Festa é expressão ímpar de como estamos na vida e na política

A Festa\ A sau­dação era-lhes di­ri­gida e foi a eles e ao seu tra­balho – aos cons­tru­tores que a er­guem pelas suas mãos quer no ter­reno quer di­vul­gando-a e ven­dendo a EP, numa en­trega co­lec­tiva sem pa­ra­lelo – que Je­ró­nimo de Sousa co­meçou por de­dicar, sá­bado pas­sado, 24, pa­la­vras fortes de re­co­nhe­ci­mento e va­lo­ri­zação.

Faça Sol ou fala muito Sol er­gue­remos a Festa do Avante! como a maior re­a­li­zação po­lí­tica, so­cial, cul­tural do País

Tra­balho mi­li­tante que, em si mesmo, cons­titui uma «marca dis­tin­tiva em re­lação às ini­ci­a­tivas de ou­tros», afirmou o Se­cre­tário-geral do PCP pe­rante todos aqueles que par­ti­ci­param no pas­sado fim-de-se­mana em mais uma jor­nada de tra­balho de cons­trução da Festa.

E foram muitos, na ordem das largas cen­tenas, os que na­quela tarde de in­tenso calor, na pausa re­ge­ne­ra­dora da jor­nada ini­ciada bem cedo ainda pela fres­quinha, pre­en­cheram o an­fi­te­atro na­tural si­tuado nas tra­seiras do bar de apoio da Festa, para par­ti­cipar na­quele mo­mento si­mul­ta­ne­a­mente de con­vívio e de afir­mação po­lí­tica do Par­tido que põe de pé o maior evento po­lí­tico e cul­tural do País.

«Assim se vê a força do PCP», foi jus­ta­mente a pa­lavra de ordem en­toada pelos pre­sentes à che­gada de Je­ró­nimo de Sousa, que es­tava acom­pa­nhado por mem­bros da di­recção e do se­cre­ta­riado da cé­lula da Festa do Avante!, antes de ser cha­mado a in­tervir por André Nunes, que fez as apre­sen­ta­ções. Dois meses pas­sados sobre o início das jor­nadas, «muitas e exi­gentes ta­refas estão pela frente» até à aber­tura de portas no pró­ximo dia 6, pelo que «todos são in­dis­pen­sá­veis» nestes dias que faltam para «tornar a Ata­laia ainda mais aco­lhe­dora e mais esplên­dida» para os vi­si­tantes», afirmou aquele membro do Se­cre­ta­riado da Festa, que deixou ainda a cer­teza de que, «as­sentes na força da nossa or­ga­ni­zação, no em­penho e mi­li­tância da JCP e do Par­tido e de muitos amigos, iremos re­a­lizar uma grande Festa do Avante!».

Es­pelho do que somos

Essa de­di­cação e em­penho dos mi­li­tantes na cons­trução da Festa, em­pre­gando a sua ex­pe­ri­ência e saber, foi, de resto, um ele­mento muito re­le­vante na in­ter­venção do Se­cre­tário-geral do PCP.

A este pro­pó­sito, re­a­gindo aos que acham que está «fora de moda» o tra­balho mi­li­tante – «há por aí quem con­si­dere que esta par­ti­ci­pação dos mi­li­tantes e amigos do Par­tido na cons­trução da Festa es­taria ul­tra­pas­sada no tempo face aos avanços tec­no­ló­gicos em que tudo se faz com uns di­nheiros e uma boa pu­bli­ci­dade e pro­moção», ob­servou –, Je­ró­nimo de Sousa con­cluiu que os au­tores de tais dis­lates o que pro­curam é «es­conder, des­va­lo­rizar e não re­co­nhecer que também a edi­fi­cação da Festa do Avante!, er­guida a pulso, é ex­pressão ímpar e in­subs­ti­tuível da forma como es­tamos na vida e como es­tamos na po­lí­tica».

«Faça sol ou faça muito sol er­gue­remos a Festa do Avante! como a maior re­a­li­zação po­lí­tica, so­cial, cul­tural e de so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista», pros­se­guiu, ga­ran­tindo que tal ocor­rerá «mesmo sa­bendo que es­tamos no li­miar da ba­talha das le­gis­la­tivas, daqui a mês e meio».

A força do ideal co­mu­nista

De­pois de abordar as elei­ções le­gis­la­tivas de Ou­tubro (ver caixa), o líder co­mu­nista re­tomou o tema com que abrira a in­ter­venção, mos­trando-se con­fi­ante no «tra­balho a do­brar» que o Par­tido e os seus mi­li­tantes têm pela frente, dado que não «po­demos fe­char» para fazer a Festa, e tendo plena cons­ci­ência de que esta será um «mo­mento de grande im­por­tância» para a ba­talha elei­toral.

«Com aquela con­fi­ança, aquela de­ter­mi­nação que nos ca­rac­te­riza, vá ca­ma­radas, vamos a isso», exortou o Se­cre­tário-geral do PCP, que, evo­cando pa­la­vras do his­tó­rico di­ri­gente co­mu­nista An­tónio Dias Lou­renço sobre a he­róica fuga que pro­ta­go­ni­zara do Forte de Pe­niche, re­cordou que este dizia que «os co­mu­nistas são ca­pazes de des­co­brir forças onde muitos pensam que não existem».

