Golpe de Estado militar promete «um novo Mali»

Carlos Lopes Pereira

O presidente da República do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, anunciou pela televisão, na terça-feira, 18, que renunciou ao cargo para evitar derramamento de sangue. Afirmou também que vai demitir o governo e dissolver o parlamento.

Ibrahim Keita e o primeiro-ministro Boubou Cissé, assim como oficiais de alta patente e ministros, foram presos por militares sublevados. Em Bamako, a capital, os revoltosos confraternizaram com manifestantes da oposição que exigiam nas ruas o afastamento do chefe do governo e a demissão do presidente. Os opositores ao governo, incluindo forças políticas e religiosas, estão reunidos no M5-RFP (Movimento 5 de Junho – Agrupamento de Forças Patrióticas), liderado pelo imã Mahamoud Dicko.

As Nações Unidas, a União Africana, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), a União Europeia e a França – antiga potência colonial, que tem sido acusada de ingerência nos assuntos internos malianos por apoiar Keita e Cissé – condenaram o golpe militar e exigiram a reposição da ordem constitucional bem como uma solução negociada e pacífica. O Conselho de Segurança da ONU, abordará nesta quinta-feira a crise no Mali, numa sessão de emergência pedida pela França e pelo Níger, que preside à Cedeao.

Até os Estados Unidos, com larga experiência em golpes de Estado, em África e no mundo, criticaram qualquer mudança de governo que não cumpra a Constituição maliana, isto de acordo com o enviado especial norte-americano para o Sahel, Peter Pham.

Relatam as agências que o golpe terá começado com uma sublevação na base militar de Kati, a 15 quilómetros de Bamako. Já depois de concretizado, os militares anunciaram a constituição de um Comité Nacional para a Salvação do Povo e prometeram uma transição que conduza a eleições gerais num «prazo razoável».

Numa declaração pela televisão pública, um porta-voz dos golpistas, coronel Ismaël Wagué, até agora vice-chefe do estado-maior da força aérea, explicou que «militares patriotas» decidiram «assumir as responsabilidades perante o povo e a História». Disse que o Mali «afunda-se dia após dia no caos, na anarquia e na insegurança, por culpa dos homens encarregados do seu destino» e denunciou o «clientelismo político» e «a gestão familiar dos assuntos do Estado». Apelou à sociedade civil e às forças políticas a juntar-se aos militares para lançar as bases de «um novo Mali». Garantiu o respeito por todos os acordos internacionais, pediu o apoio das organizações internacionais e a afirmou que a Minusma (missão da ONU no Mali), a Operação Barkhane (tropas francesas), o G5 Sahel (grupo de cinco países da sub-região) e a força Takuba (tropas especiais de países da União Europeia) «continuam a ser nossos parceiros».

Desde Junho que Ibrahim Keita, um aliado incondicional de Paris, enfrentava manifestações de rua a exigir a sua demissão e a do governo, considerado pela oposição «corrupto» e «incompetente».

O Mali vive uma profunda crise política, social e económica, agravada, entre outros problemas, pelos ataques de grupos jihadistas, cuja actividade tem crescido apesar dos milhares de soldados malianos e estrangeiros presentes no país africano.

É claro que golpes de Estado não serão a solução. Terá de ser o povo do Mali a tomar nas suas mãos o processo de reconquista da paz e de construção do desenvolvimento.




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