Parar d(e) comprar

António Santos

Terminou vitoriosa, este domingo, a greve de 11 dias levada a cabo por 31 mil trabalhadores da cadeia de super-mercados Stop&Shop em três Estados de Nova Inglaterra, nos EUA. Na primeira greve desta empresa em três décadas, os trabalhadores conseguiram travar a proposta do patronato de retirada de direitos e conquistaram novos aumentos salariais.

A paralisação decretada pelo sindicato Trabalhadores Unidos da Alimentação e do Comércio (UFCW na sigla inglesa) no Massachusetts, no Connecticut e no Rhode Island aconteceu na sequência da caducidade do contrato colectivo de trabalho, em Fevereiro. Apesar de ter embolsado um lucro de dois mil milhões de dólares em 2017, o grupo holandês Royal Ahold Delhaize NV, que também detém outras cadeias de distribuição estado-unidenses como a Hannaford ou a Food Lion, aproveitou o ensejo para procurar reduzir os rendimentos dos trabalhadores. A proposta do patronato pretendia reduzir a fatia das despesas com seguros de saúde a seu cargo, e estabelecer discriminações contratuais entre os trabalhadores, premiando com aumentos salariais os trabalhadores  em part-time, sem quaisquer direitos, e impondo cortes na remuneração dos trabalhadores em full-time há menos de três anos na empresa. No mesmo sentido, os donos da Stop&Shop pretendiam reduzir a remuneração pelo trabalho ao domingo e liberalizar os planos de poupança e reforma da empresa, colocando em cheque o próprio direito à pensão.

Mas ao contrário da maioria das cadeias de super-mercados estado-unidenses em que, ao longo dos últimos 30 anos, o capital conseguiu introduzir facilmente medidas semelhantes, a Stop&Shop conta com uma forte implantação sindical. No dia 23 de Fevereiro, os trabalhadores autorizaram o sindicato a avançar para a greve caso as negociações, mediadas por um juiz federal, falhassem. Foi o que aconteceu no dia 11 de Abril, quando, nos três Estados, 31 mil trabalhadores saíram do posto de trabalho em massa, deixando 241 hipermercados vazios.

A resposta do patronato foi a velha receita de sempre: chamar a polícia, intimidar os piquetes, trazer fura-greves de outros Estados dentro de carrinhas descaracterizadas… mas mesmo onde as lojas continuavam abertas, muitos clientes, sensibilizados pelas famílias nos piquetes, recusaram-se a entrar. Numa demonstração viva de solidariedade de classe, vários sindicatos de outros sectores, da construção aos professores, encarregaram-se de levar diariamente refeições quentes aos trabalhadores nos piquetes de greve.

Numa nota divulgada este domingo, o UFCW declarou vitória e anunciou um acordo provisório para os próximos três anos que carece, no entanto, ainda de ratificação pelos trabalhadores. «Este acordo preserva os direitos de saúde e de reforma, garante aumentos salariais e mantém o salário a 150% aos domingos».

Desde 1999, os rendimentos dos trabalhadores dos hipermercados estado-unidenses caiu 25%, empurrando paulatinamente para a miséria as novas gerações de trabalhadores do sector. Se, há trinta anos, um trabalhador da Market Basket, por exemplo, conseguia com o seu salário comprar uma casa, um carro e pagar a universidade dos filhos, hoje muitos trabalhadores da mesma empresa precisam de recorrer a programas de ajuda humanitária federais, como os Food Stamps, para se conseguirem alimentar.




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