Da farsa à ingerência, sem surpresa

João Pimenta Lopes

Está a decorrer mais uma sessão plenária do Parlamento Europeu. Mais uma vez, e não obstante os tempos ainda de confinamento e fortes restrições à participação dos deputados na sessão, a agenda é cheia com temas não pouco importantes. É o caso da posição do Parlamento para o Orçamento da UE para 2021, que cumpre o papel de uma aparente proposta mais ambiciosa, mas que é insuficiente face às necessidades e sem se desviar (sem surpresas de resto) das políticas da UE servis aos interesses das grandes potências e dos grandes grupos económicos e financeiros. Sobre esta, os deputados do PCP no PE voltaram a afirmar as propostas que temos apresentado em semanas anteriores.

Há ainda dois outros documentos que merecem referência. Recuperando o debate iniciado no final do ano passado, em torno de uma dita Conferência sobre o Futuro da Europa, o PE lançou uma resolução procurando reanimar um processo que ficou suspenso. Ao fazê-lo, assume o protagonismo de validar uma farsa que está a ser montada, como já em Janeiro havíamos denunciado. A dita Conferência trata-se de um embuste que procura atribuir uma aparência democrática ao processo de integração capitalista europeu (a UE) que desprezou e afrontou a vontade expressa pelos povos sempre que esta foi contrária aos interesses dos que conduzem o rumo da União Europeia. Assim foi, recordemos, com a imposição do Tratado de Lisboa, após o tortuoso caminho para uma dita constituição europeia rejeitada por sucessivos resultados de referendos que foram desrespeitados, senão até evitados. Tratado de Lisboa que representou um salto nos pilares da UE, neoliberal, militarista e federalista, contrário aos direitos, interesses e aspirações dos trabalhadores e dos povos, com graves prejuízos para países como Portugal. O que esta conferência pretende é legitimar esse salto e aprofundar os seus objectivos e políticas que estão na origem do agudizar das desigualdades sociais, do aumento das assimetrias de desenvolvimento e do aumento de relações de domínio/dependência entre países. Uma farsa que denunciámos com várias alterações identificadas com a defesa de outro rumo, de uma outra Europa dos trabalhadores e dos povos que está por construir.

Não seria esta uma sessão normal, se não tivesse ainda um elemento de ingerência direccionado aos vilões do costume. Desta feita o alvo foi a China, tentando-se desta forma desviar atenção da profunda crise económica e social na União Europeia, da ressaca das consequências do surto epidémico e de uma solidariedade que não foi mais que uma luminária fundida nos corredores de Bruxelas. Retoma assim o PE a temática de Hong Kong, numa resolução inenarrável, de ingerência sobre assuntos internos da República Popular da China, que distorce grosseiramente realidade e acontecimentos, perfumada de um bafio colonial, a par de um alinhamento escandaloso com a política agressiva dos EUA contra a China. Também aqui foi pela voz dos deputados do PCP no PE que se afirmou o respeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, incluindo o respeito pela soberania, independência e integridade territorial da República Popular da China.




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