José Moreira foi assassinado pela PIDE por defender o Partido e o Avante!

HO­ME­NAGEM No dia 25, quando se cum­priam 70 anos do seu as­sas­si­nato pelo fas­cismo, José Mo­reira foi evo­cado pelo PCP em Vi­eira de Leiria: era membro do Co­mité Cen­tral e res­pon­sável pelas ti­po­gra­fias clan­des­tinas.

José Mo­reira sabia onde se en­con­travam as ti­po­gra­fias e não re­velou

A evo­cação, re­a­li­zada na terra natal de José Mo­reira, constou de dois mo­mentos: a de­po­sição de uma coroa de flores na rua que tem o seu nome e uma sessão na Bi­bli­o­teca de Ins­trução e Re­creio da Praia da Vi­eira, na qual in­ter­vi­eram José Luís de Sousa, da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Leiria do PCP, e Ma­nuel Ro­dri­gues, di­rector do Avante! e membro da Co­missão Po­lí­tica.

Nas duas ini­ci­a­tivas foram su­bli­nhados os vá­rios as­pectos da bi­o­grafia de José Mo­reira: do seu nas­ci­mento em Vi­eira de Leiria à mu­dança para a Ma­rinha Grande, muito jovem, para tra­ba­lhar como ope­rário vi­dreiro; da to­mada de cons­ci­ência so­cial e po­lí­tica à adesão ao PCP; da pas­sagem à clan­des­ti­ni­dade à sua prisão e pos­te­rior as­sas­si­nato, aos 37 anos. Como su­bli­nhou Ma­nuel Ro­dri­gues, José Mo­reira «foi tor­tu­rado até à morte, mas não falou», de­fen­dendo assim, com a sua vida, o se­gredo da lo­ca­li­zação das ti­po­gra­fias clan­des­tinas do Par­tido, as mesmas que con­si­de­rava «o co­ração da luta po­pular».

A ac­ti­vi­dade clan­des­tina de José Mo­reira es­teve sempre li­gada ao apa­relho de im­prensa do Par­tido, para onde foi tra­ba­lhar logo em 1945, quando mer­gu­lhou na clan­des­ti­ni­dade. Essa era uma ta­refa árdua e exi­gente, que re­queria uma de­di­cação ili­mi­tada e a má­xima cri­a­ti­vi­dade, pois a vi­gi­lância era muita e os obs­tá­culos imensos: da compra do papel e da tinta, se­ve­ra­mente con­tro­lados pela PIDE, a todo o tra­balho ne­ces­sário para reunir os textos, en­tregá-los nas ti­po­gra­fias, acom­pa­nhar a im­pressão e dis­tri­buir os jor­nais. A tudo isto José Mo­reira se de­dicou «de forma exem­plar», va­lo­rizou o di­rector do Avante! (ver caixa).

O co­ração da luta po­pular

A PIDE fazia da caça às ti­po­gra­fias clan­des­tinas do PCP uma das suas ac­ti­vi­dades pri­o­ri­tá­rias, certa que es­tava da im­por­tância do Avante! e dos res­tantes ma­te­riais par­ti­dá­rios ou uni­tá­rios aí pro­du­zidos para a mo­bi­li­zação e or­ga­ni­zação da luta an­ti­fas­cista.

Quando, em Ja­neiro de 1950, na sequência de uma de­núncia, as­saltou uma casa clan­des­tina em Torres Ve­dras e prendeu José Mo­reira, a PIDE sabia que tinha cap­tu­rado o res­pon­sável pelas ti­po­gra­fias e ali­mentou a ex­pec­ta­tiva de des­man­telar a rede de ti­po­gra­fias do Par­tido. Para tal, bas­taria que o preso fa­lasse. Mas José Mo­reira pre­feriu morrer a de­nun­ciar.

Con­su­mado o crime, os es­birros pro­curam es­condê-lo e en­cenam um sui­cídio, lan­çando o corpo de José Mo­reira de uma ja­nela do ter­ceiro andar da te­ne­brosa sede da PIDE, na Rua An­tónio Maria Car­doso, em Lisboa. De ime­diato, o Par­tido de­nuncia o as­sas­si­nato do seu mi­li­tante: o Co­mité Pro­vin­cial do Oeste apela à pa­ra­li­sação do tra­balho nas fá­bricas e do co­mércio na Ma­rinha Grande, à re­a­li­zação de ins­cri­ções «por toda a parte» e ao envio às au­to­ri­dades de cartas e te­le­gramas de pro­testo; o Avante! as­sume que a me­lhor ho­me­nagem que se po­deria prestar a José Mo­reira era «levar o Avante!, o seu Avante!, a todos os re­cantos do País».

Levar o Avante! mais longe

Também hoje é ne­ces­sário levar mais longe o Avante!, as­sumiu mais adi­ante Ma­nuel Ro­dri­gues, lem­brando a sua im­por­tância para a vida do Par­tido e a apro­xi­mação do ani­ver­sário do órgão cen­tral do PCP, edi­tado pela pri­meira vez a 15 de Fe­ve­reiro de 1931. Para o di­ri­gente co­mu­nista, é «pos­sível au­mentar a venda do Avante!», desde logo pondo «mais ca­ma­radas e amigos a ad­quirir» o jornal. Há me­didas já de­fi­nidas para con­cre­tizar tal ob­jec­tivo, que as or­ga­ni­za­ções par­ti­dá­rias devem levar por di­ante.

Este é não apenas um re­le­vante con­tri­buto para o es­forço mais geral de re­forço da or­ga­ni­zação e in­ter­venção do Par­tido como, também, a mais justa ho­me­nagem a José Mo­reira, que há 70 anos morreu para que o Avante! e o seu Par­tido vi­vessem!

 

De­di­cação, sen­si­bi­li­dade e co­ragem

A ta­refa a que José Mo­reira se de­dicou desde que passou à clan­des­ti­ni­dade, em 1945, até ao seu as­sas­si­nato, cinco anos de­pois, exigia qua­li­dades e ca­rac­te­rís­ticas par­ti­cu­lares. Desde logo, porque o apa­relho de im­prensa do Par­tido era um dos alvos pri­vi­le­gi­ados da PIDE, mas também pelas pró­prias con­di­ções e exi­gên­cias do tra­balho.

Assim, havia que ar­ranjar papel e tinta, cuja venda a PIDE chegou a li­mitar e a vi­giar, e dis­tribuí-los pelas di­versas ti­po­gra­fias. De­pois, era ne­ces­sário re­ceber os textos re­di­gidos pelos di­ri­gentes do Par­tido e en­tregá-los aos ti­pó­grafos. O úl­timo passo era fazer chegar os jor­nais, bo­le­tins ou ma­ni­festos à or­ga­ni­zação do Par­tido para que os dis­tri­buísse.

Ora, isto exigia múl­ti­plos en­con­tros, longas des­lo­ca­ções, a má­xima dis­crição e si­gilo e um res­peito ab­so­luto pelas re­gras cons­pi­ra­tivas. Para cum­prir todas estas ta­refas, José Mo­reira – Lino, de pseu­dó­nimo clan­des­tino – che­gava a per­correr men­sal­mente 2500 qui­ló­me­tros de bi­ci­cleta, car­re­gando grandes cargas.

Ma­nuel Ro­dri­gues su­bli­nhou ainda outra ca­rac­te­rís­tica de José Mo­reira, re­ve­lada por quem com ele con­viveu: o acom­pa­nha­mento, apoio e es­tí­mulo que pres­tava àqueles que tra­ba­lhavam no iso­la­mento das ti­po­gra­fias.



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