­peita a ho­rá­rios, des­canso com­pen­sa­tório, ritmos de tra­balho e «um clima de pressão e as­sédio», como re­feriu o sin­di­cato.

Em Lisboa, o Sin­di­cato da Ho­te­laria do Sul pro­moveu con­cen­tra­ções frente aos ho­téis Co­rinthia (21 de Março), Mar­riott (dia 27) e Roma (dia 28). Para hoje, dia 5, está mar­cada greve no Hos­pital da Cruz Ver­melha Por­tu­guesa.

Du­rante o fim-de-se­mana da Páscoa, por todo o País foram re­a­li­zadas ini­ci­a­tivas junto a es­ta­be­le­ci­mentos da Pou­sadas de Por­tugal (Grupo Pes­tana), por au­mentos sa­la­riais e contra a re­ti­rada de di­reitos.

Na Ba­kery Do­nuts, do Grupo Bimbo, em Mem-Mar­tins (Sintra), os tra­ba­lha­dores or­ga­ni­zados no Sintab de­ci­diram, dia 29, re­a­lizar de 23 a 27 de Abril con­cen­tra­ções diá­rias, das 13 às 18 horas, frente à fá­brica, por au­mentos sa­la­riais.

ACT ofe­rece im­pu­ni­dade

À se­me­lhança do que iria acon­tecer ontem em Lisboa, re­a­lizou-se uma con­cen­tração no dia 29 de Março, no Porto, frente ao Centro Local da Au­to­ri­dade para as Con­di­ções do Tra­balho, para exigir que esta tenha uma in­ter­venção pronta e eficaz, co­er­civa e pe­na­li­za­dora das em­presas in­cum­pri­doras.
O pro­testo se­guiu-se a uma as­sem­bleia de di­ri­gentes e de­le­gados do Sin­di­cato da Ho­te­laria do Norte, onde foi apro­vada uma moção em que se afirma que a ACT «não actua no sector e quando actua tem uma prá­tica auto-re­gu­la­dora, in­for­ma­tiva e não san­ci­o­na­tória, con­tri­buindo, e muito, para o clima de im­pu­ni­dade geral», «em par­ti­cular nos ho­téis, res­tau­rantes, cafés, pas­te­la­rias, can­tinas e si­mi­lares, onde o pa­tro­nato faz tábua rasa dos di­reitos».
No do­cu­mento re­fere-se que, em 2017, o sin­di­cato fez 170 de­nún­cias, mas a ACT deixou 129 sem res­posta. Quanto às 41 res­postas que deu, a ACT de­morou em média 78,2 dias e só le­vantou 12 autos de no­tícia.



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