Boston-Lisboa-Caracas

Ângelo Alves

O caso do voo da TAP Lisboa-Ca­racas, que trans­portou Juan Guaidó e o seu «ex­plo­sivo» tio «à prova de bala» é de uma grande gra­vi­dade e evi­den­te­mente um pro­blema para Por­tugal. Só al­guém muito dis­traído é que po­deria acre­ditar que pes­soas que de­cidem cruzar duas vezes o Atlân­tico para ir de Boston para Ca­racas, em que uma delas opta por ocultar o nome pelo qual é co­nhe­cido, não têm nada a es­conder. É óbvio que ti­nham, as provas existem e já foram en­vi­adas pelo go­verno ve­ne­zu­e­lano às au­to­ri­dades in­ter­na­ci­o­nais com­pe­tentes.

Há inú­meras per­guntas por res­ponder: além de uma di­fusa con­clusão de que «não houve fa­lhas de se­gu­rança», o que diz o re­la­tório ci­tado pelo Go­verno? Houve ou não trans­porte de ma­te­riais não au­to­ri­zados? Se não, porque é que o Go­verno por­tu­guês não diz tex­tu­al­mente que Ca­racas está a mentir e não apre­senta tes­te­mu­nhas e provas disso? Guaidó e as pes­soas que com ele vi­a­jaram ti­veram ou não tra­ta­mento VIP ao nível de Chefe de Es­tado em Lisboa? Se sim, que tipo de ve­ri­fi­cação foi feita desses pas­sa­geiros e da ba­gagem do voo pro­ve­ni­ente de Boston? Os ser­viços de in­for­mação e se­gu­rança por­tu­gueses «acom­pa­nharam» ou não a vi­agem de Guaidó? Se sim, de que forma e em que parte da vi­agem? Com base em que pro­to­colo? Em co­or­de­nação, ou não, com os ser­viços se­cretos do país de pro­ve­ni­ência, ou seja, dos EUA? Que in­for­mação, e grau de de­talhe, tinha o Go­verno dessa ope­ração?

É uma evi­dência que o Go­verno por­tu­guês se meteu, ou foi me­tido, num enorme im­bró­glio di­plo­má­tico, de se­gu­rança e eco­nó­mico, e Au­gusto Santos Siva sabe disso. E é por isso que o mi­nistro que re­co­nheceu Guaidó, que teceu vá­rios im­pro­pé­rios sobre o go­verno ve­ne­zu­e­lano e que blo­queou os nor­mais ca­nais di­plo­má­ticos com o Es­tado ve­ne­zu­e­lano e as suas le­gí­timas au­to­ri­dades, foi o mesmo que agora, por força da re­a­li­dade, se viu obri­gado a re­co­nhecer que são esses os seus in­ter­lo­cu­tores, a sentar-se à mesma mesa com o seu «co­lega ve­ne­zu­e­lano» e a «ini­ciar ne­go­ci­a­ções». É o que dá meter-se com Trump e com o seu der­ro­tado fan­toche gol­pista… perde-se a face.




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