«A luta intensifica-se na Índia»

EN­TRE­VISTA A de­le­gação do Par­tido Co­mu­nista da Índia (Mar­xista) que es­teve pre­sente na Festa do Avante! era com­posta por Ve­e­raiah Sun­kari, do Co­mité Cen­tral, e Atanu Saha, editor de um órgão re­gi­onal do par­tido em Ben­gala Oci­dental. Ambos fa­laram ao Avante! sobre a si­tu­ação no país e as exi­gentes ta­refas co­lo­cadas ao PCI (M).

O PCI (M) está em­pe­nhado em re­forçar a sua li­gação com as massas

O Par­tido Co­mu­nista da Índia (Mar­xista) é uma po­de­rosa força de massas, com só­lida im­plan­tação entre os tra­ba­lha­dores e os cam­po­neses do gi­gante asiá­tico. Hoje, pe­rante o agra­va­mento da si­tu­ação no país, bate-se pela for­mação de uma frente de­mo­crá­tica de es­querda capaz de se cons­ti­tuir como al­ter­na­tiva viável.

Avante!Que ava­li­ação faz o PCI (M) da ac­tual si­tu­ação na Índia?

Ve­e­raiah Sun­kari (SV) – Desde 2014 que a Índia é go­ver­nada pelo BJP, que re­pre­senta a grande bur­guesia in­diana – à se­me­lhança, aliás, do Con­gresso Na­ci­onal In­diano, que nesse mesmo ano foi afas­tado do go­verno. Ambos se­guem um mesmo rumo de pri­va­ti­za­ções e li­be­ra­li­zação. De­vido a estas po­lí­ticas, os pro­blemas do povo agravam-se: o de­sem­prego cresceu, o preço de bens es­sen­ciais au­mentou, os ata­ques aos di­reitos das classes po­pu­lares ge­ne­ra­lizam-se, assim como os ata­ques a mu­lheres. Para fazer face a esta po­lí­tica, a luta po­pular in­ten­si­ficou-se. No dia 4 deste mês, 50 mil mu­lheres ma­ni­fes­taram-se em Deli e, no dia se­guinte, em todo o país, houve grandes ma­ni­fes­ta­ções de tra­ba­lha­dores e cam­po­neses, en­vol­vendo cen­tenas de mi­lhares de pes­soas.

Como reage o go­verno a esta in­ten­si­fi­cação da luta?

VS – Age de forma an­ti­de­mo­crá­tica, re­cor­rendo ao au­to­ri­ta­rismo, à re­pressão e à ne­gação de di­reitos cons­ti­tu­ci­o­nais. Além disso, pro­cura di­vidir o povo em bases co­mu­nais e exa­cerbar os sen­ti­mentos na­ci­o­nais, contra o Pa­quistão, e re­li­gi­osos, ten­tando virar hindus contra mu­çul­manos, mu­çul­manos contra cris­tãos, etc.

Face a esta si­tu­ação, que ori­en­ta­ções tem o PCI (M) para a sua in­ter­venção?

VS – O nosso par­tido está em­pe­nhado em re­forçar a sua li­gação com as massas e mo­bi­lizá-las contra as po­lí­ticas do go­verno. Neste mo­mento, temos duas li­nhas de acção fun­da­men­tais: a luta contra as po­lí­ticas de li­be­ra­li­zação e pri­va­ti­zação, por um lado, e contra o co­mu­na­lismo, por outro. Ambos têm que ser com­ba­tidos. Pro­cu­ramos ainda dar passos no sen­tido de, a curto prazo, cons­truir uma frente de­mo­crá­tica de es­querda na Índia. Temos de mos­trar ao povo po­lí­ticas al­ter­na­tivas e, em nome delas, travar lutas. É a partir daqui que sur­girá essa frente.

Está à vista que o ca­pi­ta­lismo não re­solve os pro­blemas das classes po­pu­lares. Além disso, na Índia per­ma­necem fortes resquí­cios feu­dais com os quais é ne­ces­sário romper também. E só esta frente de­mo­crá­tica de es­querda o po­derá fazer.

Que frente é essa? Quem a in­te­grará?

