UE: contínua afronta à soberania dos povos
A semana que passou foi prolífica em pronunciamentos das instituições da UE sobre assuntos externos. Por todos eles perpassa o desrespeito da UE pela soberania e o direito internacional, pela vontade dos povos, e fica bem evidente a sua estratégia de interferência, desestabilização e até agressão, em função dos interesses geoestratégicos das suas grandes potências e, não esqueçamos, em total alinhamento com os objectivos da NATO.
A 9 de Agosto Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, dava nota do «apoio» da UE ao Líbano, já mobilizado ou por mobilizar. «Apoio» com aspas. O «apoio», a «solidariedade» da UE sempre precisam de aspas. Porque em nenhum caso são oferecidas com efectivo espírito de solidariedade, mas sempre de forma condicional. Charles Michel rematava a sua intervenção com as condições para esse apoio, replicando as afirmações de vários dos líderes das grandes potências europeias ou dos EUA: «um programa de reformas [estruturais] credível, nomeadamente no sector financeiro, no sector da energia e no que toca ao combate à corrupção. […] celebrar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, a fim de ajudar a colocar o Líbano […] rumo a um futuro económico mais brilhante». Um «futuro brilhante» não para o povo do Líbano, mas para os agiotas do capital transnacional, ao mesmo tempo que procurem aproveitar a desgraça para satisfazer os interesses geoestratégicos de um país que faz fronteira com a Síria e Israel.
A 11 de Agosto um tema que por certo protagonizará uma resolução na sessão plenária de Setembro do Parlamento Europeu: a Bielorrússia. Não são novos os arremessos contra a Bielorrússia, como não é nova a narrativa usada sempre que se pretende justificar a interferência sobre a Bielorrússia, servindo os interesses de apertar o cerco à Federação Russa: «as eleições não foram livres nem justas». Três dias depois, os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-Membros da UE reuniram, afirmando o «apoio à população e ao seu desejo de mudança democrática», a rejeição dos resultados das eleições, e a possibilidade de impor sanções.
Nada de novo nesta estratégia, já aplicada contra a República Bolivariana da Venezuela. A 12 de Agosto, a Comissão Europeia reiterava as sanções impostas a 29 de Junho contra mais 12 cidadãos daquele país (onde figuram membros da oposição – já nem essa lhes serve), que motivariam em Julho uma resolução inenarrável do Parlamento Europeu contra a Venezuela e a vontade soberana do seu povo.
A 15 de Agosto, um pronunciamento da Comissão Europeia sobre o estreitamento de relações entre Israel e os Emiratos Árabes Unidos, onde, referindo-se à questão palestiniana e à solução de dois estados, branqueia a agressão de Israel ao povo Palestino e a sua sistemática violação do direito internacional.
Esta é mais uma das frentes da intervenção dos deputados do PCP no Parlamento Europeu. A defesa do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas, a defesa da soberania dos povos e o respeito pelo princípio da não intromissão em assuntos internos dos países. Uma defesa que começa pela afirmação da soberania do nosso próprio país!