Desembestados

Jorge Cordeiro

Não pri­mando o termo «de­sem­bes­tado» pela ele­gância ou pela frequência de uso a ver­dade é que o vo­cá­bulo se re­vela, em certas cir­cuns­tân­cias, opor­tuno. Há quem lhe baste ouvir ou pres­sentir, mesmo que ao longe, o PCP e, tiro e queda, de­sem­beste. A in­ves­tida é tal que não há bar­reira que valha ou mí­nimo de senso que o trave. É o caso de Mi­guel Sousa Ta­vares. O pre­texto, ainda que para os seus ob­jec­tivos «o que vier à rede é peixe», é o do ques­ti­o­na­mento que o PCP faz da cha­mada «ajuda» em de­bate na União Eu­ro­peia. Be­lis­cada que foi a «vaca sa­grada», ou­sado que foi não dar por bom o que de lá vem, de não nos cur­varmos de chapéu na mão a quem tendo le­vado a carne nos de­volve os ossos, e aí temos MST a acusar de se ser pobre e mal agra­de­cido. Ha­bi­tuado a querer ver o País de mão es­ten­dida MST não só cri­tica quem cri­tica a UE como ques­tiona a le­gi­ti­mi­dade po­lí­tica de quem o faz. As coisas são o que são, mesmo quando se lhes quer dar apa­rência di­versa: na can­dura da prosa, nos ren­di­lhados do texto, há sempre aquele ir­re­pri­mível pendor to­ta­li­tário que em­purra a mão para o que es­creve.

Para MST, Por­tugal só existe porque existe a União Eu­ro­peia. Se o que vier a ser des­ti­nado ao País é su­fi­ci­ente, se vai acres­centar ou não mais de­pen­dência, se e quando vamos pagar e qual o saldo real, são mi­nu­dên­cias face à «ge­ne­ro­si­dade» de Merkel e Ma­cron. MST po­deria sempre in­ter­rogar-se quanto ao pas­sivo do pro­cesso de in­te­gração, o que ele re­tirou de so­be­rania e quanta de­pen­dência acres­centou para, se­gundo o autor, o País não poder so­bre­viver por si. Nada. Não porque não tenha ca­pa­ci­dade para o fazer mas porque pre­fere en­con­trar pre­texto para des­tilar o seu rancor an­ti­co­mu­nista e, não menos im­por­tante, fazer prova de vida junto do grupo eco­nó­mico que lhe acolhe os textos.




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