URAP continua a defender a liberdade e a democracia conquistada com Abril


HO­ME­NAGEM O salão nobre da an­tiga Ca­pi­tania de Aveiro, hoje As­sem­bleia Mu­ni­cipal, aco­lheu no sá­bado, 7, uma sessão evo­ca­tiva dos «45 anos do 3.º Con­gresso da Opo­sição De­mo­crá­tica. A ca­minho da li­ber­dade e de­mo­cracia».

 

Em uni­dade se lutou contra o fas­cismo, se lutou pela li­ber­dade

Na ini­ci­a­tiva, or­ga­ni­zada pela União de Re­sis­tentes An­ti­fas­cistas Por­tu­gueses (URAP), cerca de duas cen­tenas de pes­soas evo­caram aquele que foi um mo­mento sin­gular da re­sis­tência à di­ta­dura.

Jorge Sa­ram­bando, que per­tenceu à Co­missão Exe­cu­tiva do 2.º Con­gresso, di­rigiu a sessão.

Pre­servar a me­mória e pers­pec­ticar o fu­turo foram ob­jec­tivos co­muns aos ora­dores. Se­gundo a co­or­de­na­dora da URAP, Ma­rília Vil­la­verde Ca­bral, no 3.º Con­gresso, «de que po­de­remos tirar muitos en­si­na­mentos, des­taca-se a sua grande di­mensão uni­tária». «Em uni­dade se lutou contra o fas­cismo, em uni­dade se lutou contra a guerra co­lo­nial, em uni­dade se lutou pela li­ber­dade», acen­tuou.

No mesmo sen­tido, Vítor Dias, da Co­missão Na­ci­onal do Con­gresso, re­feriu que a «45 anos de dis­tância, me­rece em es­pe­cial ser re­cor­dada, va­lo­ri­zada e ho­me­na­geada a exem­plar e fra­terna uni­dade dos prin­ci­pais sec­tores e cor­rentes po­lí­ticas de­mo­crá­ticos, com des­taque para co­mu­nistas, so­ci­a­listas, ca­tó­licos pro­gres­sistas, de­mo­cratas in­de­pen­dentes e al­gumas per­so­na­li­dades ainda li­gadas ao re­pu­bli­ca­nismo his­tó­rico, afir­mada no 3.º Con­gresso e de­pois co­e­ren­te­mente pro­lon­gada na com­ba­tiva in­ter­venção na farsa elei­toral de Ou­tubro de 1973».

Vítor Dias lem­brou a fi­gura de Mário Sa­cra­mento, «grande obreiro» dos dois con­gressos an­te­ri­ores, «grande per­so­na­li­dade da cul­tura e in­te­lec­tu­a­li­dade por­tu­guesas, um hu­ma­nista exem­plar», para acres­centar que o «3.º Con­gresso foi tri­bu­tário dos 1.º e 2.º con­gressos re­pu­bli­canos de 1957 e 1968, re­a­li­zados com as ca­rac­te­rís­ticas pos­sí­veis em con­cretas e an­te­ri­ores con­jun­turas po­lí­ticas».

O orador lem­brou o mo­mento po­lí­tico que se vivia em Por­tugal à luz da falsa li­be­ra­li­zação lan­çada por Mar­celo Ca­e­tano, que apesar de mudar o nome aos prin­ci­pais ór­gãos re­pres­sivos man­tinha a sua na­tu­reza fas­cista, «a que se so­mava o cada vez mais evi­dente ato­leiro da guerra co­lo­nial em três frentes afri­canas» e as elei­ções le­gis­la­tivas mar­cadas para Ou­tubro desse mesmo ano.

Luta contra o fas­cismo
Também Neto Brandão con­si­derou que o êxito do 3.º Con­gresso se deveu «ao es­pí­rito uni­tário e às mais de 200 teses di­ver­si­fi­cadas apre­sen­tadas», e lem­brou que os pre­sentes que­riam a cons­trução de uma so­ci­e­dade livre e de­mo­crá­tica ao invés de be­ne­fí­cios ou car­rei­rismo po­lí­tico.

An­tónio Re­gala, por seu lado, re­cordou que o Con­gresso de 1973 só foi au­to­ri­zado por ser ano de elei­ções «for­jadas» e como a opo­sição apro­veitou a oca­sião para de­nun­ciar o au­mento do custo de vida, o custo e a in­jus­tiça das guerras co­lo­niais e a po­lí­tica de mo­no­pó­lios. Lem­brou ainda a proi­bição da ro­magem ao tú­mulo de Mário Sa­cra­mento, que a or­ga­ni­zação re­solveu manter, e a carga po­li­cial bár­bara que se lhe se­guiu. «Caiu a más­cara», disse.

