Na XXI Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! estavam expostas setenta e oito obras seleccionadas entre quase duzentas e cinquenta.
Actualmente as artes visuais abrangem um amplo espectro. Pintura, gravura, desenho, fotografia, assemblage, escultura, instalações, outras técnicas mistas, conviviam sem serem conflituantes naquele espaço. A exposição das obras foi organizada com grande coerência, de modo a que o percurso visual dos milhares de visitantes decorresse com um mínimo de sobressaltos, favorecendo que a criatividade de cada uma delas não fosse erodida no inevitável confronto com as outras, uma inevitabilidade em qualquer exposição colectiva.
No contexto e nos objectivos que desde a primeira edição norteiam a Bienal de Artes Plásticas da Festa do Avante! não é relevante referir este ou aquele artista, esta ou aquela obra que obviamente se destaca entre todas. Esta não é uma exposição como as outras, o seu público não é o dos frequentadores dos cubos brancos das salas de exposições, embora essa fracção de público acorra ao espaço da Bienal exactamente por saber que os critérios da Bienal acrescentem valor a qualquer obra que até já pode ter sido exposta noutro espaço. Acrescenta valor porque a sua prioridade é o do valor artístico e não o do valor de mercado que, de qualquer modo e de modo muito diverso, acaba sempre por produzir algum tipo de contaminação.
Como também é prática desde a I Bienal, foi convidado um artista para fazer uma exposição individual. Este ano, José Santa-Bárbara.
É um artista que pinta com ostensiva indiferença por essas correntes de arte contemporâneas, sem nunca se alhear das inquietações e das experimentações estéticas e técnicas da História de Arte. Pinta para promover a comunicação entre as pessoas. Pinta para nos mostrar o mundo que olhamos e não vemos imediatamente. Mesmo quando pinta para ilustrar obras literárias, Memorial do Convento ou Curva da Estrada, percorre a densidade e o imaginário dos textos para construir outro imaginário, para que a visibilidade da pintura dê visibilidade ao texto, numa afirmação da autarcia da pintura. Afirmação bem explícita nessa exposição em que se percebe imediatamente que o interessa a Santa-Bárbara, o que lhe interessa na pintura é a semelhança, como a semelhança faz descobrir o mundo exterior, reinventando esse mundo noutro mundo sem que o sentido e o significado da história, seja em sentido amplo ou quotidiano, se percam.