«É isso mesmo que es­tamos a fazer», frisou, sa­li­en­tando que a jor­nada de tra­balho do fim-de-se­mana, aquele co­mício e os que nele par­ti­ci­pavam eram, afinal, a de­mons­tração viva disso mesmo. E ques­ti­o­nando-se sobre «o que é que faz animar, agir, tra­ba­lhar com sen­tido de mi­li­tância, o que é que faz esta força», a razão «desta con­vicção, deste ideal, desta dis­po­ni­bi­li­dade re­vo­lu­ci­o­nária», re­matou, dei­xando um de­safio a todos os que dizem que o PCP corre o risco de de­fi­nhar ou de­sa­pa­recer: «pro­curem, ve­nham aqui, ve­nham ver esta Festa do Avante! para per­ce­berem que esses agoiros não serão re­a­li­zados en­quanto este par­tido for o que é: um ver­da­deiro Par­tido Co­mu­nista, o Par­tido Co­mu­nista Por­tu­guês».


A na­tu­reza de classe do PS

O Se­cre­tário-geral do PCP chamou a atenção para o que está em jogo no acto elei­toral de Ou­tubro pró­ximo – «pode de­ter­minar o curso da vida po­lí­tica na­ci­onal nos pró­ximos anos», ad­vertiu –, re­al­çando que esta é uma ba­talha que «nos de­safia à luta, em que avançar é pre­ciso com o re­forço da CDU».

E não faltam ra­zões para que os tra­ba­lha­dores e a ju­ven­tude dêem o seu voto à CDU, face no­me­a­da­mente ao po­si­ci­o­na­mento do PS em ma­téria la­boral, que «não mudou». «O PS tem uma na­tu­reza de classe muito con­creta e essa marca de classe foi re­ve­lada quando se tratou de al­terar a le­gis­lação la­boral. Re­cusou as pro­postas do PCP e lá voltou a contar com o PSD e o CDS para manter a ca­du­ci­dade da con­tra­tação co­lec­tiva, a des­re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho, a le­ga­li­zação abu­siva da pre­ca­ri­e­dade, o alar­ga­mento do pe­ríodo ex­pe­ri­mental», acusou o di­ri­gente co­mu­nista.

«Me­didas que são um en­saio para criar as fu­turas ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores em ge­ra­ções sem di­reitos», alertou ainda Je­ró­nimo de Sousa, antes de ex­pressar uma cer­teza: «Foi a luta de ge­ra­ções in­teiras que os con­quistou, será a luta das ac­tuais e das novas ge­ra­ções de tra­ba­lha­dores que os há de voltar a re­con­quistar».


Quem é quem na de­fesa
e con­quista de di­reitos

Je­ró­nimo de Sousa pro­cedeu a uma breve re­tros­pec­tiva sobre os úl­timos quatro anos, lem­brando que foi por acção e ini­ci­a­tiva do PCP que «foi afas­tado o pe­sa­delo do go­verno PSD/​CDS e foi en­ce­tado o ca­minho da re­po­sição de di­reitos e ren­di­mentos dos tra­ba­lha­dores e do povo, muitos deles já con­si­de­rados por al­guns como per­didos para todo o sempre».

E do mesmo modo que sabia de an­temão que o ca­minho era «di­fícil e exi­gente», uma vez que o Governo mi­no­ri­tário do PS não se li­ber­tara dos «eixos cen­trais da po­lí­tica de di­reita, nem da sub­missão à po­lí­tica do euro e da UE e dos in­te­resses do ca­pital mo­no­po­lista», o Par­tido não só «tinha cons­ci­ência» dessa re­a­li­dade», como sabia que o «PS não tinha mu­dado, o que mu­dara foram as cir­cuns­tân­cias».

«De­ci­dimos e de­ci­dimos bem – e este é um sen­ti­mento que gos­taria de trans­mitir aos ca­ma­radas e amigos –, fi­zemos bem em não perder ne­nhuma opor­tu­ni­dade para repor e con­quistar di­reitos, muitos dos quais iam para além do Go­verno do PS e do seu pro­grama», en­fa­tizou o res­pon­sável co­mu­nista, que re­jeitou ca­te­go­ri­ca­mente que tenha ha­vido qual­quer pos­tura de «con­ci­li­ação» por parte do PCP, re­cu­sando ainda a ideia de que se de­veria ter avan­çado para rom­pi­mentos pe­rante as re­sis­tên­cias ou po­si­ci­o­na­mentos in­tran­si­gentes do PS.

«Em re­lação ao au­mento das re­formas e das pen­sões, ao apoio aos de­sem­pre­gados, aos ma­nuais es­co­lares e a tantas e tantas ou­tras ques­tões de­ci­dimos e de­ci­dimos bem» em pros­se­guir o ca­minho que levou à con­quista de di­reitos que «não se­riam con­quis­tados se não ti­vesse ha­vido a de­ter­mi­nação, a per­sis­tência do PCP e de Os Verdes», su­bli­nhou.