- Nº 2377 (2019/06/19)

Tensão aumenta no Golfo Pérsico

Internacional

ATAQUES Dois petroleiros foram atacados perto do Estreito de Ormuz. Os EUA responsabilizam o Irão, Teerão acusa a CIA e a Mossad da autoria das sabotagens. Há uma escalada de tensão no Golfo Pérsico.

Os Emiratos Árabes Unidos reconheceram a falta de provas para acusar «algum Estado em concreto» sobre as recentes sabotagens contra petroleiros no Estreito de Ormuz, à entrada do Golfo Pérsico.

Em Abu Dhabi, o titular dos Assuntos Exteriores dos Emiratos, Abdulah bin Zayef, disse que não há provas suficientes sobre a autoria dos atentados e exortou a comunidade internacional a assegurar um tráfico «seguro e natural» por essa zona, de modo a assegurar a «estabilidade da economia mundial».

Os ataques a dois petroleiros, Front Altair e Kokuka Courageous, com pavilhões das Ilhas Marshall e do Panamá, ocorreram na quinta-feira, 13, em águas dos Emiratos, e causaram danos aos navios, cujos tripulantes foram resgatados pela marinha iraniana.

Já em 12 de Maio, outros quatro petroleiros, dois sauditas, um norueguês e outro emirati, tinham sofrido sabotagens em águas próximas do emirato de Fujairah.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou preocupação com as sabotagens, condenou ataques a civis e afirmou que o mundo não pode permitir-se uma confrontação militar no Golfo Pérsico.

Após os ataques, atribuídos a torpedos e a minas, de imediato o presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu secretário de Estado, Mike Pompeo, responsabilizaram sem provas o Irão pelas sabotagens, mas Teerão rejeitou a acusação. Washington divulgou um vídeo em que, alega, se vê a Guarda Revolucionária do Irão a retirar uma mina que não explodiu do casco de um dos navios.

Um assessor presidencial iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, atribuiu as sabotagens à norte-americana CIA e à Mossad israelita. Antes, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammed Yavad Zarif, qualificou de «suspeito» o facto de o ataque ter coincidido com a visita a Teerão do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que estava a tentar mediar o conflito entre EUA e Irão.

Também o embaixador de Teerão em Londres, Hamid Baidineyad, expressou a opinião de que o mundo desconfia das acusações dos EUA. Lembrou que em outras ocasiões Washington mentiu ao mundo para justificar intervenções militares.

Pela zona onde foram atacados os petroleiros, o Estreito de Ormuz – que liga os golfos de Omã e Pérsico – transita mais de um terço do petróleo mundial comercializado por via marítima.

A escalada de tensão na zona dura há um ano, quando Washington se retirou do acordo nuclear assinado entre Teerão e seis potências mundiais e, meses depois, impôs sanções económicas contra o Irão. Recentemente, os EUA enviaram para o Médio Oriente mais bombardeiros B-52, navios de guerra e baterias de mísseis.

Analistas consideram que a escalada de tensão e um eventual conflito militar na zona do Golfo Pérsico (ou Arábico) beneficiam os EUA, que não dependem do petróleo exportado dessa zona. Os seus rivais económicos, como China, União Europeia e Japão, pelo contrário, estão dependentes de importações petrolíferas da região. Além disso, o aumento das tensões garante a continuação da venda de armamento norte-americano à Arábia Saudita e outros países.