O século de Mandela
O imperialismo sustentou o apartheid quase até ao fim
Na África do Sul e em todo o mundo, as forças progressistas e os povos festejam a 18 de Julho o centenário do nascimento de Nelson Mandela.
Os explorados e oprimidos prestam nestes dias homenagem ao combatente heróico que, com coragem e tenacidade, ultrapassou dificuldades que pareciam insuperáveis e liderou a luta organizada contra o regime criminoso do apartheid até à conquista da liberdade, abrindo as portas à construção de uma África do Sul democrática.
Mas também os inimigos de sempre de Mandela – os que o perseguiram e o prenderam, e aos seus companheiros, os que assassinaram patriotas, os que oprimiram e exploraram os o povo sul-africano – hão-de aparecer agora, com hipocrisia, a colar-se às celebrações dos seus 100 anos, ocultando o conteúdo revolucionário da sua luta, procurando manipular e falsificar a História.
É oportuno, pois, revisitar os momentos marcantes da vida de Mandela, dedicada à causa da emancipação nacional e social do povo sul-africano.
Nasce em 1918 em Mvezo, no Cabo Oriental, e, em 1939, estuda Direito na Universidade de Fort Hare. Ali conhece Olivier Tambo, com quem abrirá mais tarde o primeiro escritório de advogados negros. Milita desde 1942 no ANC (Congresso Nacional Africano) e funda, dois anos depois, com Walter Sisulu e Oliver Tambo, a sua Liga Juvenil.
Em 1952, lidera com o ANC uma campanha de desobediência civil.
Na sequência do massacre de Sharpeville e da ilegalização do ANC, em 1960, o movimento aprova a via da luta armada. Na clandestinidade, Mandela e outros dirigentes do ANC e do Partido Comunista Sul-Africano (SACP) fundam a Umkhonto we Sizwe (MK), a Lança da Nação, o braço armado do ANC.
A 5 de Agosto de 1962, após 17 meses de clandestinidade, Mandela é preso numa operação da polícia sul-africana com a colaboração da CIA. Menos de um ano mais tarde, é capturado todo o núcleo dirigente do MK (Décadas mais tarde, por ocasião da morte de Mandela, em 2013, os comunistas revelarão que, quando foi preso, Mandela era membro do SACP e integrava o seu comité central).
Em 1963, no Julgamento de Rivonia, os racistas acusam Mandela e os seus camaradas de conspiração e colaboração com o SACP. Em Julho de 1964 são condenados a prisão perpétua e enviados para a ilha de Robben, onde cumprem 18 anos de trabalhos forçados. Em 1971, a Assembleia Geral das Nações Unidas condena o apartheid e exige a libertação de Mandela. Em 1987, duas votações semelhantes na ONU serão aprovadas. Numa delas, votam contra apenas os EUA de Reagan, a Grã-Bretanha de Thatcher e Portugal de Cavaco Silva. O imperialismo é o sustentáculo político, económico e militar do regime sul-africano.
Em 1982, Mandela é transferido para a prisão de Pollsmoor, juntamente com outros dirigentes do ANC. Em 1985, o presidente Pieter Botha propõe-lhe a liberdade se renunciar à luta armada. Mandela recusa. A repressão recrudesce.
Um concerto a favor da libertação de Mandela é realizado em Londres, em 1988, por ocasião do seu 70.º aniversário. Nesse ano, as forças angolanas, cubanas e da Swapo derrotam, em Cuito Cuanavale, no Sul de Angola, o exército sul-africano e a Unita, abrindo caminho à libertação da Namíbia e acelerando a derrota do apartheid. O regime é obrigado a negociar, a legalizar o ANC e, a 11 de Fevereiro de 1990, a libertar Mandela, após 28 anos de reclusão.
Em 1991, é eleito presidente do ANC. Em 1993, recebe o Nobel da Paz em conjunto com o então presidente sul-africano Frederik de Klerk.
Em 27 de Abril de 1994, na primeira eleição democrática da África do Sul, Mandela é eleito presidente. Lidera o governo até 1999, promove a reconciliação nacional. Retira-se da vida pública em 2004.
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«Um dos maiores revolucionários do século XX», como escreveu o SACP, figura marcante dos nossos tempos, Nelson Mandela, com os seus valores e o seu exemplo, continua a inspirar não só a aliança tripartida que governa a África do Sul mas também as forças progressistas que, em África e em todo o mundo, lutam por um futuro de paz e progresso.