Ganeses rejeitam base militar dos EUA

Carlos Lopes Pereira

Mi­lhares de pes­soas ma­ni­fes­taram-se nas ruas de Acra, a 28 de Março, contra um acordo mi­litar es­ta­be­le­cido entre os go­vernos do Gana e dos Es­tados Unidos.

O pro­testo po­pular, no­ti­ciado por meios como o jornal Le Monde, a re­vista Jeune Afrique ou a agência Reu­ters, cons­ti­tuiu, se­gundo esses meios, uma pouco ha­bi­tual ini­ci­a­tiva pú­blica de re­púdio à cres­cente pre­sença mi­litar norte-ame­ri­cana na África Oci­dental e em todo o con­ti­nente.

Nos úl­timos anos, a pre­texto de com­bater o «ter­ro­rismo» – a Al-Shebab na So­mália, os grupos li­gados à Al-Qaida e ao «Es­tado Is­lâ­mico» no Sahel, o Boko Haram na Ni­géria e re­gião do lago Chade –, os EUA re­for­çaram o Africom, o seu co­mando mi­litar para África, alar­garam ou ins­ta­laram novas bases mi­li­tares (no Dji­buti, no Níger), in­ten­si­fi­caram os ata­ques aé­reos e ou­tras ope­ra­ções bé­licas (Líbia, So­mália), au­men­taram o nú­mero de tropas no con­ti­nente, in­cluindo forças es­pe­ciais, e mul­ti­pli­caram os laços mi­li­tares com a mai­oria dos es­tados afri­canos (treino, troca de in­for­ma­ções, venda de armas, ma­no­bras con­juntas).

A ma­ni­fes­tação na ca­pital ga­nesa, con­vo­cada pelo prin­cipal par­tido da opo­sição, o Con­gresso De­mo­crá­tico Na­ci­onal, e por ou­tras or­ga­ni­za­ções po­lí­ticas e mo­vi­mentos so­ciais, de­nun­ciou o acordo como um «aten­tado à so­be­rania do país». O con­tro­verso do­cu­mento foi apro­vado dias antes pelo go­verno do pre­si­dente Nana Akufo-Addo, no poder há pouco mais de um ano.

«Trump, leva daqui a tua base mi­litar», «Akufo-Addo não pode vender o Gana», «Go­verno in­com­pe­tente, acordo in­com­pe­tente» – lia-se em al­guns dos dís­ticos em­pu­nhados pelos ma­ni­fes­tantes. O an­te­rior pre­si­dente, John Mahama, não par­ti­cipou do pro­testo mas ex­pressou apoio às «forças de­mo­crá­ticas» que con­testam o acordo «de de­fesa» entre Acra e Washington.

Os dois países des­men­tiram as in­for­ma­ções de que os EUA, ao abrigo do acordo bi­la­teral, pla­neiem ins­talar uma base mi­litar na­quele país da África Oci­dental, o se­gundo maior ex­por­tador afri­cano de ouro, grande pro­dutor mun­dial de cacau e, re­cen­te­mente, também pro­dutor de pe­tróleo.

O pre­si­dente Akufo-Addo foi à te­le­visão ga­rantir que «nunca faria con­ces­sões sobre a so­be­rania do país» mas su­bli­nhou as «di­fi­cul­dades em manter a paz» e a ne­ces­si­dade de «pru­dência», quando vá­rios países vi­zi­nhos do Gana são alvos de aten­tados rei­vin­di­cados por grupos is­la­mitas.

Ao mesmo tempo, a em­bai­xada norte-ame­ri­cana em Acra anun­ciou um «in­ves­ti­mento» de 20 mi­lhões de dó­lares (16,3 mi­lhões de euros) na for­mação e no equi­pa­mento das forças ar­madas ga­nesas.

O acordo prevê que, em exer­cí­cios mi­li­tares con­juntos, a re­a­lizar em 2018, tropas norte-ame­ri­canas e de ou­tros países uti­lizem ins­ta­la­ções em ter­ri­tório ganês, no­me­a­da­mente, ae­ro­portos e infra-es­tru­turas de co­mu­ni­ca­ções.

Nem de pro­pó­sito, Washington anun­ciou a re­a­li­zação, até ao final de Abril, de ma­no­bras mi­li­tares con­juntas entre forças es­pe­ciais dos EUA e de ou­tros países oci­den­tais e afri­canos. Sob o co­mando do Africom, a ini­ci­a­tiva, de­sig­nada Flin­tlock, de­corre em zonas do Níger, Bur­kina Faso e Se­negal, com a par­ti­ci­pação de 1900 mi­li­tares desses países e dos Ca­ma­rões, Chade, Mali, Mau­ri­tânia e Ni­géria e, ainda, dos EUA, Áus­tria, Bél­gica, Ca­nadá, Di­na­marca, Ale­manha, Itália, Ho­landa, No­ruega, Po­lónia, Es­panha e Grã-Bre­tanha.




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