Comentário

Dez anos sobre a falência do Lehman Brothers

Miguel Viegas

No dia 15 de Se­tembro de 2008, as­si­na­laram-se 10 anos sobre a fa­lência do Lehman Brothers, que marcou o início da ac­tual crise fi­nan­ceira. Neste ar­tigo su­cinto iremos falar de quatro pontos con­si­de­rados como fun­da­men­tais no re­ben­ta­mento da crise de 2008, de­mons­trando que, pas­sados 10 anos, o ca­pi­ta­lismo ca­minha, ine­xo­ra­vel­mente, para a pró­xima crise.

Ala­van­cagem: todos apontam para a es­cassez dos ca­pi­tais pró­prios dos bancos que fi­caram in­sol­ventes com os pri­meiros pre­juízos. É dito na ge­ne­ra­li­dade da im­prensa que os bancos me­lho­raram os seus rá­cios, mas isto não passa de uma fa­lácia. O co­elho que o ca­pital fi­nan­ceiro sacou da car­tola chama-se Basel III e per­mite, a partir da pon­de­ração dos ac­tivos pelo risco, trans­formar um rácio de ala­van­cagem de 3% num rácio de 7 ou 9%. Pura cos­mé­tica: olhando para os ba­lanços, ve­ri­fi­camos que os au­mentos de ca­pi­tais foram re­si­duais e muito abaixo das perdas re­gis­tadas du­rante a crise.

Pro­dutos fi­nan­ceiros es­tru­tu­rados: os ac­tivos tó­xicos foram de­ter­mi­nantes na crise. Estes eram cri­ados a partir de cré­ditos du­vi­dosos e ven­didos no mer­cado sem qual­quer re­gu­la­men­tação e em não raros casos com no­tação má­xima das agên­cias de ra­ting. Pas­sados dez anos o mer­cado global de de­ri­vados re­pre­senta hoje sete vezes o PIB mun­dial, o que quer dizer que está to­tal­mente des­li­gado da eco­nomia real! Na União Eu­ro­peia avança a todos o gás a ti­tu­la­ri­zação de cré­ditos para limpar os ba­lanços dos bancos e está na calha a cri­ação de um fundo eu­ropeu de pen­sões des­ti­nado a ser o maior fundo de in­ves­ti­mento do mundo e cuja gestão po­derá ser en­tregue ao Blac­kRock.

Os bancos «to big to fail»: com a des­re­gu­la­men­tação fi­nan­ceira das dé­cadas de oi­tenta e no­venta as­sis­timos a uma vaga de fu­sões de ins­ti­tui­ções fi­nan­ceiras com a cri­ação de en­ti­dades «de­ma­siado grandes para falir». Esta si­tu­ação gerou uma ga­rantia pú­blica im­plí­cita sobre even­tuais perdas na me­dida em que se ar­gu­mentou que a fa­lência destas en­ti­dades po­deria ar­rastar toda a eco­nomia. No início, re­gis­taram-se ten­ta­tivas tí­midas de atacar o pro­blema pro­cu­rando impor a se­pa­ração entre bancos de re­talho e de in­ves­ti­mento, mas foi sol de pouca dura. Hoje, com a União Ban­cária a servir de ca­ta­li­sador, as­sis­timos a uma nova vaga de fu­sões e aqui­si­ções, com o de­sa­pa­re­ci­mento, desde o início da crise, de um terço dos bancos exis­tentes.

En­di­vi­da­mento: todos falam do ex­cesso do en­di­vi­da­mento, pú­blico e pri­vado como outro ele­mento nu­clear para o re­ben­ta­mento da crise. Im­porta dizer que este en­di­vi­da­mento de­corre de uma in­justa dis­tri­buição da ri­queza e do ren­di­mento, em­pur­rando muitas fa­mí­lias para o cré­dito como re­curso úl­timo para aqui­sição de bens es­sen­ciais. Pas­sados dez anos, o en­di­vi­da­mento pú­blico e pri­vado é hoje su­pe­rior aos ní­veis pré-crise, com taxas de cres­ci­mento duas vezes su­pe­rior ao PIB.

As crises são parte in­te­grante do sis­tema ca­pi­ta­lista. Re­gistar que, pas­sados 10 anos sobre uma das mai­ores crises do sis­tema, tudo con­tinua na mesma, re­for­çando-se a ne­ces­si­dade de su­pe­ração do sis­tema ca­pi­ta­lista com um mo­delo al­ter­na­tivo: o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo!




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