Clarificação em curso

Filipe Diniz

Todos re­cor­damos o fe­nó­meno su­ce­dido em Por­tugal após o 25 de Abril de 1974: nin­guém era fas­cista, e nem mesmo de di­reita. Dos par­tidos «ins­ti­tu­ci­o­nais», o que havia mais à di­reita (o CDS) es­tava «ao centro». PS, PSD e CDS, os par­tidos da po­lí­tica de di­reita, con­ti­nuam a ser ob­jecto de uma trans­lação: a sua base mai­o­ri­tária é apre­sen­tada como no «centro-es­querda» e no «centro-di­reita.»

Que a po­lí­tica de di­reita tenha se­guido os moldes do que em ou­tros países do mundo se situa bem à di­reita, no­me­a­da­mente em todos os as­pectos em que a sua opção de classe é pelos in­te­resses do grande ca­pital na­ci­onal e trans­na­ci­onal, tem sido sis­te­ma­ti­ca­mente con­tra­ban­deado sob esse in­só­lito leque trun­cado.

Trata-se, evi­den­te­mente, de algo al­ta­mente con­ve­ni­ente, em par­ti­cular para forçar a po­la­ri­zação da al­ter­na­tiva elei­toral nos dois par­ceiros do «bloco cen­tral». Tem re­sul­tado com grande su­cesso. De­pois, num país como o nosso, onde o rasto do sa­la­za­rismo não é apenas o da vi­o­lência ter­ro­rista ins­ti­tu­ci­o­na­li­zada contra o povo e contra qual­quer li­ber­dade du­rante quase cinco dé­cadas, mas o de um te­ne­broso cor­tejo de ex­plo­ração, po­breza, atraso, obs­cu­ran­tismo e me­di­o­cri­dade, não é fácil à ex­trema-di­reita e aos fas­cistas as­so­ciar-se a um tal pas­sado. Têm-se es­for­çado du­ra­mente por o bran­quear, mas a coisa não é fácil. É por isso que é de saudar a cla­ri­fi­cação, ainda en­ver­go­nhada mas vi­sível entre vá­rios co­lu­nistas en­car­tados da im­prensa diária. Não fa­larão muito do an­te­ce­dente his­tó­rico, salvo para men­ci­onar «os to­ta­li­ta­rismos». Mas estão ma­ni­fes­ta­mente en­co­ra­jados por cada Sal­vini, por cada Bol­so­naro, por cada Steve Bannon. E co­meça a passar-lhes pela ca­beça en­trar à bruta na luta de classes, por exemplo li­qui­dando o di­reito à greve.




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