Dois séculos depois, o marxismo é mais actual do que nunca

PRO­JECTO O PCP co­me­morou no sá­bado, 5, em Pe­na­fiel, o se­gundo cen­te­nário do nas­ci­mento de Karl Marx num co­mício em que par­ti­cipou Je­ró­nimo de Sousa. Em des­taque es­teve a ac­tu­a­li­dade do mar­xismo.

PCP de­fende e de­sen­volve o le­gado teó­rico e prá­tico de Marx

«Le­gado, in­ter­venção, luta. Trans­formar o mundo», lia-se na imensa tela ver­melha, com a imagem de Karl Marx, co­lo­cada à en­trada do Pa­vi­lhão de Feiras e Ex­po­si­ções de Pe­na­fiel, onde se re­a­lizou o co­mício do PCP. Lá dentro, no átrio, fun­ci­o­nava uma banca onde se vendia o Avante!, a nova edição do Ma­ni­festo do Par­tido Co­mu­nista e ou­tras obras, como Sa­lário, Preço e Lucro, A Guerra Civil em França, O 18 de Bru­mário de Luís Bo­na­parte e vo­lumes de O Ca­pital. A ex­po­sição pa­tente no local, sobre a vida e a obra do re­vo­lu­ci­o­nário alemão, nas­cido nesse mesmo dia há 200 anos, des­ta­cava o le­gado re­vo­lu­ci­o­nário de Karl Marx e do seu com­pa­nheiro e amigo Fri­e­drich En­gels, e a sua fla­grante – e por vezes cres­cente – ac­tu­a­li­dade.

No palco im­punha-se uma vez mais a grande imagem de Marx e o lema das co­me­mo­ra­ções. Ao centro, uma se­cre­tária an­tiga, de­sar­ru­mada, onde o actor André Levy (do grupo Não Matem o Men­sa­geiro) res­sus­cita Marx, num ex­certo da peça Marx na Baixa – adap­tação do texto ori­ginal de Howard Zinn Marx in Soho. Aí, o autor de O Ca­pital é posto a co­mentar as no­tí­cias pu­bli­cadas na im­prensa por­tu­guesa, no­me­a­da­mente es­ta­tís­ticas sobre de­si­gual­dades, e as suas im­pres­sões da Ave­nida da Li­ber­dade, onde de­sem­pre­gados e men­digos con­vivem com o luxo e a opu­lência: «é a isto que chamam pro­gresso?».

A todo o com­pri­mento da sala, ao alto, duas enormes faixas com le­tras brancas. Numa es­tava ins­crita a di­visa final do Ma­ni­festo, «Pro­le­tá­rios de todos os países, uni-vos!», com a qual os fun­da­dores do so­ci­a­lismo ci­en­tí­fico apon­taram o ca­minho a se­guir para a su­pe­ração re­vo­lu­ci­o­nária do ca­pi­ta­lismo e a cons­trução da nova so­ci­e­dade; na outra des­ta­cava-se os que no Por­tugal do sé­culo XXI as­sumem a luta pelo pro­jecto es­bo­çado por Marx: «PCP – com os tra­ba­lha­dores e o povo, de­mo­cracia e so­ci­a­lismo».

À me­dida que se apro­xi­mava a hora do co­mício iam che­gando dos vá­rios con­ce­lhos do dis­trito do Porto, e para lá dele, os par­ti­ci­pantes. E foram cen­tenas: ho­mens, mu­lheres e jo­vens; ope­rá­rios, tra­ba­lha­dores, in­te­lec­tuais, es­tu­dantes. Todos unidos na ho­me­nagem ao re­vo­lu­ci­o­nário nas­cido em Trier, na Ale­manha, a 5 de Maio de 1818, e, também, na de­ter­mi­nação em pros­se­guir o com­bate pelos ob­jec­tivos su­premos que Marx ma­gis­tral­mente traçou.

Quando se deu início à sessão já a sala trans­bor­dava, com as cen­tenas de ca­deiras cheias e os es­paços la­te­rais to­tal­mente pre­en­chidos, assim como o átrio onde se en­con­travam a ex­po­sição e a banca. Mas não foi só o nú­mero de pre­sentes a marcar o co­mício. O en­tu­si­asmo com que aquelas cen­tenas de pes­soas ali es­ti­veram im­pres­si­onou: do início ao fim, foram muitos os aplausos, os pu­nhos cer­rados, os vivas ao PCP, com o vigor ca­rac­te­rís­tico das gentes do Norte – a provar, como su­bli­nhou Lé­nine, que a re­vo­lução se faz com or­ga­ni­zação, sim, mas também com co­ra­ções ar­dentes. Como aqueles que ba­teram fortes na tarde de sá­bado em Pe­na­fiel.

Des­montar os me­ca­nismos da ex­plo­ração

Na ex­po­sição evo­ca­tiva do se­gundo cen­te­nário do nas­ci­mento de Karl Marx, que es­teve pa­tente, sá­bado, no Parque de Feiras e Ex­po­si­ções de Pe­na­fiel e que pode ser vi­si­tada em vá­rios pontos do País, há um painel de­di­cado àquela que é con­si­de­rada a «pedra an­gular» da te­oria eco­nó­mica mar­xista, a mais-valia. Nela ex­plica-se re­su­mi­da­mente a re­lação so­cial entre o ope­rário e o ca­pi­ta­lista, na qual o pri­meiro só tem para vender a sua força de tra­balho, que o outro compra du­rante um de­ter­mi­nado pe­ríodo me­di­ante o pa­ga­mento de um sa­lário.

Ora, o que Marx cons­tatou é que o ope­rário tra­balha parte desse tempo para re­ceber o que acordou, tra­ba­lhando de­pois, gra­tui­ta­mente, para o ca­pi­ta­lista. Este tra­balho não pago – a mais-valia – é a fonte da ri­queza da classe ca­pi­ta­lista e é na sua apro­pri­ação que re­side a ex­plo­ração. Daí os ca­pi­ta­listas fa­zerem tudo para au­mentar a mais-valia através do alar­ga­mento da du­ração da jor­nada de tra­balho, da re­dução de sa­lá­rios, da in­ten­si­fi­cação do ritmo de tra­balho ou da in­tro­dução de novas tec­no­lo­gias.

Que esta questão está hoje mais ac­tual do que nunca lembra-o a pró­pria ex­po­sição, re­al­çando que os avanços tec­no­ló­gicos apli­cados à pro­dução per­mitem o im­pres­si­o­nante au­mento do so­bre­tra­balho e, por acrés­cimo, dos lu­cros. Exem­pli­fi­cando, Je­ró­nimo de Sousa re­alçou di­versos sec­tores do­mi­nados pelos grandes grupos eco­nó­micos: no sector dos pro­dutos pe­tro­lí­feros, con­tro­lado pela Galp, em oito horas de tra­balho diário, 6,4 cons­ti­tuem tra­balho não pago; na elec­tri­ci­dade, em que pre­do­minam a EDP e a REN, nas mesmas oito horas basta ao tra­ba­lhador la­borar 44 mi­nutos para pagar o seu sa­lário; nas te­le­co­mu­ni­ca­ções, a di­fe­rença é de duas horas de tra­balho ne­ces­sário para seis de tra­balho não pago.

Estes nú­meros são ainda mais es­can­da­losos se com­pa­rados os sa­lá­rios pagos à ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses e nestes sec­tores e em­presas em par­ti­cular.

 



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