Só nos primeiros nove meses de 2018, os EUA lançaram 5213 bombas no Afeganistão, o número mais alto desde a invasão, há 17 anos. As estatísticas, divulgadas na semana passada pelo Comando Central da Força Aérea dos EUA, revelam uma guerra cada vez mais longe de acabar: o número de bombas estado-unidenses lançadas contra este país saltou de 947 em 2015 para 1337 em 2016; 4361 em 2017 e, só até Setembro deste ano, 5213: uma média de 17 bombas por dia.
Segundo a Missão de Assistência ao Afeganistão da ONU (UNAMA), 2018 é já também o ano com o maior número de mortos entre a população civil, quase 2000. Só em Outubro, 273 civis foram mortos. Destes, cerca de um quarto foram vitimados directamente por bombas estado-unideneses: qualquer coisa como dois civis (leia-se crianças, mulheres, inocentes) mortos por dia.
Estes números são, em parte, o reflexo da política do secretário da Defesa, Jim Mattis, de afrouxamento das restrições à utilização de bombardeamentos pela Força Aérea. As novas regras dispensam, por exemplo, o contacto directo com o alvo e liberalizam o recurso a aviões não-tripulados e cada vez mais automatizados, os chamados drones. Por outro lado, Mattis e Trump inverteram o rumo da saída das tropas dos EUA no terreno, aumentando paulatinamente o seu número até aos actuais 25 mil soldados estacionados no país asiático.
Volvidas quase duas décadas, 400 mil afegãos mortos e mais de 900 mil milhões de dólares gastos em bombas, o Afeganistão é um país sem rumo, amargamente dividido por linhas étnicas e cada dia mais sangrento. Oficialmente, a estratégia americana é ultrapassar politicamente o impasse militar negociando a paz com o Taliban. Mas, reconhece Mattis, o impasse estendeu-se também às negociações e, neste momento, não existe qualquer plano, a não ser a guerra infinita.