Brasil - as três pernas do fascismo

Ângelo Alves

O que já se co­nhece do go­verno Bol­so­naro con­firma que o fas­cismo existe para servir o grande ca­pital e elevar ainda mais a ex­plo­ração, in­ten­si­ficar e ins­ti­tu­ci­o­na­lizar a opressão, e servir o im­pe­ri­a­lismo.

Paulo Guedes, o ultra-li­beral com li­ga­ções à di­ta­dura de Pi­no­chet, acér­rimo de­fensor da es­cola de Chi­cago, irá di­rigir as fi­nanças e a eco­nomia. É o pró­prio que enuncia, numa en­tre­vista ao Fi­nan­cial Times, a tese de que o fas­cismo é in­dis­so­ciável do mais sel­vagem ca­pi­ta­lismo: «A ordem está a en­con­trar o pro­gresso – a ordem é Bol­so­naro, o pro­gresso são as ideias li­be­rais». Vem aí o «choque li­beral». As 147 em­presas pú­blicas bra­si­leiras estão sob a mira da pri­va­ti­zação, e «não há vacas sa­gradas», ou seja, ne­nhuma delas - in­cluindo a gi­gante Pe­tro­brás - está a salvo da época de saldos. Mas não é tudo. A se­gu­rança so­cial é para pri­va­tizar, o pa­tri­mónio do Es­tado para vender, as re­servas in­ter­na­ci­o­nais para de­la­pidar e, claro, a tí­pica «des­cida» de im­postos será acom­pa­nhada de uma drás­tica re­dução da des­pesa pú­blica com gastos so­ciais

Por sua vez, a no­me­ação de Sérgio Moro para mi­nistro da jus­tiça con­firma que este e a sua «equipa» não eram mais do que uma es­pécie de tropa de elite po­lí­tico-ju­di­cial, co­man­dada por Washington, com a missão de por um lado dar «con­sis­tência» «legal» à es­tra­tégia do golpe e do ódio contra os «ver­me­lhos» «cor­ruptos», e por outro, abrir as portas à pri­va­ti­zação e venda ao es­tran­geiro de sec­tores es­ta­tais es­tra­té­gicos como forma de «acabar com a cor­rupção». Agora a missão é dar uma imagem «limpa» aos ata­ques à de­mo­cracia.

A ter­ceira perna do fas­cismo bra­si­leiro está na po­lí­tica ex­terna. Trump não poupa elo­gios, está feliz com o seu homem. E a ma­ri­o­neta faz o seu papel. Vira as costas à Amé­rica La­tina, es­can­cara as portas aos mo­no­pó­lios norte-ame­ri­canos, ali­menta pe­ri­go­sa­mente uma guerra entre a Colômbia e a Ve­ne­zuela, ameaça Cuba e, claro, faz a pro­fissão de fé com Is­rael ao de­cidir mudar a Em­bai­xada do Brasil para Je­ru­salém.




Mais artigos de: Opinião

A surpresa de Cavaco

Em recente entrevista à TSF, Cavaco Silva disse ter ficado surpreendido pela facilidade com que o PCP se «curvou» perante as imposições ditadas ao País pelo Ministro das Finanças, acrescentando que não esperava que o PCP se «curvasse» com tanta facilidade às exigências de redução do défice. Ora, sabendo nós que os...

Do Armistício e do 7 de Novembro

Que dizer, um ano depois do centenário, que não tenha sido já dito e redito? Provavelmente, pouca coisa. Mas é impossível fugir à pura necessidade de a cada ano recordar o maior acontecimento da história, e de sublinhar a sua actualidade, a sua importância na luta que travamos todos os dias. Vivemos no ocaso...

Participação e luta para construir a alternativa

O co­mu­ni­cado da úl­tima reu­nião do Co­mité Cen­tral, na parte que se re­fere à si­tu­ação po­lí­tica na­ci­onal, des­taca a forma como os avanços na de­fesa, re­po­sição e con­quista de di­reitos têm co­e­xis­tido com a per­sis­tência de graves pro­blemas na­ci­o­nais. Estes úl­timos, cau­sados por dé­cadas de po­lí­tica de di­reita, po­de­riam ter res­posta caso Por­tugal rom­pesse com o ca­minho que até aqui nos con­duziu e ini­ci­asse uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, pa­trió­tica e de es­querda.

Afinal balança

«Sou contrário às tendências de Bolsonaro, mas tenho que torcer pelo Brasil. Tenho que torcer para que ele acerte e não para que erre». Esta declaração de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em entrevista à RTP3, na semana passada, bastaria para definir o posicionamento político do ex-presidente eleito pelo PSDB, sociólogo,...

Terrorismo económico

Entraram em vigor as «mais duras sanções» dos EUA contra o Irão, alargando as medidas discriminatórias anteriores ao acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano de 2015, selado pela resolução 2231 do CS da ONU. Acordo de que os EUA se retiraram em Maio de forma unilateral, sob o falso pretexto de incumprimento...