Aliviar ou acabar com a pobreza?

Manuel Rodrigues

A francesa Esther Duflo, o indiano Abhijit Banerjee e o americano Michael Kremer foram os vencedores do Prémio Nobel de Economia de 2019, «pela sua abordagem experimental para aliviar a pobreza global», afirmou o júri da Academia Real de Ciências da Suécia, acrescentando que «apesar das melhorias recentes, um dos maiores desafios da humanidade continua sendo a redução da pobreza no mundo, em todas as suas formas».

De facto, cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, ou seja, o equivalente a setenta vezes a população de Portugal, ainda vivem em situação de extrema pobreza. Ora, não questionando a atribuição do prémio Nobel, no caso de Duflo (uma das laureadas), há, no entanto, uma estranha contradição entre o reconhecimento do «mérito» do seu trabalho para o alegado combate à pobreza e o facto de, em 2013, ter sido a escolhida pela Casa Branca para aconselhar o presidente Barack Obama em questões de desenvolvimento.

Como é sabido, o imperialismo norte-americano, como a realidade todos os dias o demonstra, não se caracteriza propriamente por ser promotor de desenvolvimento e combate à pobreza. Pelo contrário, o que lhe é característico é a sua «pose» de polícia do mundo, é a sua acção exploradora, opressora, agressiva e predadora como se vê nas guerras que desencadeia, nas agressões, ocupações, saques, pilhagens, bloqueios, sabotagens, num processo contínuo de desestabilização da vida dos povos, esses sim, causas de morte, fome, pobreza, miséria e outros incontáveis sofrimentos que atingem largas centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro, incluindo milhões de crianças e de jovens.

Cabe então perguntar: será que Duflo aconselhou mal Barack Obama e foi por isso que a pobreza continuou a alastrar? Ou será que as suas «soluções», mais do que para a pobreza, são «soluções» para as crises (e, em particular, para a sua crise estrutural) de que o capitalismo – esse sim, a grande causa da pobreza e das desigualdades sociais – não consegue libertar-se?

Por mais profundos que sejam, vá-se lá saber porquê, há estudos que não conseguem dar respostas às perguntas triviais...




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