VS – Desde logo o PCI (M), o Par­tido Co­mu­nista da Índia e ou­tras forças de es­querda. Esta frente não é só uma com­bi­nação de par­tidos mas também de or­ga­ni­za­ções de massas, de classe, so­ciais, mo­vi­mentos di­versos e per­so­na­li­dades de es­querda. Se as lutas se de­sen­vol­verem e se esta uni­dade se re­forçar, po­demos atrair pes­soas de vá­rias re­giões e até de ou­tros par­tidos, o que aliás já acon­teceu. Mas para isso é ne­ces­sário que essas pes­soas te­nham con­fi­ança em que essa frente de­mo­crá­tica de es­querda possa re­pre­sentar uma real al­ter­na­tiva.

O PCI (M) e ou­tras or­ga­ni­za­ções e mo­vi­mentos de­mo­crá­ticos têm sido alvo de uma vi­o­lenta acção. Quem a pro­ta­go­niza e com que ob­jec­tivos?

Atanu Saha (AS) – Es­tamos a tentar cons­truir a frente de­mo­crá­tica de es­querda e a mo­bi­lizar as massas para a luta e o go­verno tenta de­molir o mo­vi­mento de­mo­crá­tico. Em Ben­gala Oci­dental, em Tri­pura e nou­tros es­tados onde o nosso par­tido e as forças de­mo­crá­ticas tentam cons­truir esse mo­vi­mento, os ata­ques e as­sas­si­natos a mem­bros do par­tido e a di­ri­gentes de massas pros­se­guem. Há ca­ma­radas nossos que dão a vida, mas o mo­vi­mento cresce dia após dia. Ou seja, os ata­ques con­ti­nuam mas o mo­vi­mento também. O BJP tenta de­molir os di­reitos de­mo­crá­ticos e cons­ti­tu­ci­o­nais e nós de­fen­demo-los e pre­ten­demos alargá-los!

Esses ata­ques aos co­mu­nistas e de­mo­cratas são sempre através da vi­o­lência ou as­sumem ou­tras ex­pres­sões?

AS – Ac­tu­al­mente, temos muitos ca­ma­radas na prisão. Há dias, o pró­prio Se­cre­tário-geral do PCI (M), Si­taram Ye­chury, foi preso, jun­ta­mente com ou­tros di­ri­gentes, de­vido ao apoio que o par­tido deu a uma grande greve que se re­a­lizou no país. Em Ben­gala Oci­dental há 100 mil pro­cessos po­li­ciais contra ca­ma­radas nossos e em Tri­pura também há muitos. A re­pressão não pára de crescer…

Essas são re­giões de forte im­plan­tação do par­tido…

AS – Sim, estas são al­gumas das nossas bases mais fortes. Fomos go­verno em Ben­gala du­rante 34 anos e em Tri­pura con­ti­nu­a­mente por 25. Agora en­fren­tamos a re­pressão… E mesmo em Ke­rala, onde go­ver­namos o Es­tado, forças ex­tre­mistas, com apoio do go­verno, atacam e as­sas­sinam ca­ma­radas do nosso par­tido. Da nossa parte, es­tamos a mo­bi­lizar o povo contra esta vi­o­lência.

VS – No pre­ciso mo­mento em que es­tamos em­pe­nhados em mo­bi­lizar as massas, de­sen­volver o mo­vi­mento de­mo­crá­tico e alargar a uni­dade, a classe di­ri­gente pro­cura di­vidir o povo em bases co­mu­ni­tá­rias. Em 2019 há elei­ções na­ci­o­nais e es­tamos a pre­pará-las.

Que úl­tima pa­lavra gos­ta­riam de deixar para os lei­tores do Avante!?

VS – Foi um pri­vi­légio estar na Festa do Avante!. Agradou-nos muito e apren­demos também muito. Ve­ri­fi­cámos o en­tu­si­asmo com que os mi­li­tantes tra­ba­lhavam, era vi­sível que gos­tavam de ajudar. E tra­ba­lhavam todos, dos di­ri­gentes aos mi­li­tantes de base. Os mi­li­tantes sentem a Festa como sua. É um exemplo ins­pi­rador.

 



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