Barril de pólvora?

Filipe Diniz

Na UE28 118 mi­lhões de pes­soas (23,5% da po­pu­lação) es­tavam em risco de po­breza em 2015. Este risco atinge em­pre­gados (12,3% em 2017) e de­sem­pre­gados (32,7%). A pre­ca­ri­zação cres­cente das re­la­ções de tra­balho leva a que o risco de po­breza de tra­ba­lha­dores entre os 18 e os 24 anos seja de 12,5%, en­quanto para os tra­ba­lha­dores entre 55 e 64 anos é de 8,8%. O risco de po­breza dos tra­ba­lha­dores a tempo in­teiro é de 8%, dos tra­ba­lha­dores a tempo par­cial de 15,8%. A de­si­gual­dade entre o quintil mais baixo e o mais alto é de 4,1 na UE. Em Por­tugal é de 5,4.

Na UE28, em 2017, 8,1% das fa­mí­lias não ti­nham ca­pa­ci­dade para aquecer ade­qua­da­mente a sua ha­bi­tação; 30,9% não ti­nham con­di­ções para pagar 1 se­mana de fé­rias por ano (em Por­tugal 44,3%); 8,4% não con­se­guia fazer uma re­feição de qua­li­dade dia-sim dia-não; 9,3% tinha pa­ga­mentos em atraso de des­pesas de ha­bi­tação desde 2003; 7,8% dos lares tinha grande di­fi­cul­dade em sus­tentar-se (15,2% em Por­tugal); 35,6% não tinha con­di­ções para qual­quer ac­ti­vi­dade de lazer; 26,5% dos lares ti­nham pe­sados en­cargos com pres­ta­ções e hi­po­tecas; 5,8% não têm meios para se des­locar em trans­porte pú­blico; 25,5% não têm con­di­ções de subs­ti­tuir roupas usadas por novas; 13,1% das ha­bi­ta­ções têm co­ber­turas com in­fil­tra­ções, pa­redes, pa­vi­mentos e ali­cerces hú­midos, ma­deiras apo­dre­cidas em ja­nelas e so­a­lhos (em Por­tugal 25,5%).

Seria des­ne­ces­sário ir ao Eu­rostat para cons­tatar a di­mensão da frac­tura eco­nó­mica e so­cial exis­tente. A ex­plo­ração, a po­breza e a de­si­gual­dade ex­plo­diram após a queda da União So­vié­tica. O ca­pi­ta­lismo julgou-se à von­tade e sem al­ter­na­tiva. Mas a al­ter­na­tiva sur­girá pre­ci­sa­mente do ca­rácter in­to­le­rável do pró­prio ca­pi­ta­lismo. E da im­pa­rável luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos.




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