«Evolução na continuidade»

Carlos Gonçalves

Este sound bite de Mar­celo Ca­e­tano sin­te­ti­zava, em 1968, o que era para fazer constar como «nova fase» do fas­cismo pós-Sa­lazar. Mas tratou-se apenas de mudar al­guma coisa, na no­men­cla­tura e pouco mais, para que tudo fi­casse na mesma, até 25 de Abril de 1974.

Hoje, em Por­tugal, as forças po­lí­ticas mais à di­reita estão num pe­ríodo dito de «evo­lução», a que al­guns co­men­ta­dores «sim­pá­ticos» (para eles) chamam «re­con­fi­gu­ração». Na re­a­li­dade, do que se trata é de «novas» si­glas e fer­ra­mentas de co­mu­ni­cação e nomes novos ou re­cu­pe­rados do baú dos grandes in­te­resses, e que são de facto «mais do mesmo».

Em 46 anos, foi agora o 28.º(!) Con­gresso do CDS: trata-se de um re­cord mun­dial, ou quase, de mis­ti­fi­ca­ções e fa­cadas nas costas. De lá saiu um novo «chefe», Chicão Ro­dri­gues dos Santos, cuja maior «qua­li­dade» é ter sido no­meado pela Forbes em 2018 como «um dos jo­vens mais bri­lhantes, ino­va­dores e in­flu­entes da Eu­ropa». Daí, cer­ta­mente por acaso, surge o «novo» pro­grama sobre «de­fesa da fa­mília, se­gu­rança, al­te­ração do sis­tema fiscal, re­visão da CRP, novo sis­tema po­lí­tico e elei­toral», mais um «re­bran­ding da imagem, lin­guagem cro­má­tica e mar­ke­ting ar­ro­jado», e entre ou­tros, um «vice», Abel Matos Santos, de­fensor da PIDE e de Sa­lazar. Eis a «nova ge­ração» e a «nova di­reita».

Como se vê, o ca­pital mo­no­po­lista usa as forças ao seu dispor como lhe convém e, em di­fi­cul­dades, ameaça com o proto-fas­cismo, já foi assim e até já foi pior, em de­mo­cracia. E o que im­porta é dar-lhe com­bate, na pro­posta e no es­cla­re­ci­mento, e não lhe fazer o jeito do em­po­la­mento, como ou­tros fazem.

Aqui e agora, é claro que a luta é para con­so­lidar o que se con­se­guiu, avançar em novos di­reitos, romper com a po­lí­tica de di­reita, do CDS, PSD e PS, e cons­truir uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda.




Mais artigos de: Opinião

Preconceito, sem técnica

Os direitos humanos, nunca é demais lembrá-lo, são universais, o que significa que são válidos para todos, sem qualquer tipo de discriminação ou diferenciação; estão inter relacionados, ou seja, a falta de um pode pôr em causa todos os outros; são inalienáveis: ninguém pode abrir mão dos seus direitos; e são...

«Acordo do Século» e crimes de guerra

É preciso estômago – tal o cinismo da coisa – mas é impossível ignorar o Acordo do Século avançado por Trump. É certo que os poucos aplausos que recebeu se restringem sobretudo ao sionismo mais radical. Mas o martírio da Palestina arrasta-se sob a contemporização de muitos outros estados. Vários (incluindo a UE no seu...

Os bárbaros

Na Antiguidade, os gregos cunharam o termo bárbaro para designar todos quantos falassem outras línguas, para si incompreensíveis. Eram bárbaros povos tão avançados quanto os persas, os fenícios, os egípcios. Já os romanos (eles próprios bárbaros para os gregos) alargaram o âmbito do conceito para todos os estrangeiros...

Valorizar o Trabalho e os Trabalhadores. Não à exploração!

É na ex­plo­ração que o ca­pi­ta­lismo as­senta o seu fun­ci­o­na­mento. Por mais voltas que se lhe dê, nestes sé­culos que le­vamos de sis­tema ca­pi­ta­lista, con­firmam-se a cada dia que passa os seus prin­ci­pais traços e o seu ca­rácter.

Trapaça do Século

O «plano do Século» apresentado na semana passada pelo Presidente Trump e por Benjamin Netanyahu, primeiro-Ministro em gestão corrente de Israel, rasga duma assentada sete décadas de resoluções da ONU sobre a questão palestiniana e até os acordos, como Oslo, promovidos sob a égide dos EUA. Concebido, escrito e...