A verdadeira vitória dos povos do Sahel

Carlos Lopes Pereira

A agressão militar dos EUA e seus aliados da NATO à Líbia, em 2011, sabe-se, destruiu a unidade do Estado africano, fomentou guerras intestinas que perduram, abriu caminho a ingerências estrangeiras, arruinou um dos países mais desenvolvidos da África. Provocou o «caos controlado», tal como era objectivo dessa e de outras intervenções do imperialismo norte-americano, desde o Afeganistão e Iraque ao Iémen e à Síria, para mais facilmente saquear e pilhar as riquezas dos seus povos.

No caso líbio, outra consequência da agressão imperialista foi a desestabilização do Mali e de toda a faixa do Sahel. Quase uma década volvida, sublevações separatistas, actividades de grupos terroristas, conflitos inter-étnicos e a presença de tropas estrangeiras, tudo isso com elevado número de vítimas e de pessoas deslocadas, caracterizam hoje a situação numa sub-região rica (petróleo, ouro, urânio…) mas onde alastra a pobreza e se aprofunda a dependência.

Os povos resistem, é certo. No Mali, por exemplo, tem havido manifestações que mobilizam dezenas de milhares de cidadãos em protestos de rua contra a insegurança e o desemprego. O presidente maliano, Ibrahim Boubakar Keita, muito contestado, foi forçado a reunir-se, há dias, em Bamako, com o imã Mahmoud Dicko, líder do movimento contestatário, para tentar resolver a crise.

Neste contexto, realizou-se, a 30 de Junho, em Nouakchot, mais uma cimeira entre a França e o G5 Sahel (Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade), seis meses depois de uma reunião do mesmo tipo, em Pau, nos Pirenéus franceses, onde fora decidido «intensificar a luta anti-terrorista».

O objectivo, agora, foi o de «continuar a avançar com uma agenda comum para a zona», onde a França tem um dispositivo militar de mais de cinco mil soldados, a denominada Operação Barkhane. Além disso, permanecem no Mali a missão da ONU (Minusma), com 14 mil membros, e conselheiros militares da União Europeia, ao mesmo tempo que se procura criar uma força conjunta do G5, com mais cinco mil efectivos.

Assistiram à cimeira na capital mauritaniana os presidentes sahelianos Mohamed Ould Ghazouani, o anfitrião; Ibrahim Keita (Mali); Roch Kaboré (Burkina Faso); Mahamadou Issoufou (Níger); e Idriss Déby (Chade). Estiveram também presentes o presidente francês, Emmanuel Macron; o chefe do governo espanhol, Pedro Sanchez; o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Mahamat; e a secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia, Louise Mushikiwabo. Participaram, via vídeo-conferência, a chanceler alemã, Angela Merkel; o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte; e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

No final da Cimeira de Nouakchot, Macron sugeriu que Paris e os seus aliados tinham conseguido, nos últimos meses, do ponto de vista militar, «inverter a relação de forças» na luta contra os grupos de djihadistas e garantiu que «a vitória é possível no Sahel».

Ver-se-á se se confirma o optimismo do presidente francês. Mas é certo que a verdadeira vitória dos povos sahelianos e saarianos será o fim das guerras e a retirada das tropas estrangeiras, o estabelecimento duradouro da paz e a criação de condições para o desenvolvimento dos seus países, com o reforço da soberania e o fim das dependências neo-coloniais.




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