A Festa do «Avante! pode ser um bom arranque para o sector
FADO Experimentada nos grandes palcos e portadora de uma carreira invejável, Aldina Duarte considera que os novos moldes da Festa do «Avante!» não prejudicarão o seu espectáculo. O que assusta a fadista é a ausência de uma política cultural capaz de defender os profissionais do sector dos sobressaltos.
Além dos temas de «Roubados», Aldina Duarte leva fados de outros discos
Traz a esta edição da Festa do «Avante!» a apresentação ao vivo do seu oitavo álbum de estúdio. O que é que pode antecipar sobre o espectáculo?
O meu concerto terá um alinhamento centrado no meu último disco, «Roubados», mas incluirá alguns dos temas dos discos anteriores, desde os mais conhecidos até aos que me parecem retratar os tempos estranhos que estamos a viver.
É reconhecida pela sua proximidade ao fado na sua versão mais pura, destinado a espaços mais intimistas. Já trouxe no entanto à Festa vários espectáculos criados para grandes palcos, que de resto domina com mestria. Contudo, este ano o palco será completamente aberto. Isso obriga a reconfigurar o concerto? É desafiante também nesse sentido?
Conhecendo o público da Festa do Avante, como julgo conhecer, não haverá motivo para não confiar no silêncio e envolvimento que o meu fado proporciona, ou seja, quem vai aos concertos na Festa do «Avante!» tem uma relação forte com a música dos espectáculos a que escolhe assistir.
Como vê os efeitos da epidemia na Cultura e a resposta que foi dada aos pedidos dos artistas e criadores, muitos dos quais atravessam graves dificuldades?
Foi trágica para uma grande parte dos trabalhadores deste sector, não só os artistas. Ainda não consigo ter uma visão clara dos efeitos a nível criativo, não há tempo nem distância suficientes. Mas, socialmente, é grave pensar que não há uma política cultural estruturada para garantir, em momentos de grandes crises, um rendimento mensal, de acordo com os descontos desses trabalhadores ao longo das suas carreiras, mas nunca menos do que o ordenado mínimo, tendo em conta o agregado familiar, por exemplo, a todos os que estão privados de exercer o seu trabalho.
Face ao quadro vivido nos últimos meses, em que se verificou uma redução drástica da oferta cultural que é tão necessária às pessoas, como encara esta edição da Festa do Avante!? Assume alguma importância e significado particular?
Estando a Festa do «Avante!» a ser organizada em conformidade com a Direcção-Geral da Saúde, sendo que cada pessoa é livre de escolher ir ou não ir, creio que pode ser um bom arranque para o nosso sector e para todos os envolvidos, desde a montagem da Festa até ao público.
Falando de futuro. Há já algum projecto novo em gestação?
Neste recomeço, quero muito disfrutar dos concertos agendados com o meu novo disco «Roubados». Tenho estado literalmente recolhida desde que a pandemia se instalou, aproveitando para escrever, sobretudo, e, sim, projectando novos trabalhos, não só para mim. E mais não posso revelar...