- Nº 2372 (2019/05/16)

«Constrangimentos laborais» são falsa justificação da Soflusa

Trabalhadores

SUPRESSÃO Alegar «constrangimentos laborais» para a eliminação de carreiras é uma tentativa descarada de imputar aos trabalhadores uma situação pela qual estes não são de todo responsáveis.

«A situação caótica na Soflusa não se deve a constrangimentos laborais», declarou no sábado, dia 11, a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans/CGTP-IN), reproduzindo um comunicado do Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante, seu filiado, sobre a situação na empresa.
Esta reacção sindical foi suscitada pelo facto de a administração ter referido, em comunicados ao público utente, que «constrangimentos laborais» poderiam afectar o serviço.
Num primeiro aviso, a 9 de Maio, a empresa escreveu que, «por constrangimentos laborais, podem ocorrer perturbações» na ligação fluvial entre Barreiro e Lisboa, situação que «pode implicar a supressão de carreiras e a irregularidade de horários, em alguns períodos».
No dia seguinte, foi anunciada, alegando o mesmo motivo, a supressão de 33 carreiras nos dias 10 a 17, numa janela horária que, conforme os dias, variava entre as 23h30 e as 7h15. No dia 11, foram comunicadas mais seis supressões para o dia seguinte, domingo.

«Desde 2015 as organizações representativas andam a alertar para a necessidade urgente de contratação de novos trabalhadores», começa por esclarecer o sindicato, indicando depois números ilustrativos da falta de pessoal, nomeadamente:

– nos últimos cinco anos, saíram para a reforma vários trabalhadores (principalmente mestres e marinheiros), sem qualquer substituição;
– no ano passado foram efectuadas 4000 horas extraordinárias por estes profissionais, o que levou a uma exaustão física e psicológica;
– foi feita a admissão de cinco trabalhadores (dois maquinistas de 1.ª, dois marinheiros e um auxiliar de terra), mas prevê-se neste trimestre a saída de três para a reforma (um mestre e dois marinheiros);
– apesar das admissões, continuam a faltar quatro mestres e quatro marinheiros (além de medidas para substituição de trabalhadores que estão de baixa médica, com problemas graves).

«As admissões não chegam para as saídas, por isso não entendemos o comunicado do conselho de administração da Soflusa sobre os constrangimentos laborais, tentativa descarada de implicar aos trabalhadores esta situação», afirma o sindicato, concluindo que «os acontecimentos ocorridos não podem ser imputados aos trabalhadores, que nos últimos anos têm tido brio e dedicação profissional, não deixando de cumprir as suas obrigações, muitas vezes em detrimento do seu descanso, bem como do acompanhamento familiar».

Greve... nem começou

Já na noite de terça-feira, a Lusa deu conta de que a Soflusa, em resposta escrita a perguntas colocadas pela agência noticiosa, admitiu que «não pode prever a reposição da normalidade operacional». A notícia referia que estarão a faltar 24 mestres para assegurar a totalidade das carreiras e que «os mestres estão em greve às horas extraordinárias, depois do pré-aviso de greve» do Sindicato dos Fluviais.
No entanto, «a greve dos mestres só vai começar no dia 23», esclareceu Carlos Costa. Em declarações ao Avante! ontem de manhã, o dirigente do sindicato explicou que, na realidade, o que sucede é que «o pessoal está cansado, com tanto trabalho extraordinário, e não aceita serviços», sendo na profissão de mestres que recai a maior sobrecarga.
Quanto ao número de profissionais em falta, Carlos Costa esclareceu que 24 é o número total de lugares de mestre no quadro de pessoal da Soflusa. Há quatro lugares em falta (para os quais abriu anteontem concurso) e três mestres estão em situação de baixa. Faltam ainda quatro marinheiros.
O dirigente lembrou que a última greve, de três horas por turno, ocorreu a 22 e 23 de Abril. No final de 2018 e início deste ano fizeram greve os agentes comerciais, mas o impacto na movimentação de navios só se fez sentir no Natal e Ano Novo.

Aumento sem resposta

A administração conjunta da Transtejo e Soflusa registou um aumento de 8,3 por cento e 130 mil passageiros, na comparação da utilização das ligações fluviais nos meses de Abril de 2018 e 2019. Mas, como referia ontem o Diário de Notícias, a empresa não vai reforçar a oferta de transporte.
Já na Fertagus, segundo uma fonte oficial citada pelo DN, a resposta ao aumento de passageiros após a entrada em vigor dos novos passes intermodais vai reflectir-se na comodidade do transporte ferroviário entre Lisboa e Setúbal, pela Ponte 25 de Abril: vão ser removidos bancos nas carruagens, para aumentar o número de lugares em pé.