Triplica o número de idosos falidos nos EUA

António Santos

Pen­sões em queda, preço dos se­guros de saúde a au­mentar, ma­gras pou­panças e re­formas pri­vadas su­jeitas aos hu­mores dos mer­cados. Se­gundo o Con­sumer Ban­kruptcy Pro­ject, a con­ju­gação destes fac­tores está a gerar uma «tem­pes­tade per­feita» nas ca­madas mais en­ve­lhe­cidas da classe tra­ba­lha­dora es­tado-uni­dense. Desde 1991, tri­plicou o nú­mero de pes­soas com mais de 65 anos que se de­claram fa­lidas e in­ca­pazes de fazer face a dí­vidas cres­centes. Se es­ti­vermos a falar das pes­soas com mais de 75 anos, o nú­mero de fa­lên­cias mul­ti­plica-se por dez.

Mi­lhões de idosos, que tra­ba­lharam toda uma vida nos EUA, vêem de­sa­pa­recer di­ante dos seus olhos a rede de se­gu­rança que, desde as re­formas de Lyndon B. Johnson e Fran­klin Ro­o­se­velt, pro­tegia os tra­ba­lha­dores na ve­lhice. Cresce a lista de ser­viços mé­dicos que não são co­bertos pelo Me­di­care, o ser­viço mí­nimo de saúde pú­blica para re­for­mados e pen­si­o­nistas; au­mentou para os 70 anos (antes era 65) a idade em que se pode aceder a uma pensão da Se­gu­rança So­cial; vul­ga­ri­zaram-se os «401(k)», os planos pou­pança-re­forma con­tro­lados pelo pa­tro­nato e su­jeitos à es­pe­cu­lação, compra e venda das re­formas dos tra­ba­lha­dores.

A con­sequência, aponta o es­tudo li­de­rado por De­borah Thorne, foi a du­pli­cação do valor que, em média, as pes­soas com mais de 65 anos devem aos bancos.

Tra­ba­lhar até morrer

Para so­bre­viver, cada vez mais idosos es­tado-uni­denses têm de tra­ba­lhar até ao úl­timo dia de vida. Se­gundo o Ga­bi­nete de Es­ta­tís­ticas do Tra­balho da Casa Branca, os tra­ba­lha­dores com mais de 75 anos re­pre­sentam uma fatia cada vez maior da po­pu­lação ac­tiva e cor­res­pondem já a 85 por cento do cres­ci­mento total da força de tra­balho.

Para os au­tores do es­tudo, trata-se de «al­te­ra­ções es­tru­tu­rais» que se irão agravar ainda mais nas pró­ximas ge­ra­ções, à me­dida que o Es­tado as­sume cada vez menos res­pon­sa­bi­li­dades so­ciais e o en­di­vi­da­mento au­menta desde a ju­ven­tude. Um ce­nário que, afi­ança De­borah Thorne, já acon­teceu no pas­sado: «du­rante a Grande De­pressão, apro­xi­ma­da­mente dois terços dos ame­ri­canos mais ve­lhos vi­viam na mi­séria, sob o terror de uma ter­ceira idade sem um cên­timo, nem apoios». Para os au­tores, é esse ce­nário dos anos trinta que se avi­zinha nas pró­ximas dé­cadas.

Desde os anos 2000 que a po­breza não pára de au­mentar nos idosos. Em 2016, o úl­timo ano de que são co­nhe­cidos dados do Ga­bi­nete de Es­ta­tís­tica, as pes­soas com mais de 65 anos foram mesmo o único grupo etário que, em média, em­po­breceu: num ano, o ín­dice de po­breza dos idosos dos EUA au­mentou 2,1 por cento.

Como notam os au­tores do es­tudo, estas al­te­ra­ções são es­tru­tu­rais: em 2018 o ca­pi­ta­lismo já não con­segue ofe­recer aos tra­ba­lha­dores a pers­pec­tiva de uma ve­lhice tran­quila, con­for­tável e des­can­sada. Diz-nos que, apesar do for­mi­dável de­sen­vol­vi­mento tec­no­ló­gico e pro­du­tivo dos nossos tempos, de­vemos tra­ba­lhar até morrer, como na crise ca­pi­ta­lista de 1929.




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