Flávio Sardo fez uma re­senha dos con­gressos re­pu­bli­canos de 1957 e 1969 e la­mentou a de­su­nião da opo­sição nessa al­tura, para su­bli­nhar que o de 1973 foi «um exemplo de uni­dade de­mo­crá­tica». O 3.º Con­gresso acon­teceu em moldes di­fe­rentes dos an­te­ri­ores e viu a questão co­lo­nial ser dis­cu­tida, afirmou. Falou ainda da sel­vá­tica re­pressão a con­gres­sistas, jor­na­listas e tran­seuntes. Lem­brou que no pilar do Pro­grama do MFA cons­tavam três ques­tões tra­tadas no con­gresso, como a for­mação de um Es­tado de­mo­crá­tico, a res­tau­ração da de­mo­cracia e o fim da guerra co­lo­nial.

Por­tugal pre­cisa da uni­dade dos de­mo­cratas

Coube a Ma­rília Vil­la­verde Ca­bral ter­minar a sessão evo­ca­tiva do 3.º Con­gresso da Opo­sição De­mo­crá­tica. Falou do con­gresso de 1973, des­creveu o tra­balho que a URAP re­a­liza e de­morou-se na aná­lise da si­tu­ação po­lí­tica na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal na ac­tu­a­li­dade.

«Hoje, em­bora numa re­a­li­dade di­fe­rente, pre­ci­samos muito da uni­dade de todos os de­mo­cratas para que não es­mo­reça a cons­ci­ência an­ti­fas­cista pe­rante os enormes pe­rigos com que o mundo está con­fron­tado», disse, acres­cen­tando que «vi­vemos uma si­tu­ação in­ter­na­ci­onal mar­cada por uma grande ins­ta­bi­li­dade e in­cer­teza, com a acu­mu­lação de ten­sões e pe­rigos de guerra em vá­rias re­giões do Mundo».

Após dar vá­rios exem­plos de países eu­ro­peus onde a ex­trema-di­reita ganha po­si­ções, falou do pe­rigo dos par­tidos na­ci­o­na­listas e do po­pu­lismo para re­ferir que «com di­fe­renças e até con­tra­di­ções entre si, estas forças apro­veitam-se do des­gaste de par­tidos que têm es­tado no poder, no­me­a­da­mente so­ciais-de­mo­cratas, que não re­sol­veram os graves pro­blemas dos seus países, antes os agra­varam com o cres­ci­mento do de­sem­prego e da po­breza, cri­ando na mai­oria dos jo­vens a ideia de um fu­turo sem pers­pec­tivas e sem es­pe­rança».

A co­or­de­na­dora da URAP lem­brou ainda a luta pela de­mo­cracia em al­guns países da Amé­rica La­tina e o golpe de Es­tado que está a acon­tecer pe­rante os nossos olhos no Brasil com a prisão do ex-pre­si­dente Lula da Silva.

«Por­tugal, com os seus quase 900 anos de his­tória, pre­cisa da uni­dade dos de­mo­cratas e pa­tri­otas para de­fender a sua so­be­rania e afirmar na Eu­ropa e no Mundo uma po­lí­tica de paz e co­o­pe­ração, na qual se des­taca o res­peito pela Carta das Na­ções Unidas», as­se­verou.

«Tal como os mem­bros di­ri­gentes do 3.º Con­gresso da Opo­sição De­mo­crá­tica, que aqui ho­me­na­ge­amos, e que com co­ragem e de­ter­mi­nação en­fren­taram o fas­cismo, também nós hoje, em uni­dade, de­fen­de­remos a li­ber­dade e a de­mo­cracia con­quis­tada e apro­fun­dada pela re­vo­lução de Abril», disse a con­cluir.

Ex­po­sição no Museu da Ci­dade até 4 de Maio

No sá­bado, foi ainda inau­gu­rada ex­po­sição «45 anos do 3.º Con­gresso da Opo­sição De­mo­crá­tica», no Museu da Ci­dade, em Aveiro. Para além dos par­ti­ci­pantes da sessão evo­ca­tiva que de­correu an­te­ri­or­mente, assim como de ci­da­dãos avei­renses e ou­tros de­mo­cratas, o mo­mento contou com a par­ti­ci­pação dos pre­si­dentes da União de Fre­gue­sias de Glória e Vera Cruz, da Câ­mara e da As­sem­bleia Mu­ni­cipal de Aveiro.

No final, a URAP, or­ga­ni­za­dora das ce­ri­mó­nias das co­me­mo­ra­ções, en­tregou uma placa evo­ca­tiva aos mem­bros da Co­missão Exe­cu­tiva pre­sentes e a fa­mi­li­ares dos já de­sa­pa­re­cidos. Foram agra­ci­ados Álvaro Seiça Neves (ad­vo­gado), An­tónio Neto Brandão (ad­vo­gado), An­tónio Pinho Re­gala (es­tu­dante), Carlos Candal (ad­vo­gado), Flávio Sardo (ad­vo­gado), João Sa­ra­bando (pu­bli­cista), Jo­a­quim da Sil­veira (ad­vo­gado), Ma­nuel An­drade (ad­vo­gado) e Mário Bastos Ro­dri­gues (es­tu­dante).

 



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