Itália, está tudo dito

Ângelo Alves

Quando este ar­tigo for pu­bli­cado já o par­la­mento ita­liano terá vo­tado a posse do novo go­verno ita­liano de co­li­gação entre os fas­cistas da Liga Norte e o Mo­vi­mento 5 Es­trelas. Sem pre­juízo de um ne­ces­sário apro­fun­da­mento, o facto me­rece três apon­ta­mentos te­le­grá­ficos:

1 - O Mo­vi­mento 5 es­trelas, que se diz sem ide­o­logia e que al­guns che­garam a con­si­derar como de «centro-es­querda», é co-autor, com um par­tido de ín­dole fas­cista, de um pro­grama de go­verno que entre ou­tros «mimos» contém me­didas como a ex­pulsão de 500 mil imi­grantes e re­fu­gi­ados; apoios so­ciais apenas para ita­li­anos; ge­ne­ra­li­zação das au­to­ri­za­ções de uso e porte de arma; per­se­guição aos mu­çul­manos pra­ti­cantes; uma lua de mel fiscal para os mai­ores ren­di­mentos e para as em­presas e uma re­dução da re­pre­sen­ta­ti­vi­dade no par­la­mento ita­liano.

2 – O modo como estas forças po­lí­ticas estão aos poucos a adaptar o seu pro­grama a um dis­curso «mais mo­de­rado» sobre ques­tões re­la­tivas à União Eu­ro­peia, e o modo como aca­baram por aceitar o veto do nome in­di­cado para mi­nistro das fi­nanças, in­dica que o seu dis­curso elei­toral de cri­tica à União Eu­ro­peia (que mo­bi­lizou muitos votos num quadro em que as forças de es­querda não as­su­miram uma ver­da­deira crí­tica) irá, mais cedo ou mais tarde, re­velar aquilo que de facto é: uma ins­tru­men­ta­li­zação po­pu­lista dos justos sen­ti­mentos do povo ita­liano re­la­ti­va­mente à União Eu­ro­peia.

3 – É al­ta­mente elu­ci­da­tivo da si­tu­ação po­lí­tica na Itália e da na­tu­reza po­lí­tica da União Eu­ro­peia o facto de a única di­fi­cul­dade posta à for­mação deste go­verno ter origem na exi­gência de que o mi­nistro das fi­nanças não fosse um de­fensor da saída do euro. Ou seja, um go­verno até pode ser de ín­dole fas­cista, desde que não ponha em causa o euro. Está tudo dito!




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