1856 – Primeira viagem de comboio em Portugal

«... a má­quina, es­cu­sado será dizer, das mais pri­mi­tivas (pa­recia um enorme gar­rafão) não tinha força su­fi­ci­ente para puxar todas as car­ru­a­gens que lhe atre­laram e fora-as lar­gando pelo ca­minho. Al­gumas, de con­vi­dados, nos Oli­vais. O vagon do Car­deal Pa­tri­arca e do Ca­bido ficou em Sa­cavém; mais um re­cheado de ilus­tres per­so­na­li­dades ficou ao de­sam­paro na Póvoa. Creio que, se o Car­re­gado fosse mais longe, che­gava a má­quina so­zinha ou só parte dela (...) Esses des­pro­te­gidos da sorte, se­me­ados pela linha ao acaso das de­bi­li­dades da tracção ace­le­rada, só che­garam alta noite a Lisboa (...) Até andou gente com ar­chotes, pela linha, em pro­cura dos náu­fragos do Pro­gresso». A des­crição da pri­meira vi­agem de com­boio no País, entre Lisboa e o Car­re­gado (in Me­mó­rias da Mar­quesa de Rio Maior) ilustra as atri­bu­la­ções por que passou a fer­rovia na­ci­onal, mas com ela novos ho­ri­zontes se abriram. Três dé­cadas de­pois da sua inau­gu­ração, por D. Pedro V, Eça de Queirós re­sumia assim a nova era: «Pelos ca­mi­nhos-de-ferro, que ti­nham aberto a Pe­nín­sula, rom­piam cada dia (...) tor­rentes de coisas novas, ideias, sis­temas, es­té­ticas, formas, sen­ti­mentos, in­te­resses hu­ma­ni­tá­rios». Nos anos 80 do sé­culo pas­sado, com os go­vernos da AD e de Ca­vaco Silva, co­meçou o «fer­ro­vi­cídio» ainda em curso.