1903 – Pobres na Praia, Pablo Picasso

Conta-se que o ge­neral alemão Otto Abetz, go­ver­nador de Paris du­rante a ocu­pação nazi, per­guntou a Pi­casso numa ex­po­sição da mo­nu­mental Guer­nica: «Foi o se­nhor quem fez este horror?». Ao que o pintor, que des­tinou os lu­cros das ex­po­si­ções da icó­nica obra à causa re­pu­bli­cana es­pa­nhola, terá res­pon­dido: «Não, se­nhor em­bai­xador. Esse horror foi feito pelos se­nhores!». Ver­dade ou não, o facto é que temas como a po­breza, o luto, a so­lidão ou a in­di­fe­rença face às pes­soas sim­ples são abor­dados desde cedo nos qua­dros de Pi­casso, para quem um ar­tista «é ao mesmo tempo um ser es­té­tico, cons­tan­te­mente em alerta di­ante dos di­la­ce­rantes, ar­dentes ou doces acon­te­ci­mentos do mundo, re­flec­tindo-os na forma como re­a­liza sua obra». É o caso da tela Po­bres na Praia, onde só a cri­ança ainda não su­cumbiu à de­so­lação. A obra per­tence ao cha­mado «pe­ríodo azul, ca­rac­te­ri­zado pelo uso de tons da­quela cor para re­pre­sentar a tris­teza do ar­tista, à época pro­fun­da­mente aba­lado pelo sui­cídio do pintor e seu grande amigo Carles Ca­sa­gemas. Como disse Pi­casso, como po­deria um ar­tista de­sin­te­ressar-se dos ou­tros ho­mens, dis­so­ciar-se da vida que eles lhe trazem? «Não, a pin­tura não é feita para de­corar apar­ta­mentos. É um ins­tru­mento de guerra ofen­sivo e de­fen­sivo contra o ini­migo.»