O descaro

Manuel Gouveia

A men­tira é algo de inato à po­lí­tica bur­guesa por uma razão muito sim­ples: ela trata de con­vencer a mai­oria a adoptar com­por­ta­mentos con­trá­rios aos seus pró­prios in­te­resses e em favor de uma mi­noria ex­plo­ra­dora. Não se con­vencem as massas a serem cúm­plices (nem que seja por pas­si­vi­dade) com uma pri­va­ti­zação sem mi­lhares de men­tiras. A men­tira é uma con­dição ne­ces­sária à prá­tica po­lí­tica de PS, PSD e CDS.

A prá­tica sis­te­má­tica da men­tira acaba por ficar ex­posta até pe­rante o mais dis­traído dos elei­tores. E então, a bur­guesia adopta o truque de apontar a ven­toinha à por­caria que faz, ten­tando fazer nascer teses como «todos os po­lí­ticos mentem» ou «os po­lí­ticos são todos iguais».

Al­guns são par­ti­cu­lar­mente de­sa­ver­go­nhados. Sabem que contam com uma co­mu­ni­cação so­cial do­mes­ti­cada e, sen­tindo-se im­punes, tornam-se até des­ca­rados.

No lan­ça­mento do Con­curso para a Linha Cir­cular do Me­tro­po­li­tano, o mi­nistro do Am­bi­ente atreveu-se a dizer o se­guinte: «… uma linha que consta dos di­versos planos de ex­pansão do metro há anos e que é in­cluída em todas as pro­postas par­ti­dá­rias...» Disse-o men­tindo com todos os dentes, como fa­cil­mente se de­monstra. O pro­grama elei­toral da CDU em 2017 para a Ci­dade de Lisboa está na net, e nele pode ler-se: «In­tervir junto do Go­verno para ace­lerar a ex­pansão da rede do Me­tro­po­li­tano, tra­vando o ac­tual pro­jecto de linha cir­cular e com esse in­ves­ti­mento apostar na ex­tensão de S. Se­bas­tião a Cam­po­lide/ Amo­reiras/ Campo de Ou­rique/ Al­cân­tara e pro­lon­ga­mento da linha verde de Te­lheiras, sem es­quecer a ex­tensão da rede a Loures.»

Essa frase do pro­grama ajuda aliás a de­mons­trar a se­ri­e­dade da CDU. Fala da ex­pansão a Loures no Pro­grama para a Ci­dade de Lisboa. Já o PS, apenas em Loures pro­meteu essa ex­pansão, que o seu Go­verno acaba de afastar até dos ce­ná­rios para 2030 (ver PNI2030). Sem es­quecer o BE, que em Loures cri­tica se­vera e jus­ta­mente a Linha Cir­cular... que só existe porque o seu ve­re­ador a votou em Lisboa.




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