Sobre o regresso às creches

Margarida Botelho

Depois de dois meses com as es­colas en­cer­radas, num quadro em que o vírus con­tinua a ser uma ameaça, em que o clima de medo é pro­mo­vido e em que a so­lução para todos os males pa­rece ser #fi­co­em­casa, re­gressar à creche é mo­tivo de pre­o­cu­pação para todos os pais.

Já se sabe que muitos bebés que fre­quen­tavam a creche não re­gres­sarão no ime­diato. Muitos pais fi­caram sem em­prego, estão em lay-off, em fé­rias for­çadas ou em te­le­tra­balho, e poupar a men­sa­li­dade da creche dará muito jeito à di­fícil eco­nomia do­més­tica. Ou­tros terão a opção de en­con­trar so­lu­ções al­ter­na­tivas para os seus bebés. Para os que re­gressam, porque têm que tra­ba­lhar ou porque con­si­deram que a creche faz falta ao de­sen­vol­vi­mento in­te­gral das suas cri­anças, o dis­curso ge­ne­ra­li­zado é de terror.

Ainda a Di­recção-Geral de Saúde não tinha de­ci­dido nada sobre o cha­mado des­con­fi­na­mento, e já cir­cu­lava na In­ternet todo o tipo de pi­adas amar­ga­mente cor­ro­sivas sobre o re­gresso à creche, em que os de­se­nhos de bebés em jaulas eram o de­no­mi­nador comum. Ainda a DGS não tinha pu­bli­cado o guião ori­en­tador para este re­gresso, e já por todo o lado se es­pe­cu­lava sobre o ine­vi­tável trauma que este cau­saria às cri­anças.

São com­pre­en­sí­veis os re­ceios, quer dos pais, quer dos pro­fis­si­o­nais, quer das ins­ti­tui­ções res­pon­sá­veis pelas cre­ches. Nunca se viveu ne­nhuma si­tu­ação como esta, nunca as re­gras de hi­giene foram tão aper­tadas como é ne­ces­sário que sejam agora. Mas a opção de manter cri­anças de todas as idades fe­chadas em casa in­de­fi­ni­da­mente, pri­vadas de con­tacto com ou­tras cri­anças e de um tra­balho pe­da­gó­gico, não é uma opção sau­dável para as cri­anças. Nem para os pais. Ga­rantir aos pro­fis­si­o­nais e às fa­mí­lias todas as con­di­ções de se­gu­rança neste re­gresso, num clima de calma, bom senso e res­peito pelos di­reitos das cri­anças, é es­sen­cial.




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