30 anos após a denominada «queda do muro de Berlim»

MEMÓRIA Três dé­cadas após a de­no­mi­nada «queda do muro de Berlim» re­gressa em força o re­vi­si­o­nismo his­tó­rico e novas vagas de an­ti­co­mu­nismo. Mas ha­verá algo para ce­le­brar com o ca­pi­ta­lismo que se diz triun­fante?

O fim do campo so­ci­a­lista na Eu­ropa tornou o mundo mais in­justo

A pas­sagem dos 30 anos após a de­no­mi­nada «queda do muro de Berlim» tem ser­vido de pre­texto para mais uma onda de re­vi­si­o­nismo his­tó­rico, em que a des­con­tex­tu­a­li­zação e fal­si­fi­cação dos acon­te­ci­mentos ocor­ridos a 9 de No­vembro de 1989 serve de mote para uma nova e so­fis­ti­cada cam­panha an­ti­co­mu­nista, em que o ca­pi­ta­lismo ce­lebra não só a ane­xação da Re­pú­blica De­mo­crá­tica Alemã (RDA) pela RFA, mas igual­mente as der­rotas do so­ci­a­lismo na União So­vié­tica e nou­tros países do Leste da Eu­ropa.

A «queda do muro de Berlim» foi e con­tinua a ser apre­sen­tada ao mundo como se de uma vi­tória dos ideais da li­ber­dade e de paz se tra­tasse, como uma pre­tensa prova da su­pe­ri­o­ri­dade e vi­ta­li­dade do ca­pi­ta­lismo e su­posta con­de­nação his­tó­rica do so­ci­a­lismo. No en­tanto, trinta anos pas­sados, é uma evi­dência que, com o fim da RDA e do campo dos países so­ci­a­listas na Eu­ropa, a glo­ba­li­zação ca­pi­ta­lista que lhe su­cedeu tornou o mundo mais opri­mido, mais in­justo, mais in­se­guro, de­mons­trando que o so­ci­a­lismo faz falta ao mundo.

Num tempo em que, para impor o seu poder, o ca­pi­ta­lismo con­tinua a er­guer por esse mundo fora bar­reiras do mais va­riado tipo (so­ciais, ra­ciais, re­li­gi­osas, entre ou­tras), in­cluindo muros de betão, aço ou arame far­pado, pa­tru­lhados por forças mi­li­tares – da Pe­nín­sula da Co­reia à fron­teira dos EUA com o Mé­xico, pas­sando pela Pa­les­tina ou pelo Saara Oci­dental –, é opor­tuno ter pre­sente que o muro de Berlim surgiu, em 1961, num pe­ríodo de for­tís­sima ofen­siva do im­pe­ri­a­lismo contra a RDA, cri­ando nesta ci­dade, si­tuada no co­ração deste país so­be­rano, um dos mais pe­ri­gosos focos de tensão in­ter­na­ci­onal, as­su­mindo então a cons­trução do muro um in­ques­ti­o­nável ca­rácter de­fen­sivo e dis­su­asor.

Crise, opressão e guerra

A des­truição do pri­meiro Es­tado alemão an­ti­fas­cista, a li­qui­dação das suas con­quistas so­ci­a­listas e a sua ane­xação pela RFA, con­duziu a uma Ale­manha cujas am­bi­ções im­pe­ri­a­listas, bem pre­sentes na sua he­ge­monia na União Eu­ro­peia, ti­veram uma ex­pressão par­ti­cu­lar­mente grave na guerra de agressão contra a Ju­gos­lávia e sua con­se­quente des­truição – na que foi a pri­meira guerra na Eu­ropa após o fim da Se­gunda Guerra Mun­dial. O pe­rigo do mi­li­ta­rismo alemão, de tão trá­gica me­mória, não está afas­tado. E tanto mais quando as forças de ex­trema-di­reita le­vantam a ca­beça e, como acon­tece com a fas­ci­zante «Al­ter­na­tiva para a Ale­manha», ocupam já im­por­tantes po­si­ções no Bun­destag e nos par­la­mentos dos Lander ale­mães.

Trinta anos vol­vidos sobre a onda de triun­fa­lismo sus­ci­tada pelo fim do campo so­ci­a­lista na Eu­ropa, o ca­pi­ta­lismo está a braços com o apro­fun­da­mento da sua crise es­tru­tural e não só se re­vela in­capaz de dar res­posta aos pro­blemas da Hu­ma­ni­dade como, do­mi­nado pelo ca­pital fi­nan­ceiro e es­pe­cu­la­tivo, acentua a sua na­tu­reza ex­plo­ra­dora, opres­sora, agres­siva e pre­da­dora, o seu ca­rácter pro­fun­da­mente in­justo e de­su­mano.

E pe­rante a cres­cente re­sis­tência e luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos e um pro­cesso de re­ar­ru­mação de forças no plano in­ter­na­ci­onal que co­loca em causa a he­ge­monia do im­pe­ri­a­lismo, os sec­tores mais re­ac­ci­o­ná­rios e agres­sivos da classe do­mi­nante jogam cada vez mais no fas­cismo e na guerra como «saída» para as di­fi­cul­dades e con­tra­di­ções com que o ca­pi­ta­lismo se de­bate. Uma si­tu­ação que exige dos co­mu­nistas e de ou­tras forças de­mo­crá­ticas e anti-im­pe­ri­a­listas de todo o mundo a in­ten­si­fi­cação da luta contra o re­tro­cesso re­ac­ci­o­nário e o fas­cismo, em de­fesa da so­be­rania e da de­mo­cracia, pelo de­sar­ma­mento e a paz.

Va­li­dade e ac­tu­a­li­dade do so­ci­a­lismo

Des­men­tindo a eu­foria triun­fa­lista após 1989 e os falsos prog­nós­ticos do «fim da his­tória», a vida está a con­firmar a va­li­dade e a ac­tu­a­li­dade do ideal e do pro­jecto co­mu­nista. O sé­culo XX não foi o sé­culo da morte do co­mu­nismo, mas o sé­culo em que, no ca­minho des­bra­vado pela Re­vo­lução de Ou­tubro, o co­mu­nismo nasceu e de­mons­trou a pos­si­bi­li­dade de re­or­ga­nizar a so­ci­e­dade no in­te­resse dos tra­ba­lha­dores e dos povos.

O pro­cesso de li­ber­tação da Hu­ma­ni­dade de todas as formas de ex­plo­ração e de opressão re­velou-se mais com­plexo, aci­den­tado e de­mo­rado do que os su­cessos al­can­çados na cons­trução da nova so­ci­e­dade fa­ziam prever, mas o ca­pi­ta­lismo está his­to­ri­ca­mente con­de­nado – o so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo são o fu­turo da Hu­ma­ni­dade.

É com esta firme con­vicção que o PCP, lu­tando pela re­po­sição da ver­dade his­tó­rica e ex­pres­sando a sua ac­tiva so­li­da­ri­e­dade a todos os povos, trava a sua luta em Por­tugal em de­fesa dos di­reitos, in­te­resses e as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e por uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda, por uma de­mo­cracia avan­çada com os va­lores de Abril, parte in­te­grante e in­dis­so­ciável da cons­trução do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo.