Dimensão político-cultural sem paralelo

Manuel Rodrigues

A com­po­nente po­lí­tica funde-se, na­tu­ral­mente, com a com­po­nente cul­tural

Desde a pri­meira hora, em 1976, a Festa do Avante! nasceu e afirmou-se nas suas qua­renta e duas edi­ções como o maior acon­te­ci­mento po­lí­tico-cul­tural do País.

Ne­nhuma outra festa, em Por­tugal, con­se­guiu com­binar tão bem ele­mentos da cul­tura e da po­lí­tica e, as­so­ci­ando-os de forma di­a­lec­ti­ca­mente equi­li­brada, fazer desta sim­biose uma con­creta e viva ex­pressão do que é o ideal e o pro­jecto co­mu­nista.

A di­mensão po­lí­tica da Festa do Avante! ex­pressa-se de múl­ti­plas ma­neiras: nas ex­po­si­ções, nos de­bates e co­ló­quios sobre di­fe­rentes temas po­lí­ticos em torno de acon­te­ci­mentos re­le­vantes (veja-se os temas de al­gumas das ex­po­si­ções no Pa­vi­lhão Cen­tral: 60 anos de vida ao ser­viço do povo e da pá­tria, 20.º , 30.º, 40º ani­ver­sá­rios da Re­vo­lução de Abril, e este ano o seu 45.º ani­ver­sário sob o tema «Com os va­lores de Abril – Cons­truir um Por­tugal com fu­turo»; cen­te­nário do nas­ci­mento de Álvaro Cu­nhal, II cen­te­nário do nas­ci­mento de Karl Marx. Mas também nos di­versos de­bates sobre temas po­lí­ticos, eco­nó­micos, so­ciais, cul­tu­rais, am­bi­en­tais e ou­tros. Pre­sente ainda na Festa estão os actos de so­li­da­ri­e­dade com a luta dos povos dos cinco con­ti­nentes, os en­con­tros po­lí­ticos com as de­le­ga­ções de par­tidos co­mu­nistas e pro­gres­sistas de vastas re­giões do mundo. Está também, e de forma par­ti­cular, a aná­lise e men­sagem do PCP no acto de aber­tura e no co­mício da Festa no do­mingo (apro­pri­a­da­mente de­no­mi­nado o «co­mício da festa»). Ma­ni­festa-se nos des­files da JCP, no­me­a­da­mente no do­mingo a an­te­ceder o co­mício, nas ex­po­si­ções que as or­ga­ni­za­ções re­gi­o­nais e as de­le­ga­ções in­ter­na­ci­o­nais trazem aos seus es­paços, nas pa­la­vras de ordem, pro­pa­ganda e men­sa­gens.

A festa cons­titui-se no seu todo como montra do modo como o Par­tido Co­mu­nista se or­ga­niza e fun­ciona, na mi­li­tância par­ti­dária e no imenso tra­balho vo­lun­tário de amigos da Festa e do PCP sem fi­li­ação par­ti­dária que a cons­troem e fazem fun­ci­onar de forma sin­gular, tor­nando-a uma re­a­li­dade su­blime e in­tei­ra­mente aberta à fruição de quem a queira vi­sitar. Re­flecte-se também na sen­si­bi­li­dade hu­ma­nista com que os co­mu­nistas por­tu­gueses põem todas as suas ca­pa­ci­dades ao ser­viço da cons­trução de um Por­tugal com fu­turo, num mundo me­lhor.

Na festa do Avante!, a com­po­nente po­lí­tica funde-se, na­tu­ral­mente, com a com­po­nente cul­tural: não é pos­sível cons­truir um mundo de­sen­vol­vido no plano po­lí­tico que o não seja também no plano cul­tural. Não há pro­gresso po­lí­tico sem pro­gresso cul­tural e também não há pro­gresso cul­tural sem pro­gresso po­lí­tico.

Daí que a Festa do Avante! seja, ao mesmo tempo, a Festa da Cul­tura, que é o mesmo que dizer, da arte plás­tica (entre ou­tras ex­pres­sões desta arte, a festa or­ga­niza a bi­enal de artes plás­ticas que este ano terá a sua vi­gé­sima pri­meira edição), do ci­nema (com di­versos ci­clos de ci­nema todos os anos pre­sentes no Ci­ne­a­vante), do te­atro (com múl­ti­plas re­pre­sen­ta­ções no Avan­te­atro), da mú­sica (nos seus di­versos gé­neros e es­tilos em todos os palcos e es­paços), da dança, da gas­tro­nomia, do ar­te­sa­nato, da li­te­ra­tura, da ci­ência, da fo­to­grafia, do des­porto, das ac­ti­vi­dades para as cri­anças. Mas também se re­vela em todo o pro­cesso de con­cepção, or­ga­ni­zação e fun­ci­o­na­mento da festa, nos planos ar­qui­tec­tó­nico, de­co­ra­tivo, am­bi­ental, de pla­ne­a­mento ur­ba­nís­tico, nos ajar­di­na­mentos, no jogo de som, luz e cor (in­cluindo o fogo de ar­ti­fício de do­mingo à noite), no ar­ranjo e lim­peza dos es­paços, nas formas cri­a­tivas de fun­ci­o­na­mento e até nos mo­mentos de cul­tura in­formal, como são os mo­mentos de con­vívio acom­pa­nhados pela gas­tro­nomia, a po­esia, a mú­sica, os can­tares ao de­safio, ou mesmo os grupos co­rais que, es­pon­ta­ne­a­mente, aqui e além, se vão for­mando.

Ao longo das suas qua­renta e duas edi­ções mi­lhares de ar­tistas mar­caram pre­sença na Festa do Avante! tor­nando-se eles pró­prios, na be­leza das men­sa­gens, através da arte trans­mi­tidas, cons­tru­tores da be­leza desse mundo novo, li­ber­tado da ex­plo­ração do homem pelo homem, que a festa, como Festa do Avante!, como festa de Abril, como festa dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, como festa da so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista, pro­jecta na ac­tu­a­li­dade e no fu­turo.

Não é à toa que se diz: não há festa como esta!




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