Solidariedade com a Venezuela ecoou na Voz

INI­CI­A­TIVA Um enorme abraço fra­terno ao povo da Ve­ne­zuela que de­fende a paz e o di­reito a decidir o pre­sente e o fu­turo da sua pá­tria, foi en­viado a partir da Voz do Ope­rário num acto po­lí­tico-cul­tural re­a­li­zado a partir do final da tarde de sexta-feira, 22, em Lisboa.

Querem ajudar a Ve­ne­zuela? Acabem com as in­ge­rên­cias e o blo­queio

No his­tó­rico salão nobre da so­ci­e­dade de ins­trução e be­ne­fi­cência ope­rária, que as­si­nala 140 anos em 2019, a ini­ci­a­tiva pro­mo­vida por mais de duas de­zenas de or­ga­ni­za­ções pro­longou-se por cerca de três horas. Pri­meiro, com as in­ter­ven­ções po­lí­ticas. De­pois, com estas a darem lugar às pa­la­vras can­tadas so­li­da­ri­a­mente por Tiago Santos e Sofia Lisboa, Jorge Ri­votti, El Sur (Rui Gal­veias e Joana Ma­nuel), Freddy Locks e Se­bas­tião An­tunes. Tudo apre­sen­tado pelo actor Fer­nando Jorge Lopes, a quem coube, a meio do es­pec­tá­culo, de­clamar dois po­emas a pro­pó­sito: «Mãe deixa-me lutar», do com­po­sitor e in­tér­prete ve­ne­zu­e­lano Ali Pri­mera, e «Ode à Paz», de Na­tália Cor­reia.

Sen­tados nas pri­meiras filas da pla­teia que se es­tendia até àqueles que não con­se­guiram lugar sen­tado, e que por mais do que uma vez re­pe­tiram con­signas como «Paz sim! Guerra não!» ou «Ve­ne­zuela ven­cerá», en­con­travam-se os em­bai­xa­dores da  Ve­ne­zuela, de Cuba, da Fe­de­ração Russa e da Pa­les­tina, bem como re­pre­sen­tantes das mais de vinte or­ga­ni­za­ções pro­mo­toras da ini­ci­a­tiva.

E foi dali que saiu Ilda Fi­guei­redo, pre­si­dente da Di­recção Na­ci­onal do Con­selho Por­tu­guês para a Paz e Co­o­pe­ração (CPPC), que des­ta­cando desde logo o im­por­tante «al­cance po­lí­tico» da sessão «face à ameaça da ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana de in­vadir a Ve­ne­zuela e agredir mi­li­tar­mente o seu povo», re­a­firmou que o povo da­quele país «não está só» na re­jeição de uma guerra de se­me­lhantes mo­ti­va­ções como as le­vadas a cabo pelos EUA e os seus ali­ados contra os povos da Ju­gos­lávia, Iraque, Afe­ga­nistão, Líbia, Síria ou Ié­mene.

Tam­bores de guerra que res­soam im­pul­si­o­nados por uma «imensa ope­ração de in­ge­rência» e uma «ampla cam­panha de de­sin­for­mação» , des­tacou ainda Ilda Fi­guei­redo, para quem os ob­jec­tivos de­ses­ta­bi­li­za­dores dos EUA e dos seus su­bor­di­nados são claros: ga­rantir através da di­vul­gação de «men­tiras sem es­crú­pulos» e da «in­fame pro­pa­ganda do ódio», da «as­fixia da eco­nomia ve­ne­zu­e­lana e do agra­va­mento das con­di­ções de vida do seu povo, in­cluindo da nu­me­rosa co­mu­ni­dade por­tu­guesa que re­side na­quele país», voltar a impor «o do­mínio sobre as ri­quezas na­tu­rais da­quele país» e «que­brar o exemplo de de­sen­vol­vi­mento e pro­gresso so­be­rano» ofe­re­cido pela Re­vo­lução Bo­li­va­riana em curso.

Em nome da CGTP-IN, também Au­gusto Praça con­si­derou que o papel que a Ve­ne­zuela bo­li­va­riana tem de­sem­pe­nhado na con­quista de di­reitos so­ciais e la­bo­rais por parte dos povos da Amé­rica La­tina, in­co­moda o im­pe­ri­a­lismo. Facto que, aliado ao de­sejo de deitar mão ao pe­tróleo ve­ne­zu­e­lano mo­tivam o lan­ça­mento de mais uma «guerra de saque» pelos EUA, disse, por seu lado a Em­bai­xa­dora de Cuba em Por­tugal.

Usando da pa­lavra a partir do palco, Mer­cedes Mar­tínez alertou, con­subs­tan­ci­ando com ele­mentos con­cretos, para a real pos­si­bi­li­dade de uma in­ter­venção mi­litar dos EUA. Uma agressão que está em marcha «com ac­ções en­co­bertas» a partir de bases mi­li­tares norte-ame­ri­canas em «total des­res­peito pelos go­vernos dos ter­ri­tó­rios onde se si­tuam», e que, como nou­tros casos, «in­voca pre­textos hu­ma­ni­tá­rios».

A «nar­ra­tiva hu­ma­ni­tária», a ex­plo­ração de «causas no­bres re­co­nhe­cidas una­ni­me­mente», não é no­vi­dade. E por isso impõe-se no­va­mente uma forte mo­bi­li­zação que afirme que «a ajuda ver­da­dei­ra­mente hu­ma­ni­tária» não se com­pa­gina com a «vi­o­lência e a vi­o­lação do Di­reito In­ter­na­ci­onal», acres­centou a di­plo­mata da Re­pú­blica de Cuba, que rei­terou, igual­mente, a «in­va­riável so­li­da­ri­e­dade para com o pre­si­dente cons­ti­tu­ci­onal da Ve­ne­zuela, Ni­colás Ma­duro».

Querem ajudar?

Ni­colás Ma­duro, aliás, é um dos alvos da cam­panha de in­to­xi­cação pú­blica, notou, por seu lado, o em­bai­xador da Ve­ne­zuela no en­cer­ra­mento do pe­ríodo das in­ter­ven­ções. Cau­ci­o­nando como «pre­si­dente in­te­rino» um in­di­víduo que se au­to­pro­clama chefe de Es­tado, que foi eleito de­pu­tado em se­gundo lugar num cír­culo elei­toral com pouco mais de 90 mil votos, ou 0,29 por cento do total dos elei­tores ve­ne­zu­e­lanos, em de­tri­mento do pre­si­dente eleito, em Maio de 2018, por mais de 6,2 mi­lhões de ve­ne­zu­e­lanos, o im­pe­ri­a­lismo e o apa­rato gol­pista pros­segue o plano posto em marcha desde o pas­sado mês de de­zembro, de­nun­ciou Lucas Rincón Ro­mero.

«Mas quem é Juan Guaidó?», ques­ti­onou o em­bai­xador da Re­pú­blica Bo­li­va­riana da Ve­ne­zuela em Por­tugal, ex­pli­cando, logo em se­guida(tendo como pano de fundo num ecrã no palco ima­gens que ates­tavam as suas pa­la­vras), tratar-se de um ope­ra­ci­onal da CIA. Um «fan­toche» ades­trado como «de­ses­ta­bi­li­zador pro­fis­si­onal» em pro­gramas de «mu­dança de re­gime» desde 2005; par­ti­ci­pante de pri­meira linha nos actos ter­ro­ristas (gua­rimbas) ocor­ridos na Ve­ne­zuela nos úl­timos cinco anos.

«Nin­guém pre­tende negar que há uma crise eco­nó­mica na Ve­ne­zuela. Nem o pre­si­dente Ni­colás Ma­duro», disse igual­mente Lucas Rincón Ro­mero. Con­tudo, pre­cisou, ela é pro­vo­cada pelo blo­queio eco­nó­mico e fi­nan­ceiro im­posto pelos EUA e seus vas­salos, acusou.

«Querem ajudar a Ve­ne­zuela?», in­sistiu o em­bai­xador ve­ne­zu­e­lano. «Acabem com as in­ge­rên­cias e o blo­queio». «De­volvam-nos o di­nheiro que têm se­ques­trado», acres­centou, cal­cu­lando em seis mil mi­lhões de euros, em moeda e em ouro, o total ca­tivo só nas ins­ti­tui­ções eu­ro­peias, jus­ta­mente para agravar a crise na Ve­ne­zuela e sus­tentar o golpe de Es­tado em curso, con­cluiu.


Pro­vo­cação aberta

O acto po­lí­tico-cul­tural na Voz do Ope­rário de­correu a poucas horas da con­cre­ti­zação de uma «pro­vo­cação em larga es­cala» na fron­teira da Ve­ne­zuela com a Colômbia, como a qua­li­ficou o em­bai­xador Lucas Rincón Ro­mero. Ope­ração que contou com ampla di­fusão de in­for­mação ma­ni­pu­lada e dis­tor­cida, como de resto provou o dig­ni­tário.

Tudo co­meçou com uma men­sagem do se­cre­tário de Es­tado dos EUA, Mike Pompeo, na mais po­pular rede so­cial na Amé­rica La­tina, ale­gando que «o povo ve­ne­zu­e­lano ne­ces­sita de­ses­pe­ra­da­mente de ajuda», a qual «não chega porque os mi­li­tares e Ma­duro não o per­mitem».

A men­sagem, acom­pa­nhada de uma foto de uma ponte que liga a Colômbia à Ve­ne­zuela, foi re­pli­cada em pri­meiras pá­ginas de jornal e tele-no­ti­ciá­rios «sem que jor­na­listas e edi­tores se pre­o­cu­passem em ave­ri­guar a ve­ra­ci­dade de factos sim­ples».

Factos tais como: como mostra a foto, a cerca e os blocos de ci­mento que blo­queiam a ponte Ti­en­ditas estão do lado da Colômbia, tendo sido este país a co­locá-los; a foto foi ti­rada há 18 meses, por­tanto os obs­tá­culos estão lá desde então e não foram co­lo­cados agora por ordem do go­verno bo­li­va­riano da Ve­ne­zuela; a ponte, paga pela Ve­ne­zuela, ainda não foi inau­gu­rada porque se mantém um di­fe­rendo entre a Colômbia e a Ve­ne­zuela, por­tanto a sua aber­tura ou en­cer­ra­mento nada tem a ver com a ac­tual con­jun­tura.

Neste con­texto, aduziu Lucas Rincón Ro­mero de­pois de re­alçar aqueles «factos sim­ples», re­sulta claro que a ma­nobra na ponte Ti­en­ditas e o prazo dado pelos EUA e ou­tros apoi­antes do golpe para a en­trada da «ajuda hu­ma­ni­tária», «não foi mais do que uma pro­vo­cação me­di­a­ti­zada para jus­ti­ficar uma in­ter­venção mi­litar».

«Ope­ração de ajuda», sa­li­entou ainda, «que foi in­clu­si­va­mente re­jei­tada pela Cruz Ver­melha Co­lom­biana», or­ga­ni­zação que se de­marcou pron­ta­mente da ma­nobra.

Ima­gens e in­for­ma­ções di­fun­didas du­rante o fim-de-se­mana e pos­te­ri­or­mente por ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial não-cor­po­ra­tivos e nas redes so­ciais, mos­tram que os ca­miões com «ajuda hu­ma­ni­tária» pa­rados na ponte Ti­en­ditas, no sá­bado, 23, foram in­cen­di­ados por in­di­ví­duos que se en­con­travam do lado co­lom­biano da fron­teira.


Go­verno se­gui­dista

A di­ri­gente do CPPC Ilda Fi­guei­redo, na sua in­ter­venção, não deixou de ex­pressar a in­dig­nação co­lec­tiva pe­rante «a po­sição do go­verno por­tu­guês» de «sub­missão e su­porte do golpe de Es­tado le­vado a cabo pelos EUA contra a Ve­ne­zuela e o seu povo».

Po­sição «ver­go­nhosa e se­gui­dista» que «des­res­peita e afronta a Cons­ti­tuição Da Re­pú­blica Por­tu­guesa e o Di­reito In­ter­na­ci­onal», e torna o Go­verno «cúm­plice» da in­ten­tona vi­sando «o le­gí­timo pre­si­dente Ni­colás Ma­duro e o re­gime cons­ti­tu­ci­onal ve­ne­zu­e­lano», frisou.