A participação directa de forças especiais estado-unidenses em acções de combate contra grupos «terroristas» em África é muito maior do que reconhece o Pentágono, de acordo com revelações de meios de imprensa norte-americanos.
Estas informações confirmam o aumento da intervenção militar dos EUA no continente africano, nos últimos anos.
Um artigo de Roberto García Hernández, da agência Prensa Latina, recolhe e divulga dados interessantes sobre a actividade das forças especiais dos EUA.
Essas unidades de elite são integradas por «boinas verdes» do exército, «seals» da marinha, fuzileiros navais e pára-quedistas e estão subordinadas ao Comando Conjunto de Operações Especiais, com sede na Florida. Em África, actuam em diferentes países, no quadro de um programa que até agora a Casa Branca manteve parcialmente secreto.
Em reiteradas ocasiões, porta-vozes militares dos EUA asseguraram que as suas tropas em solo africano se limitavam a tarefas de assessoria, mas a realidade é bem diferente. Em 2017, as forças especiais dos EUA realizaram uma centena de operações em 20 países, mantendo uma presença permanente de cerca de 1700 efectivos – o dobro dos que operavam em 2014.
Nesse contexto, teve lugar em Fevereiro e Março do ano passado o exercício Flintlock, dirigido pelo Africom, o maior realizado até agora, com a participação de 2000 militares de 24 países africanos e de potências aliadas de Washington.
Já depois disso, o presidente Donald Trump aprovou a eliminação de restrições impostas por Barack Obama visando a participação em combates das unidades de elite, o que lhes proporcionou mais flexibilidade e capacidade ofensiva, segundo peritos citados pelo sítio digital The Cipher Brief.
Desde há quase cinco anos que as unidades especiais norte-americanos «colaboram» com tropas dos países africanos, não hesitando em ser parte activa nas acções combativas. O general reformado Donald Bolduc, que até Junho de 2017 comandou essas forças de elite em África, admitiu numa entrevista ao sítio digital Político que «as forças especiais não só assessoram, apoiam e acompanham» as tropas africanas «como as dirigem em combate», factos que o Pentágono se recusava até há pouco a reconhecer.
Apesar do Africom não confirmar quais são as zonas onde actuam as forças especiais dos EUA, antigos membros dessas unidades identificaram oito países – Somália, Líbia, Quénia, Tunísia, Níger, Camarões, Mali e Mauritânia.
No seu artigo, Roberto García Hernández fornece mais dados interessantes, como a da «forte presença de conselheiros de unidades de elite estado-unidenses» na recém-criada Força G5 do Sahel. Refere também a profusão de bases militares norte-americanas em África – de Camp Lemonnier, no Djibuti, a maior delas, até à nova base para drones, em Agadez, no Níger, passando por uma outra do mesmo tipo criada, segundo o Washington Post, em 2016 na Tunísia. E sublinha o papel do Africom, responsável pelas relações militares dos EUA com 53 países africanos.
«De facto, este aumento da actividade militar dos EUA em África, a pretexto da luta contra o terrorismo, corresponde aos planos estratégicos norte-americanos de manter a sua hegemonia a nível mundial, em particular no continente africano, fonte importante de matérias-primas estratégicas», conclui o jornalista.