- Nº 2391 (2019/09/26)

Cem mil por Abril

Opinião

A Direcção-geral do Património Cultural anunciou que o Museu Nacional Resistência e Liberdade atingiu no passado dia 17 de Setembro os cem mil visitantes, isto menos de cinco meses depois da inauguração, no dia 25 de Abril, da primeira fase daquele Museu.

É um número impressionante, tanto mais que falamos de um Museu situado fora da área da grande Lisboa. Um número que diz muito da potencialidade daquele importantíssimo recurso cultural e de memória histórica que deu este ano os seus primeiros passos.

É compreensível, e positivo, o entusiasmo do Governo com a atracção que o Museu Nacional Resistência e Liberdade está a demonstrar, bem patente no facto de se ter eleito a Fortaleza de Peniche, e de um modo mais abrangente a cidade de Peniche, para realizar um conjunto de actividades no âmbito das Jornadas Europeias do Património.

É igualmente positivo que tais jornadas estejam a ser desenvolvidas em cooperação com alguns daqueles que sempre se bateram pela preservação da memória histórica da luta contra o fascismo e pela liberdade, nomeadamente a União de Resistentes Antifascistas Portugueses, que está a co-organizar um roteiro dedicado a valorizar o papel que a população de Peniche teve no apoio aos presos políticos e suas famílias e na luta contra o regime fascista que também oprimia violentamente aquela população e lhes retirava a sua Fortaleza para a fazer campo de terror.

Aquilo que está a acontecer em Peniche tem um valor enorme para a defesa dos valores da liberdade, da democracia e da preservação da verdade e da memória histórica da resistência ao fascismo. Tem uma outra dimensão importantíssima pela qual sempre lutámos, devolver definitivamente a Fortaleza de Peniche ao povo, desde logo ao povo de Peniche.

A forma como aquela população e o povo português estão a abraçar este projecto, visitando-o, usufruindo dele, participando em iniciativas e divulgando para todo o País e para os quatro cantos do mundo o que ali está a nascer é algo de notável e um dos mais belos actos de justiça para com todos aqueles que deram tudo de si – alguns a própria vida – para que Portugal viva hoje em liberdade e em democracia.

Defender a democracia

Comemorar os cem mil visitantes do Museu Nacional Resistência e Liberdade da Fortaleza de Peniche é em si uma forma, bela, de defender a democracia. É uma forma de lutar contra todos os intentos que, mais ou menos disfarçados, continuam a tentar branquear e recuperar a brutal ditadura que oprimiu e explorou o povo português durante meio século. É uma forma de dizer às novas gerações que o Mundo não está condenado a novas páginas negras de História.

Cem mil visitantes é uma grande vitória. Uma vitória de Abril e do povo português. E, é preciso dizê-lo, uma vitória de todos aqueles que naquele Outono de 2016, perante a decisão deste mesmo Governo do PS, se mobilizaram, indignaram, lutaram para impedir a instalação na Fortaleza de Peniche de uma unidade hoteleira que iria nascer naqueles edifícios onde, durante décadas, os comunistas e outros democratas foram encarcerados por lutarem pela liberdade para o seu povo.

Aquilo que agora está a nascer e a acontecer dentro daquelas muralhas e na cidade de Peniche é em si mesmo uma lição de que vale a pena lutar e que é possível avançar. É igualmente uma lição de que a força do PCP e da CDU conta muito para fazer avançar o País e para defender Abril e os seus valores. Mas atenção, há muito por fazer! Para que o Museu Nacional Resistência e Liberdade seja uma realidade na plenitude do que está programado é absolutamente indispensável que, no próximo dia 6, a CDU tenha mais força. Porque, quanto mais força tiver a CDU, mais defendida estará a democracia, mais futuro terá Abril. Que não se tenha dúvidas.


Ângelo Alves