Povo da Guiné-Bissau escolherá o seu futuro

Carlos Lopes Pereira

Nas elei­ções pre­si­den­ciais de 24 deste mês, na Guiné-Bissau, o que está em jogo «não é uma de­cisão sobre can­di­datos, é a de­cisão sobre a nossa vida, sobre o nosso fu­turo».

As pa­la­vras de Do­mingos Si­mões Pe­reira, líder e can­di­dato do PAIGC, num co­mício em Bissau, no início desta se­mana, tra­duzem bem a im­por­tância atri­buída à es­colha do pró­ximo pre­si­dente da Guiné-Bissau, num am­bi­ente mar­cado pelo re­cente agra­va­mento da crise po­lí­tica no país.

Em fi­nais de Ou­tubro, a três se­manas das elei­ções, o ac­tual pre­si­dente da Re­pú­blica, José Mário Vaz, que se re­can­di­data ao cargo como «in­de­pen­dente», de­mitiu Aris­tides Gomes e o seu go­verno e no­meou um novo pri­meiro-mi­nistro, Faus­tino Im­bali.

Tanto o PAIGC como a co­mu­ni­dade in­ter­na­ci­onal re­cu­saram a de­cisão – de­nun­ciada por di­versos sec­tores em Bissau como uma ma­nobra para adiar as elei­ções pre­si­den­ciais ou, pelo menos, con­trolar o pro­cesso elei­toral –, pelo que o país vive neste mo­mento a com­plexa si­tu­ação de ter dois go­vernos e dois pri­meiros-mi­nis­tros.

Numa rara con­ver­gência de po­si­ções, o Con­selho de Se­gu­rança das Na­ções Unidas, a União Eu­ro­peia, a Co­mu­ni­dade Eco­nó­mica dos Es­tados da África Oci­dental (Ce­deao), e a Co­mu­ni­dade dos Países de Língua Por­tu­guesa (CPLP), além de go­vernos de países como os Es­tados Unidos, Brasil, An­gola, Es­panha e Por­tugal, con­de­naram a in­ter­venção do pre­si­dente gui­ne­ense e de­cla­raram re­co­nhecer apenas o go­verno che­fiado por Aris­tides Gomes, saído das elei­ções le­gis­la­tivas de Março deste ano, ga­nhas pelo PAIGC.

O pró­prio pri­meiro-mi­nistro «de­mi­tido» re­cusou-se a re­co­nhecer a le­gi­ti­mi­dade do de­creto de José Mário Vaz, quer por ser can­di­dato às pre­si­den­ciais, quer por o seu man­dato ter ter­mi­nado em Junho e ter po­deres li­mi­tados, per­ma­ne­cendo no cargo por con­cessão da Ce­deao.

Desde há anos a prin­cipal me­di­a­dora das su­ces­sivas crises po­lí­ticas e mi­li­tares na Guiné-Bissau, a Ce­deao en­viou no fim-de-se­mana uma de­le­gação a Bissau, che­fiada pelo pre­si­dente da sua co­missão, Jean Kassi Brou.

No final da vi­sita, a or­ga­ni­zação re­a­firmou o apoio ao pri­meiro-mi­nistro Aris­tides Gomes, rei­terou o «ca­rácter ilegal» do de­creto pre­si­den­cial que o de­mite, ame­açou impor san­ções a quem tentar per­turbar as elei­ções e en­co­rajou o go­verno a in­ten­si­ficar a luta contra o trá­fico de droga, «que con­tinua a ser uma ameaça para a se­gu­rança e es­ta­bi­li­dade da Guiné-Bissau e de toda a sub-re­gião».

Sau­dando o co­meço da cam­panha elei­toral, até agora pa­cí­fica, a Ce­deao exortou os 12 can­di­datos pre­si­den­ciais a com­petir sem vi­o­lência, anun­ciou que vai en­viar 70 ob­ser­va­dores, com o ob­jec­tivo de con­tri­buir para «o re­forço da trans­pa­rência e cre­di­bi­li­dade» das elei­ções e con­firmou a re­a­li­zação, nos pró­ximos dias, em Ni­amey, de uma ci­meira ex­tra­or­di­nária da Ce­deao, sobre a si­tu­ação na Guiné-Bissau. Jean Kassi Brou fe­li­citou o «pro­fis­si­o­na­lismo» da força mi­litar da Ce­deao que se en­contra es­ta­ci­o­nada na Guiné-Bissau desde o úl­timo golpe de Es­tado, em 2012, e a «neu­tra­li­dade» de­mons­trada, até agora, pelas forças ar­madas gui­ne­enses.

Ci­ente das di­fi­cul­dades e in­cer­tezas de hoje, o povo da Guiné-Bissau, que no pas­sado foi o prin­cipal pro­ta­go­nista de uma exem­plar luta po­lí­tica e ar­mada de li­ber­tação na­ci­onal, en­ca­be­çada por Amílcar Ca­bral e pelo PAIGC, as­pira a um fu­turo me­lhor e sa­berá en­con­trar o ca­minho para, em paz e uni­dade, con­ti­nuar o de­sen­vol­vi­mento.




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