Fortalecer a capacidade de monitorizar e gerir os recursos hídricos

Vladimiro Vale (Membro da Comissão Política)

No de­curso da cam­panha pro­mo­vida pela DORCB do PCP em torno do Rio Tejo e Ponsul – «Salvar os nossos rios» – fi­caram evi­dentes vá­rios as­pectos que im­porta su­bli­nhar.

A água é de­ma­siado im­por­tante para estar sob con­trolo pri­vado

A gestão da água con­cen­trada na ob­tenção de lucro, nas bar­ra­gens de pro­dução ener­gé­tica e uni­dades in­dus­triais, com­bi­nada com a de­pau­pe­rada ca­pa­ci­dade dos or­ga­nismos do Es­tado em mo­ni­to­rizar os pa­râ­me­tros am­bi­en­tais, não per­mitem olhar para os rios e bar­ra­gens na sua ple­ni­tude de fun­ções e abrem ca­minho à de­gra­dação das massas de água.

Os su­ces­sivos go­vernos foram muito efi­ci­entes a atacar a ca­pa­ci­dade do Es­tado de mo­ni­to­rizar quer a qua­li­dade, quer a quan­ti­dade de água dos nossos rios e bar­ra­gens. O INAG foi de­gra­dado e em­po­bre­cido e pos­te­ri­or­mente in­te­grado na APA, perdeu qua­dros, perdeu meios e até perdeu ca­pa­ci­dade de con­trolar e re­co­lher dados das es­ta­ções do Sis­tema de Mo­ni­to­ri­zação de Re­cursos Hí­dricos. Perdeu-se ca­pa­ci­dade de as­se­gurar a gestão, a pla­ni­fi­cação e até a mo­ni­to­ri­zação de pro­to­colos in­ter­na­ci­o­nais. Or­ga­nismos do Es­tado fracos e inac­tivos, per­mitem uma gestão ao sabor dos in­te­resses da­queles que apenas olham para a água, e para Na­tu­reza, à pro­cura do lucro ime­diato, to­mando apenas em con­si­de­ração os re­sul­tados mais pró­ximos e ime­di­atos.

O PCP tem vindo a de­fender mais meios pú­blicos para gerir e mo­ni­to­rizar os rios, mais con­trolo e re­visão dos pro­to­colos in­ter­na­ci­o­nais de gestão dos rios (Con­venção de Al­bu­feira) e gestão pú­blica da água. O pro­blema da gestão dos rios não re­side na exis­tência de bar­ra­gens, não ig­no­rando im­pactos am­bi­en­tais que sempre terão, mas sim na na­tu­reza de quem as gere. O PCP tem vindo a de­fender a ne­ces­si­dade de in­ves­ti­mentos como a «bar­ragem do Al­vito pen­sada como um em­pre­en­di­mento de fins múl­ti­plos», de «ar­ma­ze­nagem es­tra­té­gica de água doce (desde logo para re­gu­lação a ju­sante dos cau­dais do rio Tejo, para o abas­te­ci­mento de água às po­pu­la­ções e para rega na agri­cul­tura, entre ou­tros) e para a pro­dução de energia.»i

PCP tem so­lu­ções

O PCP apre­sentou uma pro­posta no Or­ça­mento de Es­tado de 2020 com vista à Re­a­bi­li­tação e Re­cu­pe­ração do Sis­tema de Mo­ni­to­ri­zação de Re­cursos Hí­dricos, «in­cluindo a re­a­bi­li­tação e re­forço da rede de es­ta­ções de mo­ni­to­ri­zação, a ope­ra­ci­o­na­li­zação das ro­tinas de re­colha e pro­ces­sa­mento de dados, bem como a pu­bli­cação e dis­po­ni­bi­li­zação na In­ternet das res­pec­tivas sé­ries e anuá­rios».

Pro­pondo «um re­forço or­ça­mental, em 2020, de 5 000 000 de euros, pro­ve­ni­entes do Fundo Am­bi­ental, a aplicar na con­tra­tação de meios hu­manos e na aqui­sição dos meios ma­te­riais ne­ces­sá­rios para o efeito».

O PCP propõe ainda o au­mento do «nú­mero de es­ta­ções da rede hi­dro­mé­trica na­ci­onal para um valor mí­nimo idên­tico ao que es­tava em fun­ci­o­na­mento em 2008 (379 es­ta­ções), per­mi­tindo assim: a mo­ni­to­ri­zação de ní­veis e cau­dais de rios e cursos de água, mo­ni­to­ri­zação dos prin­ci­pais ele­mentos re­la­tivos à si­tu­ação nas al­bu­feiras e as con­di­ções de ve­ri­fi­cação dos acordos no caso de ba­cias hi­dro­grá­ficas par­ti­lhadas entre Por­tugal e Es­panha». Propõe ainda a «re­a­va­li­ação da rede de qua­li­dade de águas su­per­fi­ciais» e o «re­forço acen­tuado da rede de mo­ni­to­ri­zação de re­cursos hí­dricos sub­ter­râ­neos».

A água é de­ma­siado im­por­tante para estar sob con­trolo dos in­te­resses pri­vados, pelo que, também nesta área se co­loca a ne­ces­si­dade de abrir ca­minho a uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda de de­fesa do meio am­bi­ente, do or­de­na­mento do ter­ri­tório e a pro­moção de um efec­tivo de­sen­vol­vi­mento re­gi­onal, com o apro­vei­ta­mento ra­ci­onal dos re­cursos, cri­te­ri­osas po­lí­ticas de in­ves­ti­mento pú­blico e de con­ser­vação da na­tu­reza.

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i http://​www.avante.pt/​pt/​2396/​temas/​156925/​Bar­ragem-do-Al­vito-mais-uma-v%C3%AD­tima-do-pro­cesso-de-pri­va­tiza%C3%A7%C3%B5es.htm




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