- Nº 2369 (2019/04/24)
Direitos – Desenvolvimento – Soberania – Cooperação

Defender o povo e o País

Em Foco

O PCP apresentou no dia 12 de Abril a sua Declaração Programática às eleições para o Parlamento Europeu. Nela são esmiuçados os conteúdos essenciais das propostas que os comunistas defendem para um Portugal com futuro numa Europa de cooperação, de progresso e de paz. Das linhas gerais desses eixos que presidirão à acção dos deputados do PCP eleitos pela CDU no Parlamento Europeu, e que representam para si um inviolável compromisso com os trabalhadores e o povo, damos testemunho neste caderno especial. Com a consciência do difícil que é, em tão pouco espaço, conseguir reflectir na plenitude toda a riqueza do documento.

O PCP apresenta a sua Declaração Programática para as eleições para o Parlamento Europeu (PE) certo de interpretar os anseios do povo português e de apontar o caminho para a resolução dos problemas nacionais, empenhado na criação de um vasto movimento de esclarecimento, opinião e luta que afirme um Portugal com futuro.

É nos objectivos e propostas com que o PCP se apresenta às eleições para o PE, e no trabalho dos seus deputados, que os trabalhadores e o povo português encontram a mais consequente e firme defesa dos seus direitos e interesses.

O PCP, confiante na força e determinação dos trabalhadores e do povo, apela a todos os que aspiram a uma vida melhor para que com o seu voto na CDU contribuam para um Portugal que retome o projecto de desenvolvimento democrático, patriótico e internacionalista iniciado com a Revolução de Abril, numa Europa de cooperação, progresso e paz.

 

As eleições para o PE constituem um importante momento para afirmar a defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, do povo e do País, para combater retrocessos, assegurar novos avanços e romper com o rumo de desigualdade, dependência e abdicação nacional que tem sido imposto ao povo português e a Portugal. São uma oportunidade para abrir caminho a uma alternativa patriótica e de esquerda, que avance na melhoria das condições de vida do povo português, dê resposta aos défices estruturais com que o País continua confrontado, enfrente sem hesitações a submissão ao Euro e às imposições e condicionalismos da União Europeu (doravante UE), e recupere para Portugal os instrumentos necessários ao seu desenvolvimento soberano, numa Europa de cooperação, progresso e paz.

A grande questão que hoje está colocada ao povo português é a de avançar decisivamente na resposta aos problemas nacionais com o reforço da CDU, ou andar para trás, seja pelas mãos de PSD e CDS, seja pela mão do PS.

As graves consequências de décadas de política de direita e da integração na UE e no Euro, de intensificação da exploração e concentração da riqueza, de destruição da produção nacional, de saque e depredação do erário e património públicos, de canalização de recursos para os grandes grupos económicos e financeiros, foram cinicamente utilizadas para, durante o período do «Pacto de Agressão» subscrito por PS, PSD e CDS com a UE e o FMI, impor um ainda mais violento ataque aos salários e às reformas, aos direitos laborais e sociais, aos direitos democráticos.

Resultado da luta dos trabalhadores e com a intervenção decisiva do PCP, em Outubro de 2015 iniciou-se uma nova fase da vida política nacional. E foi com a luta dos trabalhadores e a intervenção do PCP que se repuseram e conquistaram direitos e rendimentos.

Os importantes avanços alcançados só não foram mais longe devido às opções de classe do PS e do seu Governo minoritário, convergentes com PSD e CDS – de compromisso com os interesses do grande capital e de submissão ao Euro e às imposições da UE.

A realidade demonstra, no entanto, não apenas a necessidade como a possibilidade de um caminho verdadeiramente alternativo, que rompa com aqueles compromissos e sujeições.

A luta é aqui e agora

O voto na CDU é em gente séria que não retira benefícios pela sua eleição, não pactua com o compadrio, a corrupção, o abuso de poder, a submissão do interesse público aos interesses privados. Confiar na CDU é eleger deputados que darão força à ideia de que um País moderno e desenvolvido respeita o trabalho, os trabalhadores e os seus direitos e aspirações; que farão da justiça social e da luta contra quaisquer formas de desigualdade e discriminação o seu constante combate; que defenderão os direitos à saúde, à educação, à habitação, à segurança social, aos transportes e à mobilidade, e rejeitarão o desinvestimento nos serviços públicos e funções sociais do Estado.

O voto na CDU é aquele que dá garantias da eleição de deputados comprometidos com a democracia nas suas vertentes política, económica, social e cultural e com os valores de Abril; deputados intransigentes na defesa da soberania e independência nacionais e no inalienável direito do povo português ao desenvolvimento e ao progresso, numa Europa de paz e cooperação onde não tenham lugar o militarismo, a guerra, as concepções reaccionárias e fascizantes.

Portugal com futuro
numa Europa dos trabalhadores e dos povos

A situação na Europa exige uma profunda reflexão sobre as reais causas do desemprego, da pobreza, das crescentes desigualdades sociais, do aumento das assimetrias entre países, do crescimento da extrema-direita, dos nacionalismos, do racismo, da xenofobia, da guerra, do terrorismo, dos movimentos migratórios em massa. Não fazer esse questionamento e insistir nos caminhos que trouxeram a Europa até este ponto – o caminho da integração capitalista europeia – é permitir a continuação de um rumo que poderá ter consequências dramáticas para todos os povos da Europa.

Mas essa não é uma inevitabilidade. A marcha da Humanidade já demonstrou que na História não existem becos sem saída, realidades imutáveis ou caminhos únicos. A internacionalização da economia, a crescente divisão internacional do trabalho, a interdependência e cooperação entre Estados e os processos de integração correspondem a realidades e tendências de evolução não exclusivas do capitalismo. Em função da sua orientação, características e objectivos, tais processos podem servir os monopólios, ou podem servir os povos.

Os grandes desafios com que os povos da Europa estão confrontados encerram perigos, mas contêm igualmente oportunidades de mobilização, intervenção e luta para avançar para uma Europa de cooperação, de progresso social e de paz.

Está na mão dos povos

A grande questão que a actual situação coloca é a luta e a construção dessa Europa de cooperação, de progresso social e de paz, por via da alteração da correlação de forças em cada país a favor dos trabalhadores e dos povos. Em Portugal, o reforço da CDU e a criação de condições para uma alternativa patriótica e de esquerda constitui um contributo fundamental.

A Europa necessita de confrontar e romper com a centralização e concentração do capital nos grandes monopólios e do poder em instituições supranacionais dominadas pelo directório de potências, comandando pela Alemanha, de rejeitar a chantagem do falso dilema «ou a UE do grande capital e das grandes potências ou a extrema-direita, de confrontar e romper com o processo de integração capitalista.

É esse o caminho alternativo, de luta, que implica a cooperação de todas as forças comunistas, progressistas e de esquerda baseada numa clara posição de ruptura com o processo de integração capitalista. Um processo que pressupõe a construção, no plano nacional, de alternativas que ponham em causa as bases sobre as quais a UE – assenta – o neoliberalismo, o federalismo e o militarismo.

Esta é uma luta que se inscreve como continuadora das grandes lutas e revoluções que fizeram avançar a Humanidade e que garantiram direitos aos trabalhadores e aos povos que ainda hoje marcam positivamente a sua realidade. Um processo herdeiro dos grandes combates em defesa da liberdade e da democracia, como a Revolução do 25 de Abril. É desse património que a CDU se assume como continuadora, propondo, na luta por uma Europa de cooperação, progresso social e paz, seis eixos fundamentais:


Direitos sociais e laborais

Direito ao desenvolvimento soberano
em relações mutuamente vantajosas

Cooperação entre Estados soberanos e iguais em direitos, respeitadora da democracia

Uma Europa solidária e de cooperação com os povos

Respeito pelo meio ambiente

Respeito e promoção pela cultura, a diversidade e o intercâmbio cultural

 

A UE não é a Europa

A recuperação monopolista que tem lugar há mais de quatro décadas no nosso País desenvolveu-se em permanente confronto com as conquistas da Revolução de Abril e a Constituição da República Portuguesa que as consagrou. Processo no qual a política de direita imposta por sucessivos governos PS, PSD e CDS, sozinhos ou coligados, encontrou sustentáculo e inspiração em 33 anos de crescente submissão de Portugal à integração capitalista na CEE/UE e, desde há 20 anos, à União Económica e Monetária e seus instrumentos.

Política de direita e integração capitalista na UE e no Euro são duas faces da mesma moeda que agravou todos os problemas e défices estruturais nacionais e impediu a resposta àqueles que se foram avolumando ao longo do processo. Essa é uma realidade presente na vida social, económica e política do País, que reclama a ruptura com o rumo de crescente submissão e subordinação aos interesses do grande capital e das potências imperialistas.

Ao contrário do que proclamam os arautos da União Económica e Monetária, o Euro não só não protegeu Portugal face à mais recente crise capitalista, como, e pelo contrário, favoreceu a exposição do País – privado da sua soberania monetária e submetido aos severos e gravosos constrangimentos e condicionalismos do Euro – à especulação dos denominados «mercados financeiros» e à chantagem da UE ditada pelas suas grandes potências e determinada pelos interesses dos seus grupos económicos e financeiros.

Caminho desastroso

Demonstrando nada ter apreendido, a UE insiste na acentuação das mesmas políticas e continua a exacerbar as contradições inerentes à sua natureza de classe, posta a nu quando respondeu à crise intensificando a ofensiva aos direitos laborais e sociais, degradando serviços públicos e funções sociais do Estado, promovendo mais privatizações e maior a concentração e centralização do capital.

Os famigerados «programas de assistência financeira», da responsabilidade da UE e do FMI, têm hoje o seu conteúdo e objectivos, no essencial, plasmados no acervo legislativo da UE, prolongando, na prática, a intensificação da exploração e empobrecimento.

Os últimos anos da vida política nacional confirmaram que a defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo, do desenvolvimento económico e da soberania nacional, confrontam-se inevitavelmente com os constrangimentos, ingerência, pressões e chantagem da UE. Além da moeda única, esta detém hoje acrescidos instrumentos e mecanismos de condicionamento das políticas orçamentais e económicas dos Estados, de imposição do controlo pelo grande capital financeiro dos sistemas bancários e da precedência dos interesses das grandes potências nas privatizações, aquisições e fusões ou no estabelecimento de tratados e acordos comerciais.

Soma-se o aprofundamento da UE como pilar europeu da NATO, uma política de imigração violadora de direitos fundamentais e desrespeitadora da soberania dos Estados, como desrespeitadora desta é o aumento do poder de decisão das grandes potências ou a harmonização «por baixo» dos direitos sociais.

Irreformável

A UE insiste assim nos mesmos caminhos e políticas que estão na origem da crise e da situação na Europa. Demonstra não ter soluções para os problemas que cria e para as contradições que exacerba e lança-se numa fuga em frente no aprofundamento do neoliberalismo, do militarismo e do federalismo.

As forças e interesses que estão na origem e aprofundamento do processo de integração capitalista europeu propalam mistificações para dissimular os seus reais objectivos; brandem «ameaças» e «perigos» para fomentar sentimentos de insegurança; aliciam com «mundos e fundos» para condenar Estados e povos à dependência económica e à subalternidade política.

A expressão «mais Europa» não é mais do que uma cortina de fumo, que na verdade significa:

O que a história da CEE/UE demonstra é que a cada salto na integração capitalista aprofundam-se quatro contradições insanáveis, como insanáveis são as contradições do sistema capitalista:

  1. Entre os interesses dos trabalhadores e dos povos cujos direitos são crescentemente desrespeitados, e os interesses do capital transnacional, cuja necessidade de acumulação determina o processo de integração;
  2. Entre a decisão soberana e democrática de um povo e um processo que concentra o poder em instituições supranacionais, que desrespeita a soberania e a independência dos Estados;
  3. Entre os interesses dos países da chamada «periferia» e os interesses das grandes potências;
  4. Entre os diferenciados interesses das grandes potências.

Salvar a Europa dos perigos com que está confrontada exige a intensificação da luta por um outro projecto de cooperação. Um futuro de desenvolvimento soberano e de progresso e justiça social, inseparável, em Portugal, de uma política patriótica e de esquerda e da alternativa política capaz de a assegurar, é um contributo decisivo nesse sentido.