Médio Oriente: o objectivo principal

Albano Nunes

O respeito pela soberania dos países é central para a paz no Médio Oriente

Se há região do mundo profundamente marcada pela instabilidade e incerteza que caracterizam a situação internacional ela é o Médio Oriente (MO). A escalada de confrontação provocada pelo vil assassinato do general iraniano Soleimani parece de momento contida, mas grandes perigos subsistem.

Os EUA não dão sinal de desistir dos seus objectivos hegemónicos e exigem dos aliados da NATO e da União Europeia maior solidariedade e empenho na sua estratégia agressiva, anunciam novas sanções ao Irão, proclamam com insolência que as suas tropas não sairão do Iraque. Tentar prever os desenvolvimentos imediatos da situação perante o intrincado nó de contradições que percorre o MO é tempo perdido. Certa é a ampla condenação popular dos crimes do imperialismo e a exigência da retirada das tropas dos EUA da região.

A campanha de desinformação é avassaladora. Chega a fazer passar por terroristas forças que deram uma contribuição decisiva no combate ao Daesh enquanto os imperialistas se empenham em proteger os verdadeiros terroristas; a justificar o terrorismo de Estado norte-americano e a responsabilizar o Irão pela violação do tratado nuclear que os EUA rasgaram; a transformar em vítima o regime sionista de Israel enquanto este massacra palestinianos, bombardeia na Síria e faz pender sobre o Irão a ameaça de um ataque nuclear preventivo. Campanha que dá cobertura à política agressiva do imperialismo norte-americano que, desde a nova ordem mundial proclamada aquando da guerra do Golfo ao projecto do Grande Médio Oriente, visa o domínio económico e geo-estratégico de uma região riquíssima em petróleo e situada na confluência de três continentes.

Combater tanta desinformação é indispensável para a compreensão das causas da perigosa situação actual, apontar o inimigo e o perigo principal, orientar a solidariedade para com a luta dos povos desta martirizada região. E para isso é necessário não esquecer a sua longa e heróica luta pela independência e soberania nacional frente ao império otomano e à colonização anglo-francesa nem a cínica prática imperialista de dividir para reinar acirrando conflitos religiosos, étnicos e territoriais.

Concretamente em relação ao Irão, é preciso lembrar a leonina exploração das multinacionais petrolíferas que levou ao derrube pela CIA do governo progressista de Mosadegh em 1953; a sinistra ditadura do Xá e a transformação do Irão no mais avançado baluarte do imperialismo contra a URSS; a revolução de 1979, infelizmente apropriada pelo clero e desviada do seu curso popular e democrático original, mas que vibrou um golpe tão profundo nas posições do imperialismo norte-americano que a sua humilhante derrota ainda hoje marca a sanha agressiva dos EUA contra o Irão.

Não há outro caminho para o progresso social e a paz no MO que não passe pelo respeito pela independência e soberania dos países da região. Os EUA insistem na sua política de ingerência e agressão mas as suas dificuldades no terreno, como na Síria, são evidentes e, mais tarde ou mais cedo, as forças de ocupação serão forçadas a retirar. É esse o objectivo principal